Autor: Vinicius Maximiliano
Falar de futuro dentro dos movimentos de mercado da internet sempre é um grande desafio, por razões óbvias. A primeira é justamente a dinâmica inovadora que pode criar, sem qualquer precedente, tendências de mercado nunca antes exploradas. A segunda está na essência da rede, ou seja, sua imprevisibilidade disruptiva em modificar, de maneira intensa, setores tradicionais. Particularmente acredito que o crowdfunding (financiamento coletivo) encontra-se nesta segunda razão.
Se observarmos com atenção, o crescimento das plataformas (sites) de crowdfunding tornou-se exponencial nos últimos 2 anos. Já o crescimento do número de projetos país afora cresce diariamente, em escala geométrica, à medida que empreendedores, idealistas e criativos decidem buscam na multidão, a inspiração e validação de suas ideias de negócios, de produtos ou de projetos sociais.
A expansão das plataformas que pretendem viabilizar a abertura de startups (chamado também de “equity crowdfunding”) sinaliza um atalho aos entraves tradicionais de mercado. Tais como crédito, pesquisas de mercado, público consumidor e financiamento rápido com custo baixo. E nesse campo o Brasil ainda tem espaço de sobra, para crescer. Mas enquanto ainda estamos tentando definir nossos principais nichos de ação em financiamento coletivo e aguardamos por alguma regulação mínima do setor. Países onde as operações de crowdfunding são mais maduras já começam a ditar as tendências deste mercado que cresce a incríveis 60% ao ano. Grandes players mundiais já articulam novas abordagens de mercado, de formato de negócio e de ampliação do escopo do financiamento pela multidão, que certamente chegarão ao Brasil em breve.
Parafraseando Murilo Gun, em suas considerações sobre empreendedorismo, melhor do que buscar novos mercados, é criar mercados, e com isso “engordar a própria pizza” para que se tenha uma fatia maior dela. Esse trocadilho pode parecer simplório, mas indica com clareza os movimentos das plataformas de crowdfunding mundo afora. Uma das novidades recentes, e que certamente ainda não está sendo observada pela maioria das empresas no Brasil (especialmente as grandes!), é a criação de serviços específicos, dentro dos sites de financiamento coletivo, para grandes corporações.
Soa levemente contraditório, já que, em geral, as grandes empresas possuem dinheiro, profissionais, laboratórios e desenvolvedores suficientes para criarem seus produtos, financiarem a produção e lançarem sem a necessidade do uso de terceiros intermediadores de negócios, tais como são os sites atualmente. Contudo, pense com cautela no ativo mais valioso que as plataformas de financiamento coletivo possuem e que as grandes empresas, por maiores e mais consolidadas que sejam, dependem fortemente: a validação de mercado sobre o produto. Em outras palavras, os consumidores! Não se pode negar que as plataformas de crowdfunding possuem uma gama variada e extensa de usuários que recebem todos os projetos. Esses mesmos usuários, se motivados, irão financiar os potenciais produtos. Só que não para por ai! Esses financiadores estão dando um recado ao mercado: gostamos do produto, queremos adquiri-lo e vamos divulgá-lo. O que significa? Sucesso!
E as grandes corporações dependem dessa validação comercial para que não sejam investidos milhões em um lançamento que pode ser um total fiasco de mercado, como já vimos na história recente. Qualquer produto, mais do que ser novo e bem feito, precisa ser “aceito” pelo mercado. E esse poder está sendo concentrado nas mãos das plataformas de financiamento coletivo. Elas estão encontrando uma forma de monetizar isso. Agregada a esse novo formato, vem uma proposta de propagandas mais direcionadas, robustas e análises dos dados do projeto diferenciadas para grandes empresas. Apesar disso, as plataformas que divulgaram esse novo formato, afirmam que os projetos seguirão o mesmo caminho de todo projeto comum no site e serão “testados” pelo público como se fosse um projeto comum. Tendo apenas como diferença uma grande corporação como proprietária.
Em uma análise mais técnica, ter algumas grandes marcas prospectando projetos dentro dos sites de financiamento coletivo pode contribuir, e muito, para aumentar a credibilidade tanto do site, como da própria empresa. Além disso, os outros projetos dentro daquela plataforma, indiretamente irão se beneficiar, já que grandes empresas trazem novos potenciais financiadores aos seus projetos, muitos dos quais não integravam a base de dados de divulgação.
Ao que tudo indica, adotar meios próprios para que grandes marcas comecem a utilizar o crowdfunding para validar seus novos produtos, parece uma forma barata e muito segura de possibilitar quebras de paradigmas dessas corporações diante de um consumidor mais dinâmico, que quer mais respeito, mais proximidade e menos indução. E isso aproxima as grandes dos pequenos grande inovadores, que, ao final, serão seus diretos concorrentes, caso não mudem seu foco de mercado.
Como podem ver, aparentemente é uma boa negociação de ganha-ganha que surge no mercado de crowdfunding! Isso vem impactar positivamente em um setor que esta se mostrando uma das poucas alternativas para as jovens ideias e empresas nacionais e que possuem em suas mãos excelentes ideias, mas pouco potencial financeiro. Quem sabe com a entrada de algumas grandes, o setor se consolida ainda mais e se mostra cada vez mais atrativo aos financiadores?
Vinicius Maximiliano Carneiro é advogado corporativo, gestor contábil e financista