Rafael Garcia, partner success advisor da Fico

Como conter o uso mal intencionado da IA para proteger o cenário financeiro

A evolução tecnológica, ao mesmo tempo que oferece oportunidades de inovação e experiência aprimorada para os clientes, também abre espaço para ações criminosas cada vez mais complexas

Autor: Rafael Garcia

O cenário financeiro de 2025 apresenta um desafio crescente no Brasil. As fraudes digitais, impulsionadas pela evolução tecnológica, estão se tornando cada vez mais sofisticadas e difíceis de detectar. Em 2024, segundo a pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária deste ano, o Brasil registrou perdas de R$ 10,1 bilhões devido a fraudes bancárias digitais e golpes com cartões – um aumento de 17% em relação ao ano anterior, quando as perdas somaram R$ 8,6 bilhões. Esse crescimento reflete não apenas a contínua digitalização de serviços, mas também a evolução das técnicas utilizadas pelos criminosos, que agora empregam inteligência artificial generativa para criar deepfakes, perfis falsos e golpes altamente convincentes. 

Embora traga diversos benefícios aos clientes, a expansão do uso de tecnologias como biometria e IA é acompanhada, também, pelo aumento do volume de fraudes digitais. 94% das instituições financeiras estão investindo em segurança e privacidade de dados para mitigar riscos cibernéticos e prevenir  fraudes. Ainda de acordo com a pesquisa da Febraban, entre os tipos recorrentes de ataque estão os golpes via Pix – que representaram 14% a mais dos casos reportados de junho de 2024 a junho de 2025 e cresceram 43% nos últimos dois anos, gerando perdas de R$ 2,7 bilhões -; a clonagem ou troca de cartões, responsável por cerca de 44% das  fraudes digitais; e os golpes aplicados por meio de aplicativos de mensagem, que representaram cerca de 31% dos casos reportados. 

O ticket médio das transações fraudulentas também cresce. Em 2024, o valor foi 60% superior ao das vendas legítimas, o que mostra que os criminosos têm focado em operações de maior valor. Com este cenário, a necessidade de mecanismos de detecção e monitoramento contínuo está cada vez mais crítica, assim como o uso da inteligência analítica em tempo real e o monitoramento contínuo. 

As causas desse cenário incluem a adoção de IA pelos criminosos – o que permite ataques cada vez mais personalizados -, a vulnerabilidade persistente nos sistemas de autenticação e, frequentemente, a falta de conscientização dos usuários sobre práticas seguras. Além disso, a pressão por oferecer jornadas digitais rápidas e sem fricção leva muitas vezes a escolha de mecanismos de autenticação mais simples ou com camadas de segurança menos visíveis. Embora isso melhore a experiência do usuário, pode abrir brechas exploradas por fraudadores. Os impactos não se limitam a perdas financeiras, mas também comprometem a confiança dos consumidores no sistema bancário digital, afetando a reputação das instituições e a relação com seus clientes. 

Diante desse panorama, ainda que o sistema financeiro se proteja com tecnologias de segurança, o alto volume de transações se torna fragilizado na hora de detectar fraudes em tempo real. Além disso, a colaboração entre instituições financeiras e órgãos governamentais é fundamental. Iniciativas como a Aliança Nacional contra fraudes bancárias digitais, lançadas pela Febraban e pelo Ministério da Justiça, reforçam a importância da troca de informações e da criação de estratégias conjuntas de prevenção e combate. 

Olhando para 2026, é possível projetar que a automação de ataques permitirá fraudes ainda mais personalizadas, tornando a detecção em tempo real mais desafiadora. Ao mesmo tempo, mudanças regulatórias sobre IA e proteção de dados exigirão das instituições capacidade de adaptação e conformidade constante, conectando a segurança digital diretamente à governança corporativa. 

Em síntese, em 2025 as fraudes digitais se consolidam como um dos maiores desafios para o setor bancário brasileiro. A evolução tecnológica, ao mesmo tempo que oferece oportunidades de inovação e experiência aprimorada para os clientes, também abre espaço para ações criminosas cada vez mais complexas. Por isso, a adoção de tecnologias de ponta, processos robustos de autenticação, educação contínua dos consumidores e monitoramento analítico constante são essenciais para proteger dados, prevenir perdas e manter a confiança no sistema financeiro digital.

Rafael Garcia é partner success advisor da Fico.

Deixe um comentário

Rolar para cima