Executivos de Terracotta Ventures, Rooftop e SI Advisors mostram a força das startups na inovação dentro do segmento
Em pouco mais de uma década, na sequência da dinâmica tecnológica que fez proliferarem as construtechs que deram nova configuração ao mercado da construção civil, começaram a brotar também as proptechs. Estas startups, servindo-se da mudança cultural operada pela presença do digital que elas mesmas ajudam a incrementar no mercado imobiliário, vêm revolucionando o setor com inovações e novos modelos de negócios que, por um lado, reconfiguram a experiência dos consumidores e, de outro, atraem cada vez mais investidores em um ecossistema crescentemente dinâmico. Reunidos no Sextou, de hoje (25), na 433ª edição da Série Lives – Entrevista ClienteSA, Julia Fulco, head de comunidade da Terracotta Ventures, Daniel Gava, CEO e cofundador da Rooftop, e Uriel Frenkel, co-CEO e sócio-fundador da SI Advisors, mostraram os fatores que impulsionaram a presença de mais de 270 proptechs, dentro de um universo que conquistou quase R$ 10 bilhões em investimentos somente no ano passado.
Dando a arrancada no bate-papo, Julia contou um pouco da trajetória da Terracotta, um fundo de investimentos focado na construção civil que, há seis anos, vem mapeando esse mercado para atuar em toda sua cadeia de valor. Na concepção da executiva, o segmento começou a se digitalizar por volta de 2012, quando finalmente propiciou maior tração às primeiras startups. Ou seja, um emergente ecossistema que já permitia a atuação maior de investidores. Paralelamente, o cenário registra uma mudança significativa dos consumidores que adquirem o hábito de pesquisar imóveis on-line ao invés da tradicional consulta à imobiliária do bairro. Na sequência, a evolução foi de um primeiro estágio representado pela criação de portais de ofertas e da digitalização das imobiliárias, até o modelo de negócio. O que colocou no mundo virtual todo o sistema de compra, venda e aluguel de imóveis, desburocratizando e eliminando diversos pontos de fricção entre consumidores e fornecedores.
Até que, resumiu a head da Terracotta, chega-se hoje a um ecossistema muito mais rico, com inédito afluxo de capitais, mencionando um número que expressa a magnitude dessa nova realidade: somente no ano passado, foram mais de R$ 9,4 bi investidos em startups dos setores imobiliário e construção civil.
“Em uma evolução marcada por acertos e erros, atinge-se agora um nível de proptechs mais maduras, desenvolvendo negócios melhores e de formas mais ágeis. Como resultado, um cenário mais atraente ao empreendedorismo, mais dinheiro no ecossistema e menor mortalidade infantil das startups. Tudo ajudado também por dois fatores: a impulsão da tecnologia provocada pelas circunstâncias da pandemia, e os juros do mercado financeiro em queda.”
O que desenha um cenário em que quase 300 proptechs atuam hoje no país, na esteira das construtechs que começaram a ganhar relevância antes. Na visão de Júlia, tudo aponta para um futuro promissor em um mercado que já está bem aquecido, inclusive com maior democratização para o acesso ao crédito.
Compartilhando a mesma visão, o CEO da Rooftop reforçou o quanto o surgimento dos grandes portais imobiliários abriu caminho para as startups e seus modelos de negócios. Para ele, o comportamento digital dos dois lados do balcão passou a proporcionar informações menos assimétricas para análises e decisões empreendedoras. Circunstâncias que permitiram, por exemplo, dar vida à ideia da sua empresa, nascida em 2020, mas com um time que lida há mais de uma década com imóveis imersos em algum tipo de “estresse” jurídico. “Então, já acumulamos experiência em milhares de transações na atividade, seja de regularização, compra ou venda desses ativos. Ou seja, detectamos a oportunidade em um nicho muito específico, praticamente inexplorado por mais de 80% dos corretores no modelo tradicional.” De acordo com Daniel, por meio de uma garimpagem tecnológica por processos judiciais e sites de leilões, a startup consegue detectar as melhores oportunidades para os cotistas do negócio.
Ou seja, a Rooftop faz a aquisição desses ativos por meio de fundos imobiliários, um deles listado na B3, que é o Roof 11, faz a regularização por meio de análise criteriosa dos riscos jurídicos e, em seguida, os comercializa em parceria com grandes portais imobiliários. Tudo de forma a entregar o imóvel ao novo proprietário já completamente desembaraçado dos antigos entraves. E, por fazer a aquisição sempre com algum deságio, tem como proposta de valor oferecê-lo sempre por um preço bem convidativo. Ele expôs também a outra linha de negócio da proptech, que é a de levar uma solução para os proprietários na chamada situação de estresse momentâneo em relação a seu ativo imobiliário. A empresa, então, adquire o imóvel, evitando sua expropriação pelos credores, e o morador passa a ser locatário, tendo a chance de, no futuro, voltar a ser o possuidor da propriedade.
Por sua vez, falando da SI Advisors, que nasceu há 15 anos dentro de todo o espectro do mercado financeiro, Uriel contou que surgiu, em 2016, a vontade dos sócios de guinarem na direção do investimento impalpável para o mercado físico. A partir daí, montaram dois fundos, sendo um para apoio a projetos de logística – cujo momento favoreceu ótimos resultados, pois se constituiu em um estoque de galpões bem na época do boom do e-commerce. E outro voltado para comprar, reformar, mobiliar, decorar e vender imóveis, o que, pelo grau de complexidade que envolve, conforme o executivo detalhou, na desconfortável e morosa dependência de múltiplos fornecedores, levou-os a incorporar marcenaria, marmoraria e uma loja de e-commerce de decoração. “Trata-se de um modelo de negócio que tem como base a agilidade na comercialização. E foi o que nos levou a criar esse sistema que batizamos de ‘reforma de A a Z’, um ecossistema que dá velocidade na entrega, contando apenas com parceiros para a comercialização. Ou seja, atuamos não tanto no crédito, mas na viabilização de uma venda mais rápida e satisfatória.”
Na sequência, o debate pôde aprofundar o estágio de maturidade desses mercados para o embarque das inovações, assim como o quanto a experiência dos consumidores vem tomando lugar, na cadeia de valores dos mesmos, do foco no produto. E, também, as transformações operadas na cultura tradicional pela chegada do digital que alavancou o novo mindset favorável às startups. O vídeo com o bate-papo na íntegra está disponível em nosso canal no Youtube, o ClienteSA Play, junto com as outras 432 lives realizadas desde março de 2020. Aproveite para também para se inscrever. A Série Lives – Entrevista ClienteSA retornará na próxima quinta-feira (03), trazendo Iza Daiana Wiggers, gerente executiva de operações da Qualirede, que falará da humanização no atendimento com apoio do digital; e, encerrando a semana, o Sextou debaterá o tema “Inovação: Do movimento de reação para o de reinvenção?”, com os convidados Fabio Romano, CEO da Gafisa Viver Bem, Dênis Chamas, gerente de inovação e novos modelos de negócios da Nestlé e Renata Horta, diretora de inovação e conhecimento da Troposlab.