Somos cúmplices, queiramos ou não


Nas últimas semanas, a cada Domingo ficamos aguardando qual será a nova descoberta que as revistas semanais nos trarão. A impressão é de que não existem mais limites. E se era difícil imaginar tal enraizamento da corrupção em todos os partidos, quando se vê isso dentro daquele que durante anos teve a moral e ética como bandeira principal, cria-se em cada brasileiro um sentimento de completa desilusão.

Mas não são apenas os políticos. As instituições brasileiras perderam a credibilidade perante a sociedade. Ao ver tudo isso sinto, que precisamos deixar de ser espectadores para nos tornarmos atores de mudança desse processo. Vejo todos dizendo: “que absurdo! Olha como aquele senador, deputado ou ministro é cínico (espero que não cheguemos ao presidente Lula). Olhe aquela empresária rica; como ela pode sonegar tanto imposto?”

E assim nos livramos da culpa, apontando os responsáveis por vivermos em um país tão corrupto. Mas esquecemos que fazemos parte dessa sociedade que perdeu a completa noção de valores. E todos os nossos atos de alguma maneira acabam por ajudar ou por piorar essa situação, queiramos ou não.

No setor de Contact Center, além da grande maioria de nossos funcionários estarem entrando no seu primeiro emprego, a maioria das pessoas que ocupam cargos de liderança foram formadas dentro das empresas. Ou seja, além de profissionais, estamos formando líderes. A pergunta que faço é: como essas pessoas estão sendo formadas?

Um dos prêmios que a maioria das empresas brasileiras mais tem buscado é fazer parte do guia da revista Exame, das melhores companhias para se trabalhar. A busca é mais do que legítima. Mas, infelizmente, tenho visto empresas que acreditam ter descoberto um atalho para atingir esta e outras conquistas: terceirizar todas as praticas que “atrapalham”. Terceirizar baixos salários, terceirizar práticas heterodoxas, terceirizar metas impossíveis de serem batidas.

Vejo mais. Vejo empresas que dizem – e realmente possuem – políticas de ética e respeito com os seus consumidores, mas que, ao contratarem serviços de Contact Center, impõem metas aos “departamentos de compras” que forçarão as empresas contratadas a exigirem de seus funcionários que ultrapassem limites que não deveriam ser ultrapassados.

E assim vamos formando os profissionais e líderes do Brasil. Ensinando que, para sobreviver em nossa sociedade, é necessário “viver de acordo com as regras”. Foi assim com o PT. Para vencer, resolveu viver segundo as regras da política brasileira.

E o que estamos fazendo para reverter essa situação? Todos somos cúmplices, queiramos ou não. Se como empresas de Contact Center aceitamos determinadas condições que nos levarão a ultrapassar limites perigosos, somos cúmplices. Se as empresas contratantes estão terceirizando o que não devem fazer dentro de casa, em vez de utilizar a terceirização como busca pela especialização, são cúmplices; não estão buscando parceiros, mas “laranjas”.

Apoiar ONGs, financiar o estudo formal dos funcionários, incentivar o trabalho voluntário, entre tantas outras, são práticas maravilhosas de responsabilidade social que as empresas vêm exercendo. Mas nenhuma delas se compara a ensinarmos aos nossos futuros líderes que os meios não justificam os fins. Precisamos contribuir com a formação de pessoas e profissionais, para que que voltem a acreditar que vale a pena viver à luz de valores éticos e morais. Precisamos voltar a ensinar aos jovens que, apesar de os resultados – financeiros ou operacionais – serem a base de qualquer instituição privada ou pública que queira sobreviver, eles não podem ser conquistados a qualquer custo. A quebra de regras e valores é um custo que não podemos aceitar.

Alessandro Goulart é Presidente da Softway Contact Center

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