O verdadeiro potencial do Drex se revela principalmente na redução de custos transacionais em operações que hoje precisam de diversos intermediários
Autora: Evelyn Bueno
Por mais que o Drex, a nova moeda digital do real, ainda não esteja totalmente implementada em seus potenciais usos, já podemos dizer que o Banco Central do Brasil (BC) age com seu habitual pioneirismo ao incentivar a democratização de ativos tokenizados para os brasileiros.
Embora muitas vezes a inspiração para soluções de tecnologia venha de outros países, no setor financeiro e de pagamentos o Brasil exporta conhecimento. O Pix, por exemplo, após ser implementado pelo BC em sua agenda BC#, totalmente disruptiva para estimular competitividade e reduzir custos de transação no mercado financeiro, foi exemplo para outros que desenvolveram tecnologias similares, como o FedNow, o “Pix americano”. Além disso, é um modelo de user experience que deu certo, mesmo para países que possuem modelos 24/7 de transferências como o Faster Payment System do Reino Unido.
Já na Europa e no Reino Unido, as discussões sobre uma potencial CBDC (Central Bank Digital Currency) ainda estão embrionárias, mesmo anos após as discussões sobre CBDCs no Brasil, que deram origem ao atual projeto do Drex, já em fase de testes nas instituições.
O Drex será um ativo digital emitido pelo Estado, assim como o dinheiro físico, porém digitalizado – ou seja, baseado em blockchain, o que garante segurança às transações. Ativos tokenizados como o Drex têm prós e contras. Ao mesmo tempo que oferece muita segurança e confiabilidade, o “real digital” é totalmente rastreável. Portanto, haverá discussões sobre a violação da privacidade das partes de uma transação com Drex, por exemplo.
Falando sobre aplicações mais práticas, com o sucesso do Pix, é pouco provável que o Drex tenha uma aceitação grande para transações do dia a dia. O verdadeiro potencial do Drex se revela principalmente na redução de custos transacionais em operações que hoje precisam de diversos intermediários, como contratos de compra e venda de imóveis e automóveis e também no aumento da transparência no sistema financeiro.
Realizando o pagamento com Drex, também há a possibilidade, de acordo com o design final aprovado pelo Banco Central, de que um valor só seja transferido após confirmação entre vendedor e comprador, por exemplo, evitando fraudes e reduzindo custos de transação. A digitalização da economia, ao reduzir intermediários e eliminar fricções relacionadas a fraudes e inadimplências tende a reduzir custos para os usuários, criando no entanto outras preocupações – como em relação a privacidade dos usuários, já que toda a cadeia poderá ser rastreada e o uso da moeda digital definido previamente pelo Banco Central emissor.
O Banco Central do Brasil tem uma agenda visionária, autonomia e inteligência tecnológica para criar tendências financeiras mundiais. Precisamos estar atentos às suas novidades e compreender as melhores formas de incluí-las em nosso dia-a-dia.
Evelyn Bueno é diretora jurídica da SumUp para a América Latina e diretora da Abipag.