Leonardo Ribeiro e Thomas Endler

O potencial da experiência de consumo nas favelas

Executivos da Favela Holding e da Muni debatem números, caraterísticas e cultura de um mercado que já movimenta R$ 180 bilhões ao ano

Compondo, atualmente, mais de 10 mil núcleos que abrigam quase 20 milhões de moradores com capacidade de consumo, as favelas atraem, de forma crescente, a atenção das marcas no Brasil. Movimentos de pesquisas permanentes, soluções de logística e incentivos de empreendedorismo local são exemplos do que tem sido feito para expansão desse mercado consumidor. Iniciativas que, de um lado, promovem a inclusão ao consumo de qualidade e, de outro, proporcionam rentabilidade para quem oferecer soluções customizadas a esses efervescentes mercados das classes C, D e E. Demonstrando como esses caminhos podem ser descortinados, Leonardo Ribeiro, diretor da Favela Holding e CEO da Comunidade Door, e Thomas Endler, head comercial da Muni no Brasil, foram os convidados de hoje (28), da 593ª live da Série Lives – Entrevista ClienteSA.

Depois de falar como vem se modificando o quadro de desconhecimento das pessoas e das marcas em geral sobre o potencial do consumo nas favelas, Leonardo destacou que o esforço é no sentido de envolver as pessoas da comunidade para que essa renda possa ser aproveitada ali mesmo. Ao apresentar a Favela Holding, ele explicou tratar-se de um grupo que reúne mais de 25 empresas voltadas para essa missão, de instituto de pesquisas a operadora de logística. Ele lembrou que, ao se falar de favela no Brasil, na verdade a abordagem acontece sobre um país à parte, citando constatações de estudos constantes do livro “Um país chamado favela”, escrito pelo fundador da empresa, Celso Athayde, em parceria com Renato Meireles, do Instituto Locomotiva. “Trata-se de locais também chamados de comunidades, quebradas, etc., mas que nos conduzem a pensar em gente. Regiões que, apesar de terem nascido e crescido ausentes de perspectivas para as pessoas, felizmente começa-se a vivenciar uma mudança, com a percepção de potencial de oportunidades e consumo que seus moradores apresentam hoje.”

Segundo o diretor, o número de favelas no País mais do que dobrou em uma década, chegando hoje a 13 mil, compondo mais de 17 milhões de pessoas em cinco milhões de domicílios. Ou seja, se comparado à população dos estados brasileiros, só perde para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, movimentando uma economia que chega a R$ 180 bilhões anualmente. “Portanto, um potencial de consumo que começou a chamar a atenção das marcas e a Favela Holding nasceu com a missão de propiciar esse aproveitamento, levando para as comunidades periféricas o mesmo que existe nos centros. Sendo que a maioria das empresas que compõem o grupo é dirigida por pessoas da favela, falando a linguagem local.” E exemplificou, entre as atividades, um movimento que colocou em evidência 20 mil empreendedores das comunidades, “levando perspectivas para muitas dessas pessoas decolarem em suas iniciativas”, em parceria com a CUFA – Central Única das Favelas, culminando na Escola de Negócios da Favela.

Enquanto Thomas, responsável pelo desenvolvimento da Muni no país, startup criada há pouco mais de dois anos na Colômbia e que já avança pelos seus nichos de mercado por aqui e também no México, afirmou que a organização tem crescido muito com a missão de democratizar o acesso das populações mais periféricas aos e-commerces de supermercados.  Não só corroborando com as afirmações de Leonardo em relação ao potencial desses mercados, o executivo reforçou e ampliou os números apresentados, lembrando que, no Brasil, os consumidores de classes média e baixa estão em cerca de 60 milhões de lares. Ou seja, o equivalente a mais de 90% do mercado consumidor brasileiro. “Ao contrário do que se pensa, trata-se de um público que deseja ter acesso a produtos de qualidade e preços de maior nível, de marcas que o inspiram, mas dentro de uma boa equação de valor para isso. Então, é necessário se chegar a soluções específicas para se conectar com o consumidor nas favelas e não tentar penetrar nesse mercado com fórmulas prontas.”

Nesse sentido, explicou Thomas, a oportunidade vislumbrada pela Muni foi perceber que as vendas on-line dos supermercados, embora muito bem desenvolvidas e abrangentes eram, ainda assim, excludentes. Em resumo, ele mostrou porque o problema se localizava nos custos cobrados na entrega dentro desse quadro de conveniência. “Visando oferecer uma alternativa a esse modelo, entramos com a proposta do social commerce, já muito desenvolvido na Ásia, implantando-o na América Latina como um propósito.” Dessa forma, explorando o que embasa o conceito de social commerce, que é o “network effect”, ou construção de redes poderosas para resolver problemas complexos. De forma resumida, a Muni revende produtos do varejo se utilizando de “consultores de vendas por catálogos”, residentes na própria comunidade. Essas pessoas – os “líderes Muni” – recebem as mercadorias, realizam a última milha e dão suporte aos compradores. “Hoje são mais de 15 mil líderes na América Latina, num processo muito inclusivo.”

Ao serem indagados sobre os hábitos de consumo dos moradores dentro da própria comunidade, o diretor da Favela Holding afirmou que, mesmo que ganhassem três ou quatro vezes mais, esses cidadãos continuariam morando na favela. Por isso, uma das atividades da empresa é fazer com que os produtos cheguem até lá. Os convidados ainda puderam, ao longo da live, debaterem outros temas como os aspectos culturais a serem entendidos pelas marcas, sistemas de crédito aos empreendedores nas favelas, construção de diferenciais competitivos para entrar nesse mercado, a conexão com o senso de pertencimento do morador local, entre muitos outros.

O vídeo, na íntegra, está disponível em nosso canal no Youtube, o ClienteSA Play, junto com as outras 592 lives realizadas desde março de 2020. Aproveite para também se inscrever. A Série Lives – Entrevista ClienteSA retornará na segunda-feira (31), recebendo  Nayara Carlos, líder de integração de ecossistemas da Roche Farma Brasil, que falará da virada de cultura global pelo cliente; na terça, será a vez de Márcio Furlan, gerente executivo de marketing, comunicação e CX da Scania no Brasil; e, na quinta, João Pontes, diretor de pós-vendas e suporte ao cliente da John Deere para América Latina.

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