Pra que simplificar?… Memórias de um sargento (parte III)

Continuando pela estrada das minhas memórias e, portanto, do meu aprendizado, um caminho cheio de percalços, um percurso acidentado até mesmo na vida real (quem leu meu último artigo, recorda-se disso), a próxima parada foi aprender que a nossa tendência a complicar as coisas é quase atávica. E sempre desastrosa.


 


Marketing Direto é simples, ou melhor, tem que ser a busca do simples. Você é um vendedor e do outro lado do anúncio, do comercial, da mala direta, está o comprador. Alguém sem tempo e sem saco. Qualquer tortuosidade na abordagem, ele vira a página, troca de canal, joga a mala no lixo. E não adianta apelar para pesquisas de after day recall, persistência da imagem, ou o que for. Fora da resposta, fora da resposta imediata, não há salvação.


 


Mas como colocar isso na cabeça de um bando de publicitários e marqueteiros generalistas?


 


Um exemplo claro me vem à cabeça. Haspa. Era uma financeira agressiva, arrojada (tanto que terminou, mais tarde, sendo fechada pelo Banco Central), com um diretor de marketing genial à frente, Horácio Berlinck. Ele foi convencido pelo nosso entusiasmo e entregou a conta à O&M Resposta Direta. Durante alguns meses, inventamos e reinventamos produtos e estratégias brilhantes. E complexas. E fracassadas. Entre elas, lembro-me particularmente do Poup-Tour, uma poupança com destinação específica – garantir a realização do sonho universal da viagem. Investiu-se um dinheirão, televisão inclusive, e nada! A conta já estava com um pé bem grande para fora da agência quando alguém sugeriu uma estratégia desavergonhadamente simples: encartes na Veja para vender títulos de capitalização.


 


Quem desenhou a estratégia, Celso Byron, não por coincidência, e apesar de bem jovem na época, já tivera seu próprio negócio de venda direta. Ele me arrastou no processo e criamos um encarte também desavergonhadamente vendedor. Na capa, mãos abriam uma pesada porta de cofre e o título explodia: agarre sua chance de ganhar 21 milhões por mês! Passando por cima da cadeia de controle e comando, apresentamos estratégia e criação diretamente ao Horácio. E ele deu a aprovação para o que seria nossa última chance.


 


Àquela altura, humildade tinha se tornado meu nome do meio. Não tive problemas nenhum de submeter meu texto à equipe de vendas, que deu sugestões excelentes. Um gerente ou diretor em particular (e  tenho remorsos em dizer que não me lembro do seu nome) orientou-me na mudança de toda expressão negativa que havia no texto. (Aprendi naquele dia a iniciar uma resposta negativa com a palavra “sim”; e nunca me esqueci desse espírito.)


 


O encarte obteve um índice de retorno extraordinário. A ação foi extremamente lucrativa para a Haspa. E provou que, afinal, Marketing Direto funciona. Precisávamos apenas não complicar o meio de campo.


 


Um dos cupons que chegaram tornou-se emblemático desta ação, deste sucesso, da força que a simplicidade carrega. A nossa ação havia convencido ninguém mais ninguém menos que o General Golbery do Couto e Silva, então chefe da Casa Civil do governo, e principal pensador do movimento militar que governava o país há então quase vinte anos, a fazer um título de capitalização Haspa. O cheque que ele enviou não foi descontado; emoldurado, passou a fazer parte da decoração da sala do Horácio. Até a próxima.


 


Fernando Guimarães é consultor especializado em marketing de relacionamento e marketing direto, e sócio-diretor de planejamento e criação estratégica da M4R-Marketing For Relationship. Seu e-mail é [email protected]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima