Sinonimizando a vida

Autor: Edilson Menezes
Ninguém, em nenhuma fase ou idade, passará pela vida sob total isenção de questionamentos. Alguns profundos, outros sutis, o fato é que pode sentir-se privilegiado quem ainda tem pai vivo, pois aquele que veio antes e tem o mesmo DNA é o mestre mais completo do mundo. Foi o caso deste filho que estava confuso e resolveu pedir ajuda ao pai, vendedor profissional.
– Pai, escutei numa palestra que todos nós devemos ser vendedores. Eu detesto vendas e para mim, aquela conversa de que devemos vender a imagem e as ideias não me convence. Imagem não se vende, se apresenta. Sílvio Santos que o diga. Uma ideia não se vende, se apresenta, como faziam os grandes filósofos gregos.
O pai pensou por um instante e respondeu.
– Filho, você não é obrigado a vender nada, se o termo não te agrada. Você disse que prefere a expressão “apresentar”. Então, não seja vendedor e se torne o que você aprecia, um grande “apresentador” da imagem e das ideias que tem!
– Aí eu entro num dilema. Não tenho assim tanta habilidade para apresentar o que penso. Mesmo com as mulheres, às vezes travo e não sai nada do que eu queria dizer.
– Isso deve acontecer com muitas pessoas que não gostam do assunto “vendas”, filho. Quanto mais o ser humano resiste e desiste de vender o que pensa, tanto maior será a dificuldade de seus interlocutores entenderem o que foi apresentado e, por conseguinte, na medida em que percebe o fato de não ter sido compreendida, a pessoa se sente intimida antes mesmo de começar um diálogo.
– E o que devo fazer, então?
– Isso é você quem vai dizer. Vou dizer o que eu faria em seu lugar, se não gostasse de vender. Encontraria uma palavra que pudesse me dar conforto. Na vida, sinonimizar algo é muito mais saudável do que sofrer com o significado original, utilizado pela massa. Você pode não se sentir vendedor, mas as pessoas merecem sentir-se compradoras daquilo que você tem. Nas empresas, filho, é comum encontrar vendedores que atuam no cargo pela comissão. Muitas vezes, entraram no universo das vendas para fugir do desemprego, já que “era o que tinha”. Quando me dizem que não gostam de vender e o fazem por dinheiro, sempre sugiro que decidam entre buscar outro trabalho ou se apaixonar pelo que vende e um bom caminho é encontrar a expressão que gera conforto. Por exemplo: talvez você não seja vendedor, mas pode ser excelente negociador, articulador, transmissor, comunicador.
– E uma palavra haveria de fazer diferença naquilo que sinto, pai?
– A palavra em si não tem poder algum. Nossa percepção sobre a profundidade do significado é que faz ou deveria fazer a diferença. O bom processo de comunicação, base de tudo que é vendido, exige de quem se expressa (e não de quem recebe a mensagem) a necessidade de sentir-se bem e por isso as palavras que simbolizam nossas preferências devem ser escolhidas com zelo. Você já se perguntou por que as pessoas ficam tensas antes de uma entrevista para emprego ou por que sentem muita ansiedade antes de obter um grande objetivo?
– Não. Nunca pensei nisso!
O pai continuou seu raciocínio:
– As palavras, tanto aquelas que usamos para nos comunicar com os interlocutores, como as que escolhemos na comunicação íntima, determinam se o nosso estado interno estará tenso ou leve. Isso significa, filho, que vendemos informação para os outros e vendemos informação para nós ou, se você preferir, negociamos, articulamos informação. Se formos exitosos na comunicação externa, as pessoas aceitarão e comprarão aquilo que defendemos, seja um produto, uma ideia ou um serviço. Se formos exitosos no processo interno de comunicação, compraremos nossas ideias boas e descartaremos as ruins.
– Entendi bem o lance da comunicação externa. Pode explicar melhor esta última parte da comunicação interna, pai?
– É claro. Pensamentos geram sentimentos e a todo instante, nosso cérebro negocia a compra daquilo que pensamos, como se o pensamento fosse um grande balcão de anúncios e ofertas. Ninguém encontra a plenitude ou a depressão da noite para o dia. Para ser feliz ou entristecer-se, o ser humano passa por um longo processo de compra de ideias. Recebemos aquilo que compramos dos próprios pensamentos. Ao dispensar as ofertas do cérebro conectadas a amor, harmonia, alegria e comprar as ofertas dos pensamentos negativos como mágoa e rancor, definimos como ficará nosso estado interno e de uma coisa você pode estar certo, filho: como qualquer produto, aquilo que compramos será entregue. Quem compra mágoa e ansiedade de seu mais confiável fornecedor, o próprio cérebro, não pode esperar da vida alegria e equilíbrio. Entende a complexidade da venda, filho?
O garoto pensou por alguns segundos, fixou o olhar nos olhos do pai e disse:
– Entendi, sim pai. A comunicação é uma grande operação de venda. Agora sei que posso optar pelas compras mais assertivas, já que o cérebro fica fervilhando com ideias. Depois de conhecer esta análise, decidi que sou vendedor!
– É isso aí, filho. A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])

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