Todas as empresas, hoje, de uma forma ou outra, anunciam. Elas têm um serviço de atendimento ao cliente, nem que seja apenas por e-mail. Têm website. Muitas têm páginas no Facebook ou no Google+, Twitter e LinkedIn. Em outras palavras, toda empresa, ainda que não perceba, é multicanal. O problema de não perceber é que quando isso acontece – e acontece com frequência, infelizmente – o resultado é a entrega de experiências fragmentadas e, por isso mesmo, insatisfatórias. Isso é particularmente ruim por dois motivos.
O primeiro é que o seu cliente é multicanal. Não importa se sua marca apareceu em um belo comercial no horário nobre, ou se foi em um desabafo de um cliente insatisfeito, publicado no Facebook, o cliente vê apenas a sua marca nos dois eventos. E, provavelmente, vai acreditar mais no cliente insatisfeito, alguém com quem ele se identifica do que com o comercial bacaninha da TV.
Fica pior. Um estudo recente da Accenture revelou que 78% dos consumidores recebem uma experiência fragmentada quando vão mudando de canal – de TV para Internet para as vitrines, etc. Outra pesquisa, da Blue Research, por sua vez, mostrou que 94% dos consumidores e prospects descontinuam seus relacionamentos por causa de anúncios e promoções irrelevantes.
Eu falei experiências? Esse é o segundo motivo de ser ruim não praticar o marketing multicanal. Porque experiências – isso fica cada vez mais claro – são os motores que mantêm o carro do marketing rodando. E os negócios acontecendo. As pesquisas de que falei descobriram, resumidamente, que as pessoas querem mais do que experiências genéricas com produtos e serviços. Eles querem sentir uma afinidade, uma conexão emocional. E não é tão difícil fazer isso.
Quando eu cuidava da comunicação da Gradiente, vinte anos atrás, eu já me preocupava com isso. Como o incipiente atendimento ao cliente ficava subordinado a mim, eu tentava explicar aos meus subordinados que o cliente não reclamava porque era chato, mas porque queria que a gente consertasse a experiência em que ele havia embarcado.
Hoje, com a automação, as coisas ficaram mais simples – e mais difíceis, ao mesmo tempo. Não é difícil um cliente fazer uma compra em site, e esse evento disparar um e-mail de “welcome” onde vai junto um anúncio do mesmo produto que o cliente acabou de comprar. Soma-se aí irrelevância com impertinência.
Fernando Guimarães é especialista em marketing de relacionamento on/offline. Email: [email protected]