Vitor Roma, CEO da Keeggo

Performance digital: O preço do excesso de transformação

Embora times ágeis tenham sido projetados para combinar autonomia e agilidade, muitas squads se veem sobrecarregadas com responsabilidades que vão além de sua expertise principal

Autor: Vitor Roma

Nos últimos anos, vivemos uma longa jornada de transformação digital, um ciclo que impulsionou avanços, mas também trouxe um legado de desafios. O evangelho da inovação descentralizada – com orçamentos departamentais, squads autônomas, novas tecnologias e a busca incessante por ser disruptivo – criou um cenário de overtransformation, onde muitas empresas se encontram atoladas em sistemas e iniciativas desalinhadas de uma estratégia central e coerente.

Por muito tempo, o mercado acreditou que toda transformação gerava valor, mas os números muitas vezes contam outra história. A maioria das iniciativas digitais não retornou como se pretendia, seja em termos de ROI, sustentabilidade ou impacto real no cliente final.

Agora, um novo cenário emerge: juros altos, com taxas de captação alcançando 20% ao ano em mercados como o brasileiro, estão alterando profundamente o cálculo de investimentos. Projetos digitais que, há poucos anos, seriam viabilizados quase automaticamente agora precisam superar uma barreira financeira muito mais rígida. Quantos negócios conhecemos que geram mais do que 20% ao ano de retorno?

Isso nos leva a um novo ponto de inflexão: a necessidade de conectar inovação com performance sustentada, equilibrando custo, risco e time to market – um equilíbrio que só pode ser alcançado com um resgate intencional da disciplina de qualidade de software.

Nesse contexto, a qualidade de software, de alguns anos para cá negligenciada ou tratada como um “overhead”, volta ao centro do palco. Se voltarmos para as raízes da disciplina, veremos que ela sempre foi mais do que apenas “encontrar bugs”. Seu propósito maior é garantir que o software entregue seja robusto, confiável e responsivo, maximizando o impacto positivo para o negócio e minimizando riscos.

Hoje o mundo mudou e ajudou. Novas ferramentas e o surgimento da IA trouxeram formas de analisarmos histórias e investirmos em análise preditiva de uma forma que não conseguíamos antes. A decisão de colocar algo em produção ou não pode ser otimizada de uma forma nunca vista.  Principalmente, considerando a disciplina qualidade de software como uma aliada importante na liberação da carga cognitiva da squad para dar foco no negócio. 

Embora times ágeis tenham sido projetados para combinar autonomia e agilidade, muitas squads se veem sobrecarregadas com responsabilidades que vão além de sua expertise principal. Isso acaba, por vezes, afastando as squads do que realmente importa: o foco no cliente e na geração de valor.

Times especializados podem atuar como enabling teams, suportando as squads com automação, revisão de boas práticas e monitoramento contínuo, mantendo elevado o padrão técnico sem sobrecarregar as equipes de entrega.

Quando a qualidade é tratada como um ativo estratégico, não apenas como um checklist, as empresas desenvolvem uma estrutura ágil e escalável, que equilibra eficiência operacional com resultados financeiros relevantes.

Mas como será a disciplina de qualidade no futuro? Que papel ela assumirá em um cenário ainda mais exigente, onde escalabilidade, eficiência e alinhamento de estratégia serão obrigatórios?

Na próxima coluna, explorarei essa visão, abordando como a qualidade não será apenas o “freio” dos projetos, mas o catalisador da performance e do impacto do negócio.

É hora de avançarmos com consciência, estratégia e qualidade no centro.

Vitor Roma é CEO da Keeggo.

Deixe um comentário

Rolar para cima