Quando reinventar a roda é necessário e desejável…


Rogéria Taragano

Como desenvolver pessoas? Como trabalhar com o comportamento humano de forma efetiva? Como motivar participantes de programas que já fizeram de tudo em termos de treinamento? Sim, pois sabemos que não são poucos os que já subiram em árvores, desceram cachoeiras, velejaram, fizeram rally, escalaram montanhas ou simplesmente entediaram-se nas salas de aula e no ar-condicionado gelado das conferências. Não são poucos também os que já se perguntaram se tudo isso é mesmo preciso em nome do bom clima organizacional, do empowerment, da sinergia, do trabalho em equipe, enfim, em nome das constantes demandas corporativas. Parece que a resposta para a última questão é “sim”, tudo isso é preciso.

Sabemos ainda, que no paralelo, todos os dias, homens e mulheres, gestores de pessoas, consultores, gerentes de desenvolvimento humano (ou os antigos gerentes de Treinamento) vêem-se diante de uma questão procedente. Como transmitir de forma interessante, original e efetiva os diversos conteúdos considerados relevantes para os funcionários de organizações interessadas em mensurar o retorno do investimento no desenvolvimento do seu pessoal ou, pelo menos, de vê-lo refletido no aumento dos seus lucros?

Trabalhar com a educação de adultos é uma tarefa que exige a mistura certa de dois elementos. O primeiro é o conteúdo adequado, que deve ser oferecido com a profundidade que agrega. O outro é a abordagem que impacta e emociona sem ser piegas e, ainda, sem infantilizar ou subestimar o receptor da informação.

Portanto, uma empreitada que exige preparo, pesquisa e alguma dose de ousadia para não cair na mesmice. Muitas organizações e universidades, principalmente no exterior, têm optado por misturar a abordagem da sala de aula com as atividades experienciais ao ar livre para fortalecer o entendimento de conceitos. E fazem isso de forma lúdica (sim, pois o adulto também gosta disso), para que esses conteúdos sejam assimilados não só de forma cortical, mas também vivencial. A crença por trás desses programas é de que o ser humano não aprende mais, ou melhor, de forma unicamente cognitiva, mas, sim, quando todos os sentidos são estimulados ao mesmo tempo. Dessa forma, acredita-se que o aprender pode se dar por meio dos desafios e das descobertas não só intelectuais, mas também físicas, emocionais e por que não dizer também sociais?

Não é à toa que os mais renomados centros de referência em educação de adultos, nos diversos campos, têm lançado mão dessa estratégia. Segundo Michael Useem, professor de Administração e diretor do Center for Leadership and Change da Wharton School, Universidade da Pensilvânia-EUA), “…mesmo os currículos mais elaborados, baseados em teoria, não conseguem obter o resultado que deveriam quando se trata de aprimorar as principais habilidades dos líderes… Por isso a escola onde leciono resolveu não se ater às salas de aula e criar algumas experiências reais nas quais os alunos pudessem aprender pela própria experiência…”. A mesma preocupação pode ser observada em programas desenvolvidos pela Insead, em seus cursos de Educação Executiva ou, ainda, nas iniciativas da London Business School, preocupada em formar líderes que não só tragam as necessárias competências técnicas, como também inspirem e motivem os liderados.

Parece, portanto, que alguns dos ingredientes da fórmula já foram encontrados. No entanto, o pulo do gato ainda está em como dosá-los com maestria e elegância. Equilibrar o conteúdo conceitual, para que seja adequadamente “digerível” por meio do treinamento experiencial, é uma arte. Já se sabe que, ao final de um programa, o importante é que não se chegue à superficialidade em nome da inovação, mas que se obtenha real aprendizado ou mudança comportamental com alguma emoção. Afinal, a vida (mesmo a corporativa) é muito curta e precisa ser vivida plenamente e, de preferência, com bom humor e inteligência.

Rogéria Taragano é diretora da Gecko SocioAmbiental & Outdoor Consulting.

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