Autor: Marcelo Olivieri
Estamos presenciando uma verdadeira transformação no mercado de trabalho. O que antes era considerado um bom emprego, já não atende mais a expectativa de muitos profissionais. Por outro lado, as características e requisitos de um bom profissional também mudaram. Outro fator muito curioso é a consolidação de equipes multigeracionais, ou seja, que contém trabalhadores enquadrados nas gerações baby boomers, X, Y e a recém-chegada da geração Z.
O fato é que em 10 anos teremos quatro gerações de contextos e características diferentes coexistindo dentro do mundo empresarial. Segundo pesquisa realizada pela LogMeIn, os millennials já ocupam metade dos postos de trabalho disponíveis, devendo representar 75% da força de trabalho global em dez anos. Mas, apesar da geração millenial representar avanço para as empresas, não vejo muitas vantagens em uma substituição brusca, e levando em conta apenas esse critério de troca de gerações.
Isso porquê, particularmente, me preocupo muito com os rótulos colocados às gerações. Obviamente, elas passaram por um contexto histórico diferente e foram impactadas por eles. Contudo, ao longo da minha carreira como recrutador, já entrevistei profissionais com mais de 50 anos, extremamente ávidos e movidos pelo propósito na carreira, enquanto encontrei millenials que priorizavam a estabilidade e segurança. Ou seja, não existem caixinhas, mas sim momentos de carreira. É possível notar diversos baby boomers com caraterísticas de geração Y, assim como profissionais da geração Y com características de X ou boomer.
Precisamos desmistificar essa briga e entender que a coexistência no ambiente corporativo não só é necessária, como é favorável para o aprendizado e desenvolvimento das equipes. Sem dúvida, quando o time é multigeracional, acontecem alguns choques de realidades e diferentes perspectivas. Mas, ao invés desegregar os profissionais em caixas, o ideal é que aconteça o incentivo às trocas entre as gerações.
Os baby boomers e a geração X têm muito a aprender com os millenials e com a geração Z, principalmente em relação ao propósito do trabalho, qualidade de vida, flexibilidade, criatividade e inovação. Por outro lado, as gerações mais novas, muitas vezes ainda imaturas, precisam aproveitar a convivência com as gerações mais experientes para lidarem melhor com a alta ansiedade em crescer rápido demais na carreira e a falta de paciência na condução de diferentes projetos e demandas do dia a dia, para assim, aprenderem a serem mais resilientes e resistentes às frustrações.
Nos próximos dez anos, veremos uma transformação ainda mais forte acontecendo no mercado de trabalho, falaremos cada vez mais de Inteligência Artificial, IOT (internet das cosias) e Big Data. A perspectiva de carreira e o sucesso profissional estarão cada vez menos ligados a idade ou a geração. O importante será se conectar com a capacidade de adaptação às tecnologias, inteligência emocional e, principalmente, a habilidade de criar empatia, deixando de lado os preconceitos quanto a diversidade de qualquer tipo.
Se por um lado as empresas estarão buscando profissionais cada dia mais autônomos e antenados, os profissionais buscarão por empresas com liderança decentralizadora, decisões compartilhadas e menos hierarquias no trabalho.
Por fim, finalizo essa breve reflexão dizendo que é importante observar que um processo de seleção criterioso, bem feito e baseado em habilidades não leva em consideração a data de nascimento, tão pouco um rótulo de geração, mas principalmente as competências profissionais e a capacidade que cada indivíduo tem de se adaptar a cenários diversos e cada dia mais mutáveis.
Marcelo Olivieri é diretor da Trend Recruitment.