O que realmente vimos nos últimos anos foi uma corrida para adotar o digital sem o devido foco na entrega de valor consistente e sustentável
Autor: Vitor Roma
A transformação digital, como já pontuei em artigos anteriores, terminou. Não porque houve uma interrupção no uso da tecnologia, mas porque o foco do mercado mudou: não basta ser digital, é preciso performar. Hoje, o que diferencia as empresas não é sua presença digital por si só, mas a maneira como elas transformam a tecnologia em resultados reais para o negócio. Nesse novo cenário, Observability deixou de ser apenas uma ferramenta técnica e passou a desempenhar um papel estratégico.
Se a transformação digital foi sobre “construção”, a era da performance é sobre agilidade e resiliência. E é aí que a capacidade de monitorar tudo em tempo real, analisar cada comportamento do sistema e transformar dados em insights acionáveis se torna uma vantagem competitiva essencial.
Muito além dos alertas, essa é a era da inteligência operacional. Quando pensamos em Observability, é fácil imaginar aqueles famosos gráficos de monitoramento ou de alertas disparando quando algo sai do esperado. É claro que isso continua sendo importante, mas a era da performance exige mais. Não basta detectar falhas ou reagir rapidamente; é preciso entender o impacto dos problemas e agregar inteligência a cada ação que a empresa toma em resposta.
Empresas que ativam sistemas completos de observabilidade conseguem antever obstáculos antes de gerar impacto nos usuários. Uma aplicação pode estar demorando 100ms a mais para carregar uma funcionalidade crítica. Esse aumento pode parecer pequeno tecnicamente, mas, ao ser interpretado no contexto do negócio, pode impactar conversões no checkout ou causar frustrações no cliente.
Com ferramentas avançadas de observabilidade, é possível identificar o que falhou e também prever quanto da receita está em risco, quantos usuários estão sendo impactados e qual o custo da correção versus a mitigação temporária. A velocidade com que uma equipe consegue detectar e responder a falhas passou a determinar quem fica no jogo e quem perde clientes. E aqui está o diferencial: os insights da observabilidade melhoram o tempo de reação, assim como priorizam problemas com base no que é mais crítico para o negócio no momento.
Atualmente, empresas líderes estão ampliando o papel das práticas de observabilidade, conectando-as diretamente ao resultado de desempenho do produto digital e, mais importante, ao impacto no negócio. Empresas realmente preparadas para competir na nova era da performance entendem que dados operacionais não são apenas números em um gráfico – eles são o coração das decisões estratégicas.
Durante anos, o mundo corporativo foi bombardeado pelo termo “transformação digital” como um mantra. CEOs, líderes e consultorias repetiram incessantemente que adotar tecnologia digital era a resposta para todos os desafios dos negócios.
Mas, agora, é hora de admitir algo fundamental: a transformação digital acabou. Como todo movimento, ela teve seu começo, meio e fim – e, em muitos casos, parou de entregar valor há bastante tempo. Não porque a tecnologia perdeu relevância, mas porque “transformar-se” deixou de ser o que realmente importa. Segundo o IDC, em 2025, cerca de 65% da economia global será digitalizada, com a enorme maioria das empresas operando em ambientes altamente conectados por APIs, plataformas na nuvem, métodos ágeis e inteligência artificial.
O que realmente vimos nos últimos anos foi uma corrida para adotar o digital sem o devido foco na entrega de valor consistente e sustentável. Consultorias e provedores investiram milhões de dólares em projetos de “transformação”, enquanto deixavam para trás sistemas ineficazes, empresas incapazes de medir ou monetizar suas melhorias e organizações que acreditaram que passar um sistema para a nuvem seria a solução definitiva.
De que adianta transformar, se não performar? A mágica já não está mais em levar processos para o digital, mas em garantir alta eficiência, redução de custos e maximização de resultados dentro desse ambiente digital. Isso exige uma mudança de mentalidade profunda. Não precisamos mais de empresas obcecadas em modernizar sua fachada ou criar “projetos de transformação plurianual”.
Precisamos de organizações que saibam responder perguntas simples, mas poderosas: 1-) Quanto tempo leva para o cliente concluir sua jornada digital? 2-) Qual é o impacto financeiro de 1 segundo a mais no tempo de carregamento do meu aplicativo? 3-) Estou extraindo o máximo valor (operacional, financeiro e estratégico) dos recursos e tecnologias que já possuo?
O cliente de hoje já vive em um mundo digital. Ele espera experiências rápidas, intuitivas e consistentes. Ele espera que todo milissegundo seja usado para gerar valor, e não para carregamentos intermináveis ou problemas inesperados. No fim das contas, o mercado recompensará quem atende a essas expectativas com consistência. E consistência exige performance, dados acionáveis, e métricas claras. Então, não se perguntem “onde estamos no nosso processo de transformação digital”. Em vez disso, perguntem: estamos performando no nível necessário para sobreviver nos próximos anos?
Vitor Roma é CEO da Keeggo.