Autora: Rose Russowski
“Não é sobre empoderar mulheres. É sobre não atrapalhá-las com seu julgamento superficial!”. Muitos podem achar exagero, mas as mulheres ainda são cobradas para adotarem padrões de comportamento, como ser uma profissional exemplar e eficiente, boa mãe, esposa etc. Lembro de um relacionamento que declinou no momento em que ele me perguntou se eu cozinhava e mediante ao meu objetivo não, disparou: mais é importante uma esposa saber cozinhar para esperar pelo marido com o jantar pronto.
Convenções à parte, eu descobri que minha vocação sempre teve um “Q” de defesa de gênero. A mais nova de três filhos, única menina, tive que desenvolver desde cedo minha habilidade de ser ouvida. Senão, nunca era o meu programa que seria escolhido. Nas intermináveis viagens à praia, não teria direito de sentar à janela por ser mais baixa e passaria esmagadoras seis horas no meio do banco de trás. A lição disso é que lutar para ter voz e ser protagonista da própria história pode levar a uma verdadeira transformação, tanto no nível pessoal quanto no profissional.
Afinal, a desigualdade de gênero, tratamentos e também de salário começa dentro de casa. Quando pequena a menina é ensinada que a brincadeira adequada é cozinhar no fogãozinho e cuidar da boneca como uma boa mãe faria. Já o menino é elogiado pela sua esperteza e agilidade com objetos manuais. Tal realidade reflete no mercado de trabalho, no qual a mulher é valorizada por ser amigável, prestativa e trabalhadora, mas pouco no que diz respeito às suas habilidades de liderança e visão estratégica.
De acordo com dados da PNAD Contínua – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, elas são a maioria nas funções domésticas (93%), professoras do ensino fundamental (84%), em cargos de limpeza (74,9%) e em centrais de atendimento (72,2%). Já em posições de direção, as mulheres figuram em apenas 41,8% e ainda possuem em média salários menores, em torno de 20,5%.
Mas, como mudar essa realidade? É preciso que cada personagem do ambiente organizacional faça a sua parte. As empresas devem investir em programas de desenvolvimento e promoção das mulheres em cargos de liderança. E as profissionais, por sua vez, necessitam deixar de lado comportamentos autossabotadores, como não acreditar no próprio potencial; deixar de pensar na carreira a longo prazo; manter os seus pontos fortes e sucesso em segredo; lutar para ser uma mulher-maravilha, dentre tantos outros.
Assim, elas de fato começarão a tomar as rédeas da própria carreira e da vida como todo, através dos seus relacionamentos. E para aquelas que já foram mães é fundamental mostrar que a maternidade pode ajudar a aprimorar habilidades como liderança, criatividade e visão sistêmica. E isso pode ser comprovado! Em pesquisa realizada pelo Federal Reserve Bank ofSt Louis, nos EUA, com mais de 10 mil mulheres durante 30 anos, mostrou que as mães são as funcionárias mais produtivas.
Enfim, é preciso sempre lembrarmos que estamos numa jornada e, nós mulheres, que já somos inegavelmente poderosas por gerar a vida, temos um palco a ocupar! Mesmo que, parafraseando Gilberto Gil, algumas vezes subamos neste palco cheirando a talco de bumbum de bebê…
Rose Russowski é diretora da consultoria Lee Hecht Harrison na Região Sul.