Autor: Celeste Boucinhas
Como a expansão urbana no Brasil ocorreu, e ainda ocorre, de forma acelerada e com precariedade nas medidas de ordenamento de seus territórios, as cidades passam por um processo de intensa ocupação, alterando a dinâmica espacial, viária e ambiental. Assim, a ausência de medidas de planejamento urbano ordenando as atividades de uso do solo articulada com o sistema de transportes e de circulação, comprometem não somente a mobilidade, como também a acessibilidade e a sustentabilidade urbana, gerando não somente prejuízos econômicos, como também ambientais e sociais.
Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o volume de perdas provocadas pelos congestionamentos somente na cidade de São Paulo chegou a R$ 40 bilhões em 2012 – um aumento de 130% nos últimos dez anos. Este prejuízo equivale a 1% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Estima-se que as pessoas desperdiçam entre duas e três horas por dia no trânsito. Isso significa no decorrer de um mês que passaram pelo menos dois dias dentro do ônibus ou do carro. Para calcular tal custo, o estudo considerou o gasto com combustíveis para carros, ônibus e caminhões parados, estimativas sobre os gastos que a saúde pública tem por causa da poluição e as horas de salário perdidas pelas pessoas paradas no trânsito.
Outro instituto que vem realizando estudos referentes ao assunto é o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – e no ano de 2008 já sinalizava que, em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, mais de 20% da população levava mais de uma hora no deslocamento de casa para o trabalho.
Com o trânsito cada vez mais caótico, greve nos transportes públicos – problemas como a greve do metro chegam a registrar mais de 90% de faltas dos funcionários -, dias com chuvas, enchentes e manifestações, as cidades param. Não só as cidades, como boa parte das empresas, pois seus funcionários não conseguem chegar ao trabalho, comprometendo desta forma a mobilidade urbana.
No entanto, existe uma solução para esses problemas, que serve tanto para profissionais à procura de qualidade de vida quanto para empresas que precisam reduzir custos: o teletrabalho remoto, cujo modelo de negócio é seguro, inclusivo, permite a pessoa trabalhar em casa com todo o aparato da legislação e ainda é uma alternativa para os tradicionais call centers.
Implementado nos Estados Unidos e trazido ao Brasil por nós e adaptado ao que exige a legislação brasileira, o modelo de negócio é referência na utilização de recursos diferenciados para dar novas oportunidades de trabalho a aposentados, pessoas com necessidades especiais, jovens talentos, grávidas e novas mamães – 96% que trabalham em nossa empresa são mulheres, têm entre 25 e 40 anos e são donas de casa ou recém-mamães querem voltar ao mercado de trabalho e contribuir com a renda familiar. Como não há deslocamento do colaborador até a empresa, o teleatendente integra o mercado de trabalho com total reconhecimento sob as diretrizes legais do Ministério do Trabalho, exercendo suas funções no conforto de sua própria residência.
Por meio de uma estrutura de atendimento telefônico integrado por uma tecnologia própria, alocamos posições de atendimento nas residências dos colaboradores. Assim, enquanto os operadores do call center passam a trabalhar direto de suas casas sem perder horas no deslocamento até o trabalho, as empresas obtêm um serviço com custo menor em relação aos call centers tradicionais e mais eficaz. Além desses fatores, o índice de turn over e absenteísmo é quase zero. Isso sem falar na produtividade do trabalhador: até 40% superior àqueles que cumprem seus horários nas empresas.
Ganha a empresa e ganha ainda mais o trabalhador. Recentemente realizamos com nossos colaboradores, residentes em São Paulo, uma pesquisa que revelou que, com a prática do teletrabalho remoto, cada agente economiza mais de três horas diárias em transporte. Para o cálculo, foram consideradas as distâncias entre os endereços dos agentes e o escritório físico da empresa localizado em São Paulo. Para 88,89% deles, a economia de tempo nos deslocamentos diários é um dos fatores mais positivos na adoção do teletrabalho remoto. Vários depoimentos coletados durante pesquisa de satisfação atestaram o significativo aumento da qualidade de vida.
Por outro lado, a realização de trabalho remoto exige certas características específicas do colaborador, assim a etapa de recrutamento é fundamental para uma contratação eficaz. Nesta fase, além da empresa especificar o que espera do profissional em termos de competências técnicas, comportamentais e conceituais, o profissional também necessita fazer uma autoavaliação de aspectos pessoais e profissionais, para analisar se pode trabalhar em casa.
É fundamental, por exemplo, o profissional conseguir reconhecer se trabalha com independência ou se sua performance precisa de acompanhamento constante. Outro ponto de destaque é avaliar se, ao trabalhar em casa, a família ou companheiro (a) irá entender esta nova modalidade de trabalho. Para isso, a família deve ser orientada e esclarecida sobre o exercício do trabalho à distância.
Sendo do lado da empresa ou do trabalhador, temos a certeza de que o modelo de negócios é pautado em inovação e oferece benefícios imensuráveis tanto para as companhias que decidem aplicar o serviço de teleatendimento como ferramenta de comunicação com o cliente, sendo um negócio sustentável e customizado, quanto para o operador que trabalha diretamente de sua residência, aumentando assim o seu nível de qualidade de vida e, consequentemente, sua performance no dia a dia de trabalho.
Celeste Boucinhas é CEO e diretora da Home Agent.