Vida feliz inclui emprego que satisfaz

Autor: Ilaina Rabbat
Uma pessoa pode trabalhar em uma grande empresa multinacional, ter um bom salário, ser promovida e mesmo assim não estar feliz. Pode estar no início da sua carreira profissional, estar construindo uma reputação considerável e mesmo assim querer algo diferente para a sua vida. Essa mesma pessoa pode ter como sua real paixão era conectar pessoas e promover os negócios com impacto. 
Cada vez existem mais pessoas insatisfeitas, especialmente com as escolhas profissionais, com o objetivo e valores da empresa ou ainda com os rumos que a carreira está tomando. 
As pessoas tem trabalhado com o único objetivo de tirar férias. Sofrem nos domingos à noite e na segunda-feira de manhã. Associam felicidade à ausência da necessidade de trabalhar. 
A insatisfação das pessoas com o rumo das suas próprias carreiras é uma tendência, e não apenas aqui no Brasil. Uma pesquisa do instituto Gallup diz que somente 13% das pessoas no mundo estão satisfeitas com o seu emprego e um 24% das pessoa estão muito insatisfeitas no trabalho. Então se você se descobriu nesta situação é o momento de começar a pensar em como mudar isso. 
Todos necessitamos de dinheiro para sustentar nossas vidas… mas precisa ser através de um trabalho que não gostamos ou podemos ter um trabalho que nos satisfaça como seres humanos? Estamos nos dando conta do óbvio: passamos muito tempo em nosso trabalho e concluímos que a felicidade de um ser humano está totalmente atrelada à sua satisfação profissional. Mas o que fazer? 

A gente não quer só dinheiro
Uma carreira bem-sucedida há muito tempo deixou de ser sinônimo de um bom salário. Estamos cada vez mais cansados de trabalhar em empresas ou marcas que não acreditamos. Locais que não estão alinhados com nossos valores e o que consideramos justo para a sociedade. Como é possível ajudar uma empresa a vender um produto que você mesmo jamais compraria? Um produto que não é saudável ou que contamina nosso planeta? 
Nós chegamos a um limite. Antes, acreditávamos que os empregos serviam para pagar as contas e estávamos bem com isso. Mas agora o emprego passa a ser muito mais. 
As pessoas querem um trabalho que dê gratificação pessoal, em que elas se sintam úteis para o mundo. Elas querem um propósito de vida que vá além do salário e benefícios.
Daniel Pink, autor americano, se dedicou a estudar a motivação das pessoas no trabalho e descobriu que a forma mais efetiva para elas estarem felizes no trabalho é a motivação intrínseca. Um elemento fundamental da motivação intrínseca é o propósito, o “desejo de trabalhar para uma instituição (ou por conta própria!) com o objetivo de lutar por causas maiores e que possam transformar a vida ou o mundo”. Você se motiva intrinsecamente quando você sabe que seu trabalho tem um impacto real no mundo. 
O que fazer? Dar os primeiros passos…
Quando você se dá conta que precisa de uma nova carreira e o seu atual momento profissional já não é o suficiente, você precisa entender o que te faz feliz e qual é teu propósito de vida. 
Imagine que tipo de trabalho te faria feliz. É algo que você nunca contou para ninguém? Que causas sociais te mobilizam? Você se sensibiliza com pessoas em situação de vulnerabilidade? Gostaria de contribuir para a melhora do sistema de saúde e educação? Se sente movido a atuar para causas ambientais e de sustentabilidade? Acha que o mundo pode ser melhor e você quer fazer parte desta mudança? 
Hoje em dia existem diversos tipos de trabalho, mais responsáveis e todos podem acessá-los. As vagas no setor de negócios de impacto no Brasil vem crescendo exponencialmente. Segundo o estudo realizado pela Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais e a Deloitte, os investimentos em negócios de impacto social no Brasil devem quadruplicar nos próximos cinco anos, saltando de R$ 13 bilhões em 2014 para R$ 50 bilhões anuais a partir de 2020. 
As Empresas B também vem crescendo no país. Empresas B redefinem o significado do sucesso, buscando não somente ser as melhores do mundo, mas também serem as melhores para o mundo.
As opções são muitas mas é importante se planejar. Não abandone o emprego que te faz infeliz sem planejamento. Decidir o que você quer fazer é apenas uma etapa de um momento de descoberta e transição. 
No seu tempo livre – acredite, você vai encontrar tempo livre para isso – você consegue planejar os próximos passos:
Comece a procurar outras coisas que você gostaria de fazer. Descubra quais talentos você tem. Pelo que você é apaixonado? O que você ama fazer? Ao explorar alternativas, irá encontrar o que realmente te faz feliz.  
Quando tenha encontrado alguma alternativa de carreira possível, busque informações sobre a carreira que você deseja seguir daqui para frente. Converse com pessoas que trabalham no ramo, leia livros, pesquise e faça cursos nesta área. Uma nova graduação ou uma especialização podem fazer parte de qualquer momento da sua vida, seja logo após a primeira faculdade ou ainda dez ou vinte anos depois. 
Seja voluntário. O trabalho não-remunerado na área que você deseja seguir pode te dar uma real dimensão dos prós e contras desta vida e te mostrar, sem nenhuma máscara, como é a vida real, e, principalmente, se ela vale a pena.
Saída pelo empreendedorismo
Muitas vezes a satisfação profissional não está em uma nova empresa: está na sua própria empresa. Empreender, começar uma empresa do zero em um segmento que você gosta e possui capacidades para crescer é um caminho árduo, porém válido e, muitas vezes, muito recompensador.
Para empreender é preciso entender que você poderá deixar uma vida de segurança para outra completamente diferente, em que os riscos farão parte da sua vida profissional 24 horas por dia. Se você gosta de riscos e sabe lidar com a pressão, siga em frente.
Mas procure ajuda: gostar de uma determinada área não torna você apto a empreender com sucesso. Existem dezenas de ferramentas para empreender de uma maneira responsável e lembre-se que é possível começar este caminho ainda dentro da segurança do seu emprego. O início será difícil, mas pode ser muito mais eficiente se desligar do trabalho que te faz infeliz quando o seu empreendimento já estiver dando os primeiros passos.
Não se torne um empreendedor se você não quer se tornar um. O empreendedorismo não é a saída para todos os dilemas profissionais do ser humano.
Melhorando as empresas 
E se você já tem uma empresa, pense que a satisfação dos seus funcionários pode garantir a sua também. Um colaborador motivado é mais produtivo. Cheque sempre como está o ânimo das pessoas da sua empresa, não acredite que o pagamento em dia resolve todas as frustrações. 
Nos tempos da economia industrial, construir um local de trabalho bem-sucedido significava encontrar eficiência através da eliminação de erros e da padronização das tarefas. Como os funcionários se sentiam era de interesse secundário porque a motivação deles não tinha incidência direita no resultado do trabalho. Hoje as coisas são diferentes. Nosso trabalho é infinitamente mais complexo. Raramente precisamos que os funcionários simplesmente façam tarefas rotineiras e repetitivas, precisamos também que colaborem, planejem e inovem. Construir uma organização próspera na economia atual exige muito mais do que eficiência e um pagamento em dia. Requer um ambiente que promova a inteligência, criatividade, bons relacionamentos e habilidade interpessoal.
Então, ajudar seus funcionários a entender o propósito deles, dar flexibilidade, autonomia e tarefas que eles são bons e gostam não são perda de tempo ou dinheiro, são a garantia que a tua empresa, você e teus funcionários estarão melhor no longo prazo. 
Trabalhe melhor, viva melhor
Se você dedica muito tempo ao seu emprego e se ele te faz feliz, a sua vida também será. Existe uma relação íntima entre a satisfação no seu trabalho e a sua felicidade. Se você não gosta do seu emprego, você pode mudar isso. Você não estará sozinho. Cada vez mais pessoas estão mudando de carreira em todas as idades da vida. Existem redes, pessoas, e organizações que podem te ajudar. 
Para mudar de carreira irá precisar de coragem, determinação e resiliência. Você vai precisar sair da sua zona de conforto. Às vezes é mais tentador continuar como está – infeliz – mas no longo prazo isso não é sustentável. Arrisque pela sua felicidade. 
A única pessoa que pode dizer exatamente o que te fará feliz é você mesmo. E isso vale para qualquer área da sua vida. Ninguém é obrigado a ser infeliz mas  todos temos a possibilidade de ser feliz.
Ilaina Rabbat é cofundadora e diretora executiva do Amani Institute. Trabalha há mais de 15 anos com empreendimentos sociais, educação e inovação.

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