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As discussões que podem chegar à prática

Inclusão digital, inclusão digital. Mil vezes, inclusão digital. Palavra de ordem do G governo, a política para incluir as classes C, D e E na era digital é repetida intensamente e recebe incentivos para chegar à comunidade. Um novo lance foi a disseminação de computadores de baixo custo conectados à rede mundial que partiu do Governo Federal, através do Programa Brasileiro de Inclusão Digital. A missão é incluir uma população de consumo que representa 73% dos brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, o IBGE. Afinal, essa comunidade representa apenas 9% dos internautas. Outra iniciativa é o Casa Brasil, que em 2005 receberá R$ 224 milhões.
Mas os dados da Organização das Nações Unidas, a ONU, demonstram que o Brasil é o País em desenvolvimento com o maior número de endereços na rede mundial. Em 2003 eram 3,1 milhões de endereços , 41,3% a mais que 2002. Na construção de sites, o País está em 11º, à frente de Austrália e França. O número de usuários cresceu entre 2000 e 2003, 186%. Na contra-mão, o Brasil continua atrás de países de terceiro mundo, inclusive da América Latina, no número de computador por habitante. Pesquisa mundial realizada trimestralmente pelo International Data Corporation, o IDC, a Argentina tem 41 PCs para cada grupo de mil habitantes, o México 52 PCs e o Brasil apenas 31. A China, apenas 13. A comparação, com países desenvolvidos, o abismo é ainda maior. No Canadá, por exemplo, são 416 PCs para cada mil cidadãos, nos EUA 370, na Córeia do Sul 170, na França 152 e na Espanha 70.
Mas o movimento em favor da inclusão digital também entra na estratégia da iniciativa privada, como avalia Ivair Rodrigues, gerente de pesquisas de TI e telecom do IDC Brasil. Ao avaliar o estudo, o executivo afirma que a inclusão digital está sendo levada em conta pelas multinacionais na hora de investir em determinado País. “Se não for feito nada, perderemos competitividade em comparação a outras nações”, acredita.
A inclusão digital, além de conduzir um grande número de cidadãos ao mercado de consumo, também afeta a renda, pois o executivo admite por exemplo, que a falta de conhecimento em informática é a principal barreira para o emprego no País. “Os profissionais de RH confirmam essa deficiência”, diz. O executivo faz um alerta com relação aos projetos do Governo, que visam erradicar o analfabetismo digital – para ele, um mau que atinge 65% da população. Na sua opinião, é louvável a iniciativa, mas ele chama a atenção para alguns números do IBGE, os quais revelam que há 21 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever (13% da população), 29,4% não completaram os quatros primeiros anos do ensino fundamental. Além disso, os educadores afirmam que 50 milhões são incapazes de compreender um texto. “Isso é péssimo, porque está comprovado que a cada ano adicional de estudo, o salário médio do brasileiro é acrescido em 10%”.
A questão é investir na inclusão de forma mais objetiva, avalia por exemplo Anselmo Gentile, diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Software, a ABES. “Não adianta pegar uma senhora de 65 anos e semi-analfabeta e colocá-la duas horas na frente de um computador para, depois de um mês, escrever um e-mail errado. Isto não funciona”, argumenta. Para ele, deve-se primeiro preparar a infra-estrutura. “Há regiões no Brasil, que nem sequer dispõem de energia elétrica ou de linha telefônica. O importante é incentivar a educação.” Ele defende maior participação das empresas no projeto e a neutralidade na comercialização dos softwares. “Não é porque uma determinada empresa tem influência no núcleo do Governo que deva ser escolhida. Todas, sem exceção, devem participar, desde que tenham know-how”, justifica.
O Brasil tem hoje 345 mil instituições de ensino registradas no Ministério da Educação, o MEC. Destas 82% são públicas e 18% privadas. Embora as públicas sejam maioria absoluta, apenas 19% possuem computador, enquanto nas privadas, esse número é três vezes maior, 60%. “Isso demonstra a necessidade de investir nas bases para mudar esse quadro. Se continuar investindo no ensino superior da mesma maneira, em dez anos as deficiências continuarão as mesmas”, comenta Anselmo. Eles criticam a estratégia de vender computadores em 24 parcelas de R$ 50, chegando a uma média R$ 1,4 mil. Acreditam que, pelo preço, dificilmente se baterá a meta de vender 1 milhão de computadores por ano.
A comparação da estratégia com outros países tem cases de sucesso e insucesso. Na Coréia do Sul, o projeto de comercializar 1 milhão de computadores em 1999 a US$ 860 foi abandonado seis meses depois, em virtude da lentidão do processo de compra e da baixa rentabilidade dos fabricantes. A Tailândia fez o mesmo em 2003. O governo, além de incentivos fiscais, garantiu a venda mínima de 100 mil unidades aos fornecedores. Nos primeiros três meses foram comercializados 130 mil micros a US$ 270 dólares cada um. A Malásia tentou duas vezes e em ambas fracassou. Na primeira, em 2000, fraudes e má gestão de processos abortaram o projeto. Na segunda, em 2004, voltou ao fraco desempenho por falta de investimento em divulgação, de acordo com o IDC.

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