Autor: Luis Felipe Cortoni
Grupos, equipes e times. Nomes e conceitos que nunca deixaram de estar presentes no mundo organizacional. De tempos em tempos, estas expressões ganham/perdem força e até, às vezes, se transformam em saídas mágicas para problemas iminentes. Nos dias de hoje, aparecem comumente associadas a processos de reestruturação e/ou transformação das organizações. Quer dizer, os conteúdos preferenciais das mudanças organizacionais mais recentes privilegiam ou, no mínimo, se apoiam na organização do trabalho em torno de equipes. No entanto, até este momento os teóricos e as organizações estão, digamos assim, reeditando e atualizando algo que conhecem faz muito tempo, ou seja, a lógica do trabalho em grupos e suas vantagens em alguns contextos e momentos organizacionais.
Porém, as vicissitudes da globalização, hoje incontestável, estão sugerindo ou até impondo novas modalidades de trabalho e de gestão às organizações, que estão sendo tentadas e testadas sem que tenhamos, até este momento, uma avaliação mais precisa de resultados. Este parece ser o caso dos chamados Grupos Virtuais. Jamais pensados e/ou concebidos em contextos passados, agora começam a aparecer e amadurecer, desafiando inclusive tudo o que conhecíamos (será?) sobre a realidade dos grupos dentro das organizações. Para usar a expressão, já um tanto fora de moda, os grupos virtuais são a verdadeira quebra dos paradigmas neste assunto, sob o patrocínio da globalização. Afinal o que são?
Segundo algumas poucas bibliografias disponíveis, e muitas experiências práticas em andamento, o grupo virtual tem tudo o que os grupos tradicionais têm. Sua diferença está na forma como seus membros se vinculam, se relacionam, se articulam em torno do objetivo, ou seja, a diferença está basicamente nos seus “links”. Assim, diferentemente dos grupos convencionais, o grupo virtual trabalha além das fronteiras organizacionais, com “links” fornecidos, facilitados e fortalecidos por tecnologias de informação. Alguns exemplos de grupos virtuais (do tipo que articulam pessoas da mesma empresa, porém de países diferentes) são encontrados em praticamente todos os projetos regionais e globais de empresas globalizadas: grupos de compras, grupos de inovação, grupos de implantação de bases tecnológicas, grupos de harmonização de produtos etc…
Será possível vincular-se a outras pessoas, em torno de um objetivo comum somente através de meios eletrônicos? Existirão vínculos neste caso? Parece que a resposta a estas perguntas é sim, porém será preciso estudar mais e compreender mais as experiências atuais com estes grupos. Já existem, por exemplo, metodologias que podem facilitar o lançamento de um grupo deste tipo, para que ele possa posteriormente, de fato, desenvolver e consolidar suas características virtuais.
Outra diferença fundamental deste tipo de grupo em relação aos grupos convencionais está principalmente nos seus processos internos – interpessoal, lógico e formal – e na existência de um processo cultural que aparece com maior nitidez, e muitas vezes como variável determinante, do seu sucesso. Algumas características de seus processos podem ser:
Processo Interpessoal
– na formação do grupo: pouco vínculo interpessoal; maior parte dos integrantes são estranhos entre si; alguns são colegas; alguns são amigos; outros se falavam por telefone; e outros são inimigos.
– nível de conflitos mais baixo no momento virtual, mais alto no face a face.
– necessidade de criar vínculos específicos que sustentem a relação virtual.
– processo de relacionamento interpessoal muito vulnerável, necessidade de mais tempo para consolidá-lo.
– graus de envolvimento e compromisso sempre sujeitos a diminuir, por conta das distâncias, da virtualidade e das exigências matriciais.
– necessidade de basear os relacionamentos em relações altamente confiáveis entre os membros, sem o face a face cotidiano.
Processo cultural
– diferenças culturais marcantes entre membros, problemas de etnocentrismo e preconceitos afloram mais visivelmente.
– diferenças no tamanho e importância dos países envolvidos e dos respectivos negócios da empresa em cada país.
– presença de idiomas diferentes.
– diferenças nas práticas e procedimentos discutidos segundo os países de origem, apesar de pertencerem à mesma empresa.
– presença de hierarquia formal no país de origem que nem sempre compreende as necessidades ou apóia o projeto global/regional.
Processo Lógico
– necessidade de inovação e criatividade em contexto de realização complexo.
– conteúdos realizados muito lentamente.
– necessidade de conhecer ferramentas de trabalho específicas: tecnológicas, de inovação, de informática.
Processo Formal
– necessidade de clareza e compreensão máximas dos objetivos.
– necessidade de clareza e compreensão máximas dos papéis e contribuições de cada participante.
– necessidade de um coordenador que centralize algumas atividades.
– necessidade de investir muito na formalização (procedimentos, regras internas, objetivos, distribuição de papéis, organização do trabalho…) do trabalho do grupo.
– alta interdependência na tarefa e pouca no resultado final (na implantação de resultados).
– trabalho fortemente apoiado por ferramentas eletrônicas: necessidade de desenvolver mecanismos de interação/cooperação eletrônica.
Em resumo, pode-se perceber, através destas características descritas, muitos aspectos desconhecidos, muita novidade, muita complexidade para ser gerenciada em todos os processos deste tipo de grupo, que indicam a sua dificuldade de se manter e de realizar resultados.
Sabemos, desta forma, que estamos lidando com um grupo especial, que vai demandar tratamento diferenciado para suas necessidades de funcionamento. Portanto, exigirá dos responsáveis por eles – sejam seus coordenadores ou profissionais por RH – um repertório de competências específicas para formá-los, mantê-los, e desenvolvê-los.
Luis Felipe Cortoni é professor da Fundação Vanzolini (USP) e sócio-diretor da LCZ Desenvolvimento de Pessoas e Organizações.