O segredo do supercampeão

Quase todo mundo conhece aquela anedota do gerente de uma loja de produtos para caça e pesca. Depois de um exaustivo processo de seleção, ele contratou um novo vendedor. E ficou meio escondido assistindo à primeira atuação do novo funcionário. Quando entrou um homem na loja e foi atendido pelo vendedor iniciante. Saindo, logo depois, carregado de tudo quanto é material destinado à pescaria.

Impressionado com o excelente desempenho do vendedor, o gerente se aproximou e quis saber como foi que ele vendeu aquilo tudo rapidamente. Será que o homem gostava tanto assim de pescar? “Que nada” – respondeu o solerte funcionário -, “o homem entrou aqui apenas para perguntar onde é farmácia mais próxima, porque a esposa estava precisando de absorventes”. O gerente se espantou. “Como aconteceu a venda então?” E ouviu a resposta: “Eu o convenci de que, estando a mulher irritada naqueles dias, sem ter com o que se divertir em casa, que ele fosse pescar um pouco”.

Como vemos, o gerente acertou na escolha. E isso me faz lembrar de um caso real. Certa vez, como jornalista do Estadão, tive de entrevistar o maior campeão brasileiro de hipismo rural do País. O nome dele é Gilmar Gouveia. Até então, nada mais nem menos que 16 vezes campeão nacional. Ganhava montando qualquer raça. Manga larga, quarto de milha, o que fosse… Minha tarefa era descobrir o segredo desse supercampeão. Quando perguntei a ele o que o levava a ganhar todas, advinhe o leitor qual foi a resposta:
a) Habilidade no manuseio das rédeas
b) Perícia na preparação do animal
c) Domínio da montagem da sela
d) Destreza no domínio do animal durante o percurso
e) Nenhuma das anteriores

Quem apontou a opção “e” acertou. Para minha surpresa, na época, pois eu esperava algo parecido com as outras, ele respondeu: “Meu segredo está na escolha do cavalo. Tenho olho clínico. Sei selecionar o animal certo para a competição específica”.

Para quem gosta de futebol, esse é, também, o grande segredo do técnico Wanderley Luxemburgo. O maior campeão brasileiro dirigindo equipes de futebol. Quando deixam que ele escolha os jogadores certos para determinada competição, ele ganha. O planejamento todo passa pela escolha dos seres humanos em situações específicas.

Sempre que eu pergunto a uma platéia qual o motivo principal de os Estados Unidos estarem tão à frente do resto do mundo em quase tudo, praticamente ninguém responde com a simplicidade que a resposta requer. Uns falam em investimento em pesquisa, outros em sistema de colonização, outros em imperialismo, por aí em diante. Mas a resposta é uma só: os norte-americanos são a única nação do planeta que soube – e sabe – atrair talentos. As grandes descobertas e iniciativas, as patentes, tudo aquilo que enriqueceu aquele país foi conseguida por indianos, egípcios, europeus, brasileiros etc. Enquanto a maioria dos países se fechava em guerras, conflitos religiosos, intolerâncias, os Estados Unidos abrigavam os grandes cérebros fugitivos. Einstein, Chaplin, Mann, Hitchcock, etc e etc.

Em tempos de globalização, a questão continua sendo a mesma. Principalmente no ambiente empresarial. As empresas vencedoras são aquelas que sabem atrair talentos para as posições certas. Porque uma grande competência numa área pode ser um completo fracasso em outra. Um verdadeiro líder sabe como estabelecer sistemas e parcerias para as contratações eficazes, mas também sabe analisar e remanejar o pessoal. Caso contrário, vê a concorrência cruzando a linha de chegada à sua frente. E, então, vai pescar um pouquinho para refrescar a cabeça.

Claudir Franciatto ([email protected] ), jornalista, escritor, headhunter e consultor, tem nove livros publicados e é parceiro da Bolsa de Empregos do site callcenter.inf.br.

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