O descuido, no cenário brasileiro, se expressa em 26 milhões de toneladas de alimentos jogados no lixo anualmente, de acordo com a Embrapa
Autor: Manuel Alcalá
O Índice Global do Desperdício de Alimentos da ONU estima que cada pessoa desperdiça 121 quilos de alimentos todo ano mundialmente, um fator preocupante. Nesse contexto, o mercado de alimentos frescos, como frutas, verduras e hortaliças, passa a ser um dos principais agentes propulsores. Diante disso, devemos nos perguntar: o que leva as empresas a descartarem esses elementos no ponto de venda? O que podemos fazer para ajudar a mitigar a questão, em um cenário no qual, só no Brasil, 125,2 milhões de pessoas estão passando por algum nível de insegurança alimentar, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional?
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil deve alcançar uma população de 224 milhões de pessoas até 2030. Por isso, é assustador pensar na quantidade de alimentos que podem ser jogados fora por motivos estéticos, por exemplo. E isso se agrava quando vemos dados como os divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), de que cerca de um terço das frutas e vegetais na cadeia global de produção é rejeitado por ter um tamanho ou formato fora do padrão antes mesmo de chegar aos pontos de venda.
Felizmente, a atenção à rejeição desses alimentos considerados “feios” tem aumentado na sociedade, e a conscientização sobre como eles são descartados antes da hora ou por motivos “superficiais” tem ganhado peso. Um bom exemplo desse movimento é a adesão a serviços por assinatura, que selecionam alimentos considerados imperfeitos em sítios de pequenos produtores e, ao invés de serem descartados, são comprados e periodicamente enviados para os consumidores em caixas.
Com isso, o papel da embalagem de papelão como matéria-prima para as caixas que embalam as frutas e verduras é essencial. Trata-se de algo que já vemos frequentemente nesses serviços de entrega e no manuseio de alimentos frescos até os pontos de venda. Digo que esse papel é essencial pois entre as opções hoje disponíveis para esse tipo de transporte, o papelão ondulado é, de longe, a alternativa mais sustentável para o meio ambiente.
Os alimentos frescos são extremamente sensíveis quando comparados aos não-perecíveis. Por isso, é imprescindível usar embalagens que os protejam em todas as fases da cadeia e garantam que eles cheguem em segurança em seu destino. Além disso, essas soluções precisam contar com orifícios de ventilação e uma série de outras especificações que permitam a ventilação e a proteção desses produtos.
Quando utilizamos a tecnologia como aliada, as soluções de papelão hoje disponíveis cumprem muito bem esse papel, pois são personalizadas para alimentos frescos e, mesmo que eles não sejam considerados perfeitos, podem chegar em segurança aos consumidores finais e até meis aos PDVs. A Smurfit Kappa, empresa que lidero no Brasil, tem um portfólio especializado para alimentos frescos, com uma variedade ampla de cestas e bandejas sustentáveis, customizáveis para agregar valor e atender às necessidades de clientes com diferentes formatos de cadeia de suprimentos e perfis de consumidores.
Para desenvolver tais soluções, apoiamo-nos em tecnologias de ponta e maquinário adequado que avaliam a forma ideal de empilhamento e armazenamento para o transporte, além de ferramentas exclusivas que qualificam a temperatura correta para alimentos frescos.
Reciclável x Reutilizável: entenda as diferenças
Quando falamos sobre embalagens sustentáveis para transportar alimentos, duas possibilidades podem vir à mente: as recicláveis, como as advindas do papelão, e as reutilizáveis. Já adianto: não existe opção correta, pois os resultados em termos de impacto ambiental variam significativamente caso a caso, mas é possível analisar algumas informações que podem colaborar para uma tomada de decisão mais consciente.
De acordo com um estudo conduzido este ano pela FEFCO, federação europeia de fabricantes de papelão ondulado, as soluções de papelão têm 28% menos impacto no meio ambiente, visto que não demandam limpeza constante, proporcionando um impacto 222% menor no consumo de água, em comparação com opções reutilizáveis. Além disso, a transição das embalagens recicláveis para retornáveis pode até impactar o cenário econômico da reciclagem no Brasil, que hoje beneficia pessoas em diversas etapas do processo, como catadores e cooperativas.
No cenário brasileiro em que 26 milhões de toneladas de alimentos são jogados no lixo anualmente, de acordo com a Embrapa, a preferência pelo uso de embalagens de papelão para o transporte de frutas, legumes e verduras pode contribuir diretamente para a redução do desperdício na cadeia de distribuição. Inclusive, um estudo realizado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) constatou que, entre as principais causas de desperdício de alimentos no Brasil, está o manuseio incorreto desses produtos. Entretanto, esse desperdício é multifatorial, sendo consequência de outros problemas como a alta perecibilidade e condições inadequadas de embalagem, fatores que podem ser sanados a partir da conscientização de empresas ao aderirem soluções que tornem a cadeia de distribuição mais sustentável.
Em todos os pontos da cadeia — do campo à casa dos consumidores —, as soluções de embalagens de papelão desenvolvidas a partir de tecnologias de ponta e metodologias estratégicas podem garantir maior segurança e aumentar a durabilidade de alimentos frescos, contribuindo diretamente para a redução do desperdício desenfreado desses produtos. A fim de atender os desafios do setor de fruticultura, as empresas do segmento precisam se certificar de que as embalagens sejam desenvolvidas sob medida, com gramatura correta, e compreendam os requisitos de desempenho de cada produto.
Manuel Alcalá é CEO da Smurfit Kappa no Brasil.