A maneira como descobrimos e compramos produtos está sendo redesenhada
Autor: Guilherme Alvim
No ambiente digital, não é novidade que a dinâmica mais comum para o consumidor pesquisar sobre um produto ou serviço é digitar algumas palavras-chave em um site de buscas, aguardar os resultados e navegar pelos links sugeridos — normalmente, sem passar da primeira página.
Com o avanço da inteligência artificial generativa, o mercado caminha para um cenário em que a compra começa — e pode terminar — com algo que o brasileiro adora: um bom bate-papo. Esta é a era do comércio conversacional, em que assistentes de IA assumem, ao mesmo tempo, o papel de vitrine e de vendedor.
O termo “comércio conversacional” engloba as diversas formas pelas quais varejistas dos mais diversos setores no comércio eletrônico utilizam interfaces de conversa para facilitar transações, oferecer suporte e personalizar a jornada de compra dos usuários. Alguns exemplos são chatbots em e-commerces, atendimento via WhatsApp, vendas por mensagens em redes sociais e live commerces com interação em tempo real por chat.
Gigantes do varejo como Magazine Luiza, Casas Bahia e Amazon já apostam nesses recursos para enriquecer e simplificar a experiência dos clientes, com a “Lu do Magalu”, o “BahIA” e o “Amazon Q”, respectivamente.
E quando se fala em integração com IA generativa, o comportamento do consumidor já começa a refletir essa transformação: em vez de recorrer exclusivamente aos mecanismos tradicionais de busca, as pessoas estão começando a utilizar chatbots de IA, como ChatGPT, Claude ou Perplexity, para pesquisar produtos, comparar preços e tirar dúvidas em tempo real.
Nesse contexto, novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas para integrar ofertas de varejistas diretamente nessas plataformas de conversa. Soluções como a “GenAI” já estão em fase de testes para permitir que o consumidor receba recomendações personalizadas com informações atualizadas de preço e disponibilidade — tudo sem sair da conversa. Mais do que um canal de atendimento, a IA generativa passa a atuar como mediadora da decisão de compra.
Vantagens para o comércio eletrônico
A integração com IA generativa permite que os varejistas listem e promovam seus produtos diretamente em interfaces de chat, transformando conversas cotidianas em experiências de compra altamente intencionais.
Quando o consumidor busca termos como “qual é o melhor secador de cabelo de até R$ 300?” ou “onde encontro um tênis de corrida com entrega rápida?”, produtos de marcas que adotam a tecnologia podem aparecer nos primeiros resultados, com informações em tempo real sobre preços e disponibilidade daquele determinado item. Outro exemplo é quando um supermercado quer garantir que seus produtos mais frescos apareçam primeiro em uma busca sobre planejamento de refeições.
Em vez de depender apenas do tráfego gerado por sites e aplicativos, os varejistas passam a ser destacados diretamente nas respostas das plataformas, posicionando suas ofertas exatamente no momento em que o consumidor demonstra alta intenção de compra — o que, inclusive, potencializa as chances de conversão.
Em 2024, o Brasil ficou acima da média global no uso de inteligência artificial: 54% dos brasileiros relataram ter utilizado IA generativa, segundo o estudo “Nossa Vida com IA: Da inovação à aplicação”, realizado pela Ipsos e pelo Google com 21 mil pessoas em 21 países. A média global foi de 48%. Esses dados reforçam o potencial da integração com IA generativa no varejo — especialmente em um mercado aberto à inovação como o brasileiro.
Apesar do potencial, a adoção do comércio conversacional com IA impõe desafios, especialmente para varejistas de médio e pequeno porte. A integração dessas tecnologias pode exigir investimentos em infraestrutura, adaptação de linguagem e até uma mudança cultural nas equipes internas. Além disso, questões como privacidade, confiança em respostas automatizadas e medição de resultados ainda estão sendo debatidas, o que torna fundamental que a inovação venha acompanhada de estratégia e cautela.
Conversas que vendem
No Brasil, esse movimento tem potencial para transformar o varejo de forma significativa. Somos um país altamente conectado, com consumidores adeptos de novas tecnologias e cada vez mais exigentes em relação à conveniência e personalização. Esse cenário cria o terreno ideal para que o comércio conversacional avance.
Integrar IA generativa a esse processo representa uma oportunidade real de reinvenção: a maneira como descobrimos e compramos produtos está sendo redesenhada. O clique dá lugar à conversa, e a experiência de compra se torna mais direta, personalizada e fluida.
A jornada mudou. E quem quiser acompanhar o consumidor, vai precisar mudar com ela.
Guilherme Alvim é head de desenvolvimento de negócios da Yango Tech no Brasil.