Andreia Rocha, executiva de marketing da Plano&Plano

Gamificação, neuromarketing e dados redesenham jornada do consumidor no setor imobiliário

Ao ativar o cérebro, tocar as emoções e gerar valor prático, essa estratégia entrega resultados mensuráveis e memoráveis

Autora: Andreia Rocha 

A jornada do consumidor está cada vez mais fluida, personalizada e emocional. Em meio à pressão por diferenciação e lealdade, marcas que conseguem transformar interações tradicionais em experiências memoráveis saem na frente. E uma das estratégias que tem se destacado nessa missão é a gamificação.

Mais do que uma tendência pontual, a gamificação representa a convergência entre neurociência, dados e design de experiência, com potencial para gerar engajamento verdadeiro, capturar atenção qualificada e fortalecer a conexão emocional entre consumidor e marca.

A lógica do jogo aplicada à experiência

Estudos em neuromarketing revelam que o cérebro humano responde de forma intensa a estímulos de recompensa, desafio e progressão — exatamente os elementos centrais da gamificação. Quando uma marca cria interações baseadas em conquistas, missões ou níveis, o cérebro ativa o sistema de recompensa, liberando dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e à fidelização.

Esse mecanismo explica por que ambientes gamificados mantêm o usuário motivado, engajado e emocionalmente conectado — o que vai ao encontro de uma das maiores metas do Customer Experience (CX) atual: criar jornadas com significado.

Segundo o estudo CX Trends 2025, realizado pela Opinion Box, a gamificação está transformando os programas de fidelidade, agora mais imersivos e personalizados. O uso de ativos digitais, narrativas interativas e inteligência artificial tem ampliado o senso de pertencimento do consumidor e aumentado sua propensão à recorrência.

O mercado responde: gamificação em ascensão

Os dados de mercado reforçam esse movimento. De acordo com a Mordor Intelligence, o setor global de gamificação deve ultrapassar US$ 48 bilhões até 2029, impulsionado pela integração com plataformas digitais, apps e redes sociais. No Brasil, a Pesquisa Game Brasil 2024 revelou que 73,9% da população joga jogos eletrônicos e 70,1% afirma gostar de receber recompensas em jogos — um hábito cultural que já faz parte da expectativa do consumidor digital.

Quando o jogo é sério: o case de um setor tradicional

No setor imobiliário, onde a jornada de compra é longa, emocional e por vezes burocrática, a aplicação da gamificação parecia improvável. No entanto, uma abordagem ousada provou que esse modelo pode, sim, gerar resultados reais: a criação de um ecossistema digital gamificado com personagens próprios e prêmios tangíveis, desenhado para envolver o consumidor desde a descoberta até a simulação de compra.

Inspirado em elementos de storytelling, a experiência levou os usuários para Planitown, uma cidade fictícia habitada pelos Planitos, personagens simbólicos que representam perfis comportamentais reais. A jornada era dividida em etapas que envolviam:

  • Missões educativas sobre financiamento e documentação;
  • Coleta de moedas digitais (Planocoins) para desbloquear recompensas;
  • Customização de apartamentos virtuais com itens colecionáveis;
  • Sorteios reais de prêmios e apartamentos;
  • Quizzes personalizados, que ajustavam a experiência ao perfil do participante;
  • Experiências sensoriais presenciais, com ativações físicas nos pontos de venda.

Resultados que vão além da conversão

Mais do que uma ação de marketing, o projeto consolidou-se como uma estratégia de relacionamento com o consumidor, gerando:

  • +242 mil inscritos na plataforma;
  • +69 mil simulações de compra;
  • Engajamento em comunicação com os Planitos® 30% superior às campanhas convencionais;
  • 52,86% das vendas em 2024 atreladas à experiência gamificada.

Além disso, foram coletados dados comportamentais valiosos e ampliado o volume de interações orgânicas nas redes sociais. Segundo o relatório “Experience is Everything”, da PwC, 32% dos consumidores abandonam uma marca após uma única experiência negativa. Já uma experiência positiva pode aumentar em até 16% o valor que estão dispostos a pagar.

O que outras empresas podem aprender

A aplicação da gamificação não se restringe a empresas digitais ou de varejo. O segredo está em compreender qual parte da jornada do cliente pode ser enriquecida com interatividade, emoção e recompensa.

  • Educar o cliente pode ser mais eficaz em formato de missão.
  • Estimular visitas, trials ou simulações pode ser gamificado com conquistas ou benefícios.
  • Programas de fidelidade podem evoluir para sistemas de engajamento contínuo e personalizado.

Setores como educação, saúde, finanças e mobilidade têm enorme potencial para incorporar esses mecanismos de forma criativa e estratégica.

A união entre gamificação, dados e CX está moldando um novo padrão de relacionamento entre marcas e consumidores. Ao ativar o cérebro, tocar as emoções e gerar valor prático, essa estratégia entrega resultados mensuráveis — e memoráveis.

Ao gamificar, uma marca não apenas informa ou promove. Ela convida o consumidor a jogar junto, cria vínculos duradouros e se posiciona como parte relevante da jornada pessoal de cada cliente.

Andreia Rocha é executiva de marketing da Plano&Plano.

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