O fantasma da inadimplência

Autor: Celso Amâncio
O fantasma da inadimplência ronda lojas, lojistas e grandes redes. Segundo a Serasa Experian, o número de pessoas inadimplentes chegou a 57 milhões de brasileiros até outubro de 2014. Sendo que 60% dos inadimplentes têm contas mensais a pagar que custam acima de 100% de sua renda mensal.
A culpa não é dos consumidores de baixa renda, que chegaram recentemente ao mercado. Apesar de os especialistas convidados para as entrevistas afirmarem que falta educação financeira aos consumidores, especialmente aos mais pobres.
Induzem ao erro, aparentemente sem má fé, os lojistas e gestores de redes que atendem grandes massas. Por quê? Esses especialistas geralmente têm vínculos profissionais ou são oriundos de organizações financeiras focadas exclusivamente na oferta de crédito, sem se preocupar com a realidade dos clientes que assumirão as prestações.
São profissionais treinados e incentivados a “alcançar metas a qualquer custo”, sem nenhum constrangimento em “empurrar” o crédito, sem avaliar através de uma interação humana, as possibilidades de pagamento dos clientes.
Na agressiva oferta de crédito, os lojistas e até mesmo as grandes redes foram cooptados pelas principais instituições financeiras e se tornaram dependentes dessa relação. 
Além disso, se transformaram nos principais canais de aliciamento de consumidores com alguma saúde financeira, que estavam, como se diz, com o nome limpo. 
A agressividade dos predadores de crédito tornou inadimplente mais de um quarto da população brasileira (57 milhões), em menos de uma década, conforme constatou o Serasa. 
Consequência da cumplicidade entre financeiras e lojistas que induziram, irresponsavelmente, os consumidores a assumir créditos com juros elevados e  embutidos nas famosas “dez prestações sem juros”.
Os consumidores, especialmente os de baixa renda, descobriram, intuitivamente, que foram induzidos a cair nos corredores poloneses do crédito imposto pela aliança entre as financeiras mais agressivas e as lojas ou redes, suas cúmplices. 
Caíram na armadilha quando consumiram para satisfazer a demanda altamente reprimida e até atingir os limites insustentáveis de inadimplência. Que incomoda tanto o lojista quanto o cliente. 
Mas após dez anos de consumo intenso a demanda reprimida está satisfeita. E coincide com a renda familiar superada pelo montante de dívidas contraídas. O que obriga esses consumidores, por pura necessidade, a priorizar o pagamento das prestações assumidas. Ou seja, a deixar para trás as contas que não cabem no orçamento mensal. 
É hora de humanizar, de novo, o relacionamento entre lojistas e clientes. E resgatar para a análise de oferta de crédito ferramentas que agilizam o processo, mas que incorporem na decisão final as expertises humanas, com conscientização, integração e ajuste da oferta de crédito à real capacidade de pagamento das dívidas assumidas.
O que levaria a incorporar na decisão final da oferta de crédito o ponto de vista (e os interesses) do lojista e das redes. Ou seja, voltar ao básico de toda e qualquer venda: se lembrar sempre que estamos tratando com gente. Tanto do lado do lojista quanto do lado do cliente. E que a harmonia entre os dois interesses, intermediado pelas financeiras, é que garante os círculos virtuosos de nossa economia.
Celso Amâncio é especialista em concessão de crédito para o consumidor popular.

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Dados da Federação Brasileira de Bancos, Febraban, mostram que para os próximos meses o Brasil deve crescer menos que nos últimos anos – o PIB do País deve subir 2%, contra a expectativa inicial de 4%. Isso ainda mantém a economia brasileira longe dos problemas enfrentados, por exemplo, por Itália e Espanha imersas na crise econômica, mas, não imune à alta da inadimplência que assombra o País, deixando o mercado de crédito e cobrança em situação conturbada. “O momento é de elevado índice de inadimplência que já vem de meados do ano passado. O nível de endividamento da população fez com que a inadimplência subisse e essa realidade impacta negativamente nos resultados das empresas de cobrança e na gestão de seus clientes”, avalia Claudio Kawasaki, vice-presidente do Instituto de Gestão de Excelência Operacional em Cobrança, IGeoc.


E a tendência é que a inadimplência permaneça em alta, acredita o economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg.  Como sugestão para driblar a situação ele propõe algumas ações: “Inserir produtos inovadores que diminuam a inadimplência e os custos associados, que permitam acesso das classes C e D ao mercado de consumo, com riscos controlados e contribuam para o financiamento privado de longo prazo”, recomenda.


Tais medidas proporcionam um desafio à indústria brasileira de crédito e cobrança que terá que manter o ritmo de desenvolvimento diante de um número desfavorável de devedores e da iminente adversidade econômica que paira sobre a Europa. Para tanto, a estratégia deve ser a de se moldar ao novo cenário com a entrada das classes C, D e E, como potenciais consumidores e ao advento das redes sociais na comunicação entre as empresas e os clientes. “A maioria dos gestores já investe em novas tecnologias e em formas de abordagem que melhoram a aproximação com os inadimplentes. Mas este ainda é um grande desafio para as empresas, já que o nível de inadimplência está alto, batendo níveis históricos, e o crescimento das carteiras de crédito nos últimos dois anos”, avalia Jair Lantaller, presidente do IGeoc.


Para finalizar, Claudio Kawasaki, dá ainda outra alternativa: investir na educação financeira da população brasileira. “Para mim a inadimplência é consequência de uma concessão para um público da classe D emergente e também por parte do próprio mercado de oferecer o crédito para esse pessoal que efetivamente não tinha uma educação financeira para fazer uma aquisição de crédito. O resultado é uma alta da inadimplência. Agora, os novos créditos já estão mais sadios, porém, ainda tem uma onda de inadimplência para ser controlada até o final do ano” destaca.     

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