O currículo acadêmico e a formação profissional muitas vezes não acompanham a velocidade das mudanças tecnológicas, criando um abismo entre as habilidades disponíveis e as exigências do mercado
Autor: Leonardo Oliveira
Quando falamos sobre Recursos Humanos em setores de constante inovação como o tecnológico, o papel do recrutador ultrapassa os limites administrativos e passa a ocupar a linha de frente na caça e retenção de talentos. A escassez de mão de obra qualificada neste mercado sempre existiu e ela cresce ainda mais significativamente nas tecnologias emergentes.
Chamamos de tecnologia emergente aquelas inovações que estão em fase inicial de desenvolvimento ou adoção, mas que tem potencial para causar impactos significativos, assim como Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), Realidade Virtual (VR), Realidade Aumentada (AR) e a tecnologia por trás das criptomoedas, o Blockchain.
Com os avanços tecnológicos e a globalização, esses mercados estão se tornando cada vez mais complexos e competitivos. Por isso, o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade dessas empresas dependem da sua capacidade de ter profissionais capacitados.
O relatório da Future of Jobs 2020 mostra que 65% das crianças que estão entrando na escola primária hoje trabalharão em empregos que ainda não existem. De acordo com um relatório do Fórum Econômico Mundial, a Quarta Revolução Industrial exigirá que mais de 50% dos funcionários sejam requalificados até 2025 para acompanhar o ritmo das mudanças tecnológicas.
A presença de mão de obra qualificada é um dos principais fatores que diferenciam empresas bem-sucedidas das que lutam para sobreviver.
Onde está o problema?
No Brasil, um estudo do Google em parceria com a McKinsey revela que o país terá um déficit de 530 mil profissionais de tecnologia até 2025. Se essa lacuna não for suprida, sua falta poderá acarretar uma série de problemas para empresas como incapacidade de inovar e até mesmo a perda da competitividade no mercado global.
Primeiramente, as empresas brasileiras não estão apenas competindo local, mas globalmente por um pool de talentos bem limitado. Essa globalização faz com que profissionais qualificados busquem corporações globais que ofereçam melhores salários e condições de trabalho. Um levantamento da Deel, de recursos humanos, analisou mais de 300 mil contratos gerados em mais de 160 países. O relatório mostra que, em 2023, a contratação de profissionais brasileiros por empresas internacionais cresceu 43%.
Outro ponto a se destacar é que o currículo acadêmico e a formação profissional muitas vezes não acompanham a velocidade das mudanças tecnológicas, criando um abismo entre as habilidades disponíveis e as exigências do mercado. É o que explica a grande alta nos “Cursos de Atualização”, para agregar algum novo conhecimento em sua área.
Entretanto, pior do que a falta de políticas públicas suficientes para incentivar e promover a educação tecnológica, é um RH que não consegue reter funcionários qualificados por tempo suficiente para cobrir os custos de uma contratação.
Buscando solucionar o problema, a mão de obra capacitada se torna um recurso valioso devido a sua escassez, com mais benefícios para quem escolhe o lado emergente da força. De acordo com a pesquisa da Request Finance, os salários da Web3 (popularmente conhecida como a Nova Era da Internet) superam os das finanças tradicionais em até 128%. O mesmo estudo também aponta que cerca de 92% dos entrevistados trabalham no modelo Home Office.
O papel do RH
Contudo, é preciso mais que bons salários e trabalhos remotos para suprir a carência eminente: um papel ativo das empresas como educadores e provedores de conhecimento sobre a inovação a qual se propõem. É importante se colocar como um agente democrático a fim de desmistificar e tornar conhecido aquilo que é novo.
Superar a dificuldade de encontrar profissionais qualificados requer investimento contínuo em educação e treinamento. Além disso, o RH também é responsável por desenvolver programas de capacitação e desenvolvimento que assegurem que os empregados estejam constantemente atualizados com as novas tecnologias e metodologias do mercado.
Também considero vital ter a mente aberta para reconhecer talentos de outras áreas mas que possuem características cruciais para o desenvolvimento de determinado trabalho. Um desenvolvedor Python já pode ter certa facilidade em aprender a desenvolver em Solidity, por exemplo. Por que não fornecer esse conhecimento?
Empresas que investem em seus funcionários, proporcionando-lhes oportunidades de crescimento e desenvolvimento, não apenas melhoram suas próprias perspectivas, mas também contribuem para o desenvolvimento econômico de seu país.
A batalha por talentos qualificados é antiga e parece estar longe do fim, e aqueles que reconhecem e tomam medidas sobre essa necessidade estarão melhor posicionados. É o que explica porque grandes empresas como Google, XP e Microsoft estão transformando seus escritórios em grandes salas de aula. Se você é o especialista, quem seria melhor para qualificar?
Leonardo Oliveira é gerente de RH da Exchange NovaDAX.