Até meados do século passado, não se esperava das empresas mais do que cumprir com suas obrigações básicas: fabricar bons e confiáveis produtos a preços justos, pagar salários compatíveis para os funcionários e cumprir com as obrigações fiscais. As companhias eram ilhas impessoais, estanques da sociedade.
Felizmente, as coisas mudaram muito. Agora, além de cumprir com as obrigações legais, as corporações estão saindo dos casulos e arregaçando as mangas a fim de colaborar para uma vida melhor de toda a sociedade. De fato, não importa se pressionadas por uma nova visão do consumidor – exigente não só em relação à qualidade e preço do produto, mas também com a participação das empresas na sociedade e no meio ambiente – ou se despertadas para a realidade do mundo que as cerca, as companhias assumiram sua parcela de responsabilidade para fazer diferença no seu tempo/espaço.
Foi o que se denominou de responsabilidade social. Que, em última análise, nada mais é do que não assistir impassível à avalanche de desafios. É não dar de ombros para questões que ultrapassam os limites da cadeia de negócios, como as diferenças sociais, o respeito à diversidade e a preservação do meio ambiente.
Empresas são formadas por pessoas. A responsabilidade social, hoje, parte do próprio negócio, transcende o próprio negócio. E têm surtido bons resultados, com ações importantes que contribuem para solucionar, pelo menos em parte, os desafios da sociedade. Tais ações provaram ser especialmente eficientes quando focadas em áreas específicas e não dispersas em iniciativas pontuais em diferentes setores. Mais do que isso: os programas atingem os objetivos quando apostam nas potencialidades dos beneficiários e não em suas carências, no desenvolvimento contínuo das pessoas e não em doações financeiras ou em investimentos de infra-estrutura. A grande diferença é a valorização do ser humano como agente de mudança.
No entanto, por melhores que sejam os resultados das ações de responsabilidade social, a maioria das corporações, ao primeiro sinal de crise, diminui a ênfase de atuação. Exatamente quando os desafios sociais tendem a se agravar.
É preciso mudar essa postura, pois são justamente os momentos difíceis os mais propícios para as empresas consolidarem a atuação social, beneficiando a sociedade e, ao mesmo tempo, agregando valor à imagem corporativa. É preciso deixar de lado a visão imediatista e pensar a longo prazo, comprometer-se com o desenvolvimento sustentável. Afinal, a companhia que ignora a responsabilidade social está fechando os olhos para o futuro.
Carlo Lovatelli é vice-presidente da Fundação Bunge.