Revolução das práticas do RH

Autor: Cesar Marinho
Ainda que os atuais cenários político e econômico no Brasil não inspirem grandes investimentos por parte das empresas, o mercado continua demandando iniciativas rápidas e certeiras para que as companhias não percam o ritmo de seus negócios. Um exemplo dessa demanda, e principalmente dos clientes e consumidores, é a transformação digital, uma tendência que não pode ficar de fora do planejamento, especialmente quando o assunto são companhias globais.
O IDC destacou esse movimento recentemente ao publicar uma série de previsões voltadas à tecnologia da informação e à transformação digital para os próximos anos. O instituto concluiu que, cada vez mais, essas questões sairão das mãos dos CIOs e se tornarão prioritárias também para todos os decisores. Isso significa que a inovação continuará se fortalecendo dentro das empresas e exigindo de cada departamento mais sincronia com novas iniciativas – como os já conhecidos negócios conectados, automação de processos e uma verdadeira revolução no modelo de trabalho.
E quando falamos da área de Recursos Humanos não é diferente. A tecnologia revolucionou as ferramentas e os sistemas utilizados pelos profissionais que atuam nessa frente. Eles são vitais para as empresas e precisam de um apoio cada vez mais conectado e global e que permita um olhar atento e amplo ao que acontece no dia a dia dos colaboradores e das companhias.
E por que isso é importante?
Quando falamos sobre gestão de pessoas, não contemplamos apenas o registro de funcionários e a emissão de folhas de pagamento, mas toda a gestão de talentos, segundo as demandas de cada empresa. E o mercado também impulsiona uma expectativa ainda maior na capacidade dos profissionais de RH, para que consigam levar às companhias profissionais qualificados e com bagagem de conhecimento suficiente para acompanhar essa verdadeira disrupção nos modelos de trabalho.
Para tanto, o RH tem mudado algumas de suas práticas. Dentre elas, a maneira como lida com um grande volume de informações – o tão falado Big Data – e como seleciona os principais talentos para auxiliar no crescimento de seus negócios de maneira local e global. Um exemplo é o Grupo Pão de Açúcar que a partir da tecnologia do chamado people analytics passou a avaliar padrões de desligamento de empregados, a tomar decisões a partir de informações sobre o desempenho de seus colaboradores em cada unidade, além de entregar maior transparência e eficiência em sua gestão.
O people analytics auxilia as empresas a organizar informações dos trabalhadores, e permite a análise de riscos, a seleção dos melhores candidatos, a identificação de tendências intrínsecas à alta performance de vendas, a previsão de riscos ligados ao compliance, a análise de taxas de engajamento e cultura das empresas, além da identificação de futuros líderes em potencial.
O Love Mondays, espaço online para avaliação de empresas, é outro exemplo de como o grande volume de informações influencia no desempenho e nas práticas dos profissionais de RH. A partir de informações registradas por diferentes colaboradores no portal, as empresas avaliadas podem conferir pontos importantes para trabalhar melhor, obter insights acerca de projetos futuros e revisar suas práticas junto aos gestores. E, assim, avançar em seu desenvolvimento com um feedback obtido a partir de quem faz parte de sua cultura.
A Deloitte reforçou a importância dessas práticas com a pesquisa “Tendências de Capital Humano 2016”, que mostra que no último ano a porcentagem de companhias que acreditam no desenvolvimento de modelos inovadores – a exemplo do people analytics – cresceu um terço, passando dos 24 para os 32%. No Brasil, os números são mais animadores, já que 77% das companhias estudadas analisaram essa tecnologia como “importante” ou “muito importante” para seus departamentos de RH.
Mas, além do Big Data, outras tendências impactam diretamente na atuação do departamento e tornam mais urgente a adoção de tecnologias especializadas e que endereçam as novas necessidades. Uma pesquisa da Constellation Research publicada em agosto e intitulada “Demystifying the Secrets of Global Human Resources” lista algumas das obrigações do RH em um mercado globalizado. Destaco três premissas importantes sobre alguns dos fatores que impulsionam a adoção de soluções cada vez mais inovadoras, que estão chamando a atenção das companhias e colaborando para seu desenvolvimento no atual contexto econômico:
A gestão de colaboradores exige cuidados específicos. Com mais mão-de-obra disponível em determinados territórios de atuação e a escassez em outros, algumas empresas optam por deslocar seus colaboradores entre suas unidades. Assim, aproveitam-se talentos que já estão alinhados à  sua cultura, e que podem responder por demandas específicas. As soluções globais de RH, nesse caso, fornecem uma visão mais detalhada dos empregados, facilitando essa iniciativa. Pode-se, por exemplo, identificar capacidades, expertises, e como cada um pode auxiliar no desenvolvimento da companhia de acordo com as novas demandas do mercado.
A redução de custos também pode ser auxiliada a partir de soluções globais. A administração de talentos, em especial em um contexto de necessidade de adaptação do número de colaboradores e redução de custos, exige uma avaliação certeira quanto aos gastos que cada área consome. O acesso a esses dados de maneira clara pode auxiliar as empresas a terem uma visão ampla e transparente da situação de cada uma de suas unidades.
A globalização aliada à transformação digital. A criação, implementação e operação de novas práticas nos negócios são impulsionadas constantemente pela transformação digital nas companhias e são preocupações recorrentes dos executivos C-level. Isso porque o estudo da Constellation revelou que empresas com estratégias digitais registraram aumento de 40 a 70% em suas receitas, tornando difícil a tarefa de atualização de quem está de fora deste barco.
Portanto, em um mercado competitivo e que exige atenção redobrada para cada investida, o RH torna-se cada vez mais determinante. A organização de informações, um olhar atento ao que acontece dentro das companhias e o foco total no capital humano podem não apenas auxiliar as empresas a se manterem equilibradas em tempos difíceis, mas preparam e suportam, de maneira estável, suas ondas de crescimento.
Cesar Marinho é vice-presidente e gerente de operações da ADP na América Latina.

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