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Estudo da NASA: caminhamos irreversivelmente para a aniquilação?

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Imagem publicada pelo NASA Earth Observatory mostra tempestade circulando zona de baixa pressão em 2010, fenômeno atribuído por muitos cientistas às mudanças climáticas. Foto: AFP/Getty Images

O texto abaixo é a tradução (não oficial) do resumo de um estudo realizado pelo Goddard Space Flight Center, da NASA, e publicado recentemente. Ele foi escrito pelo Dr. Nafeez Ahmed, diretor executivo do Institute for Policy Research & Development e autor, entre outros livros, de A User´s Guide to the Crisis of Civilisation: And How to Save It, e publicado no The Guardian.Um ponto a destacar, pelo momento que o Brasil atravessa, é o fato de que os programas de distribuição de renda, ainda que pareçam ferir a tal “meritocracia” tão defendida por alguns, podem ser considerados uma estratégia de sobrevivência global.

A civilização industrial caminha para a aniquilação irreversível? Veja o que diz esse estudo patrocinado pela NASA

Um novo estudo patrocinado pelo Goddard Space Flight Center , da Nasa, destacou a perspectiva de que a civilização industrial global pode entrar em colapso nas próximas décadas, devido à exploração insustentável de recursos e à distribuição cada vez mais desigual de riqueza.

Observando que os avisos de “colapso” são frequentemente vistos como alarmistas ou controvertidos, o estudo tenta dar sentido a dados históricos convincentes que mostram que “o processo de ascensão e colapso é realmente um ciclo recorrente encontrado ao longo da história”. Os casos de graves rupturas de civilizações devido a “colapsos vertiginosos – que muitas vezes duram por séculos – têm sido bastante comums”.

O projeto de pesquisa é baseada em um novo modelo interdisciplinar chamado HANDY (Human And Nature DYnamical), conduzido pelo matemático Safa Motesharri , do National Socio-Environmental Synthesis Center, da US National Science Foundation, em associação com uma equipe de cientistas sociais e da natureza. O estudo com base no modelo HANDY foi aceito para publicação na revista Ecological Economics, publicada pela Elsevier e cujos artigos são peer-reviewed, ou seja, revisados por cientistas conceituados.

O estudo considera que, de acordo com os registros históricos,as civilizações complexas são suscetíveis a entrar em colapso, o que levanta questões sobre a sustentabilidade da civilização moderna:

“A queda do Império Romano, e dos igualmente (se não mais) avançados Impérios Han, Maurya e Gupta, assim como tantos impérios mesopotâmicos avançados, são testemunhos do fato de que civilizações avançadas, sofisticadas, complexas e criativas podem ser também frágeis e não permanentes. “

Ao investigar a dinâmica homem-natureza desses casos ​​de colapso do passado, o projeto identifica os fatores interrelacionados mais relevantes que explicam o declínio civilizacional e que podem ajudar a determinar o risco de colapso hoje: população, clima, água, agricultura e energia.

Esses fatores podem levar a uma colapso quando convergem para a geração de dois fatores sociais cruciais: “o expansão além do limite dos recursos devido à tensão colocada sobre a capacidade de carga ecológica” e ” a estratificação econômica da sociedade em Elites [ricos] e Massas [pessoas comuns]”. Estes fenômenos sociais têm desempenhado ” um papel central no caráter ou no processo do colapso “, em todos os casos ocorridos”nos últimos cinco mil anos “.

Atualmente, altos níveis de estratificação econômica estão ligados diretamente ao consumo excessivo de recursos, com as “Elites”, localizadas em grande parte nos países industrializados, sendo as responsáveis ​​por ambos os fenômenos:

“…o superávit acumulado não está distribuído uniformemente por toda a sociedade, em vez disso foi controlado por uma elite. À massa da população, embora seja quem produz a riqueza, só é atribuída uma pequena parte dela pelas elites, geralmente em níveis de subsistência ou pouco acima.”

O estudo desafia aqueles que argumentam que a tecnologia vai resolver esses desafios, aumentando a eficiência:

“A mudança tecnológica pode aumentar a eficiência da utilização de recursos, mas também tende a aumentar tanto o consumo per capita quanto a escala de extração de recursos, de modo que, sem políticas efetivas, os aumentos no consumo muitas vezes contrabalançam o aumento da eficiência do uso dos recursos.”

O aumento da produtividade na agricultura e na indústria ao longo dos últimos dois séculos gerou “aumento (em vez de diminuição) da vazão de recursos”, apesar dos ganhos dramáticos de eficiência durante o mesmo período.

Modelando uma gama de diferentes cenários, Motesharri e seus colegas concluíram que, em condições “que reflitam aproximadamente a realidade do mundo de hoje… nós achamos que o colapso é difícil de evitar”. No primeiro desses cenários, a civilização:

“….parece estar em um caminho sustentável há longo tempo, mas mesmo usando uma taxa de esgotamento ideal e começando com um número muito pequeno de Elites, as Elites eventualmente consumirão demais, resultando em uma fome entre as pessoas comuns, o que eventualmente provoca o colapso da sociedade. É importante notar que este tipo de colapso tipo L é devido a uma escassez induzida por desigualdade que provoca uma perda de trabalhadores , em vez de um colapso da natureza.”

Outro cenário enfoca o papel da exploração contínua de recursos, concluindo que “com uma taxa de esgotamento maior, o declínio das pessoas comuns ocorre mais rapidamente, enquanto as elites ainda estão prosperando, mas eventualmente as pessoas comuns desmoronam completamente, seguidas pelas elites.”

Em ambos os cenários, o monopólio da riqueza pela Elite significa que eles estão protegidos contra a maioria dos “efeitos prejudiciais do colapso ambiental até muito mais tarde do que as pessoas comuns”, permitindo-lhes “continuar a realizar ´business as usual´, apesar da catástrofe iminente”. O mesmo mecanismo, argumentam eles, poderia explicar como “ao parecer ignorar a trajetória catastrófica, as elites permitiram a ocorrência de colapsos históricos (mais evidente nos casos romano e maia)”.

Aplicando esta lição à nossa situação contemporânea , o estudo adverte que :

“Apesar de alguns membros da sociedade alertarem que o sistema está se movendo em direção a um colapso iminente e que, portanto, é necessário mudanças estruturais na sociedade a fim de evitá-lo, as elites e os seus apoiadores , que se opõem a fazer essas alterações, podem apontar para a longa trajetória sustentável de ´até agora ´ como apoio para não fazer nada”.

No entanto, os cientistas afirmam que os piores cenários não são de forma alguma inevitáveis e sugerem que políticas apropriadas e mudanças estruturais podem evitar o colapso e até mesmo abrir o caminho em direção a uma civilização mais estável.

As duas soluções chave são reduzir a desigualdade econômica, de modo a garantir uma distribuição mais justa dos recursos, e reduzir drasticamente o consumo de recursos, baseando-se em recursos renováveis ​​menos intensivos e reduzindo o crescimento da população:

“O colapso pode ser evitado e população pode alcançar o equilíbrio se a taxa per capita de esgotamento da natureza for reduzida a um nível sustentável  e se os recursos forem distribuídos de forma razoavelmente equitativa.”

O modelo HANDY lança um alerta altamente confiável para o despertar de governos, empresas e negócios –  e consumidores – na direção de reconhecer que ´business as usual´ não pode ser sustentado e que políticas e mudanças estruturais são necessárias imediatamente.

Embora o estudo seja em grande parte teórico, uma série de outros estudos mais empiricamente focados – pela KPMG  e do UK Government Office of Science, por exemplo – têm alertado para o fato de que a convergência das crises de alimentos, água e energia podem criar uma “tempestade perfeita” dentro de cerca de 15 anos . Mas essas previsões no âmbito do ‘business as usual’ podem ser muito conservadoras.

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