Autor: Edilson Menezes
Muitas pessoas passam a vida inteira dizendo que não gostam de ler, mas não sabem que a verdade é outra: elas não sabem ler.
Vencer na carreira. Dominar o seu mercado de atuação. Conhecer o ser humano em sua maravilhosa individualidade. Fazer novos e agregadores amigos. Criar algo com genialidade. Todos estes anseios da natureza humana encontrarão uma barreira invisível, porém inevitável: a necessidade de saber ler.
Não me refiro somente ao conhecimento da língua portuguesa ou ao processo de alfabetização. Quero convidar você a refletir com impacto sobre o que há de mais importante nesta vida: o conhecimento e a subjetiva amplitude que ele oferece.
Há o grupo de leitores e o grupo de pesquisadores. Quero ensinar você a integrar o segundo, formado por pessoas que fazem algo com o que leem, já que o primeiro se constitui de leitores que armazenam informação como um computador, sem saber exatamente o que fazer com ela.
Todos os dias eu lido com o ambiente literário. Somente neste momento, entre coautores e autores, 43 profissionais aguardam a minha arte, batizada como revisão artística, em seus argumentos. Com essa experiência, preparei um teste para leitores, pesquisadores e escritores. Vamos investigar como anda nossa capacidade de absorção do conteúdo. É muito simples. Basta você se lembrar do último livro que apreciou. Pense:
Você seria capaz de fazer uma sinopse dele como se o tivesse lido há 20 minutos?
Resposta 1 – sim, seria muito fácil;
Resposta 2 – sim, mas não seria nada fácil;
Resposta 3 – talvez eu conseguiria;
Resposta 4 – não, definitivamente não conseguiria.
A resposta 1 demonstra que você consegue absorver conteúdo e se concentrar totalmente. Algumas pessoas conseguem ler e ouvir música ao mesmo tempo. Outras conseguem ler diante de uma multidão barulhenta, mas é uma habilidade rara. Em geral, as pessoas precisam do silêncio de seu quarto, escritório ou até um parque para se concentrarem. Minha proposta é que você, cujo estilo se iguala à maioria e só consegue concentrar-se a ponto de absorver o que lê quando está em total silêncio, aprenda a pesquisar em qualquer ambiente e vou ensinar como fazer isso.
Todas as demais respostas são insuficientes para que você internalize e use aquilo que lê, porque a desconcentração impede que exista foco no uso daquilo que foi pesquisado. Se você respondeu 4, por exemplo, sugiro que a partir da dica que compartilharei agora, comece a ampliar o mapa mental. Se respondeu 2 ou 3, tenha certeza: você também precisa conhecer uma nova maneira de pesquisar.
Você degustou um romance? Seja de um mestre como Saramago ou de um romancista popular como Sheldon, assim que fechar a quarta capa, algo deve ter mudado em você. Qualquer coisa. Qualquer lição deve ficar e de preferência, que sejam várias. Investir atenção em 300 páginas e nada aprender é o mesmo que assistir, sem legenda e sem conhecer o idioma, a palestra de um russo. Ou seja, não servirá para nada.
Você está pesquisando sobre desenvolvimento humano? Tem investido tempo para conhecer os pensadores deste e de outros séculos, mas sente que a vasta informação jaz assim que você fecha o livro? Está faltando concentração. Você está lendo por ler. Está faltando pesquisa.
Confira como reaprender, reconstruir e transcender de leitores a pesquisadores:
Quando pesquisamos textos, o lado direito de nosso cérebro, emocional, vai nos municiando de prazer. Nosso corpo vai produzindo hormônios de bem-estar e quanto mais informação, maior o prazer. Ótimo, não é?
O problema é que todo ser humano é dual. A outra parte do cérebro, portanto o lado esquerdo e racional, vai fazendo aferições de cansaço. Quando esta parte identifica que o conteúdo novo, mesmo prazeroso, está deixando a máquina fatigada, ela faz aquilo para o qual foi programada desde sempre: nos proteger.
É por isso que você, às vezes, precisa ler 4 vezes o mesmo parágrafo para entender o que o autor queria dizer.
É por isso que você se propõe a ler um pouco antes de dormir e não consegue concluir nem mesmo duas páginas.
É por isso que você se distrai e começa a pensar nas contas a pagar do dia seguinte.
É por isso que você passa a escutar tudo que as pessoas estão conversando.
A solução pode parecer simples, mas não se engane. Seu cérebro precisa de tempo e treino para absorver e praticar.
1. Quando ler na cama, não deite totalmente. Recoste-se a 75 graus. Isso fará o cérebro entender que você não quer dormir imediatamente;
2. Ao pesquisar no transporte público, assim que abrir o livro ou ligar o tablet, desligue-se do ambiente. Entre de fato nas páginas, ao invés de tentar ouvir as múltiplas conversas que estão acontecendo ao mesmo tempo;
3. Se você tem um cantinho da casa ou escritório que é sempre usado para ler, transforme a sinestesia do lugar. Use velas aromáticas, incensos ou qualquer produto que deixe no ar um aroma inédito. Isso aguça a curiosidade e a criatividade;
4. Assim que começar o processo de distração e perceber que não está mais conseguindo ler, pare e diga ao lado racional de seu cérebro, como se pudesse mesmo falar com ele: – lado esquerdo, eu quero muito pesquisar este assunto, reconheço que você está tentando evitar que eu me canse e sou grato por isso, mas de fato eu opto pela pesquisa;
5. Convença-se que a partir de hoje você está se promovendo a pesquisador (a). Ao dizer que está pesquisando, o poder da expressão encontra eco no sistema límbico e o cérebro entende que você não deseja aquela informação apenas temporariamente;
6. Use imediatamente o que aprendeu ou, no mínimo, anote quando o conhecimento será utilizado. O fato de você aprender com determinada obra uma lição que pode mudar completamente sua vida vai colocar-lhe diante de uma decisão: acolher e encarar o medo da mudança ou fingir que não leu aquilo e não vislumbrou a evolução batendo à sua porta através das páginas.
A partir de agora, eu e você podemos ter uma certeza: você já sabe mais que apenas ler e está pronto para pesquisar. Resta apenas permissão íntima para que a vida ganhe o status de pesquisador (a).
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])