Sueli Rodrigues
Há muito tempo ouvimos falar do “learning organization” – a organização orientada para o aprendizado. Mais do que um conceito, trata-se de uma filosofia que coloca toda a organização na busca contínua do aperfeiçoamento, canalizando o aprendizado e o desenvolvimento das pessoas, de maneira sistemática e alinhada aos objetivos estratégicos da empresa.
Neste contexto, a Universidade Corporativa é a legitimação da “empresa que aprende”, na medida em que a organização busca o desenvolvimento das competências fomentando, no ambiente interno, o conhecimento e o compartilhamento de melhores práticas, dentro de um processo formal e contínuo.
Cada funcionário passa a ser avaliado também pelo que aprende/sabe e pelo conhecimento que compartilha. Assim, aprender e ensinar tornam-se funções paralelas de todo profissional, principalmente aqueles que exercem algum tipo de liderança.
Porém, o que parece simples, na prática, é muito complexo.
Por um lado, capturar o conhecimento que cada um de nós carrega para compartilhá-lo num processo formal é difícil. Não fomos capacitados a isso. Às vezes, nem sabemos que sabemos de tal coisa. Simplesmente, o conhecimento está ali quando precisamos dele. E ainda há o paradigma de que deter a informação proporciona “poder”.
Por outro lado, até há pouco tempo, escola era escola e empresa era empresa: numa aprendíamos e na outra trabalhávamos. Mas as organizações se deram conta de que não podem delegar à escola/universidade a formação do profissional “customizado” de que necessitam e assumiram também o papel de “educadoras”. Agora, o tempo dos profissionais se divide entre a cadeira do escritório e a cadeira da sala de treinamento. Tem muito chefe se alternando entre o computador e o data show. E até técnicos, operários, engenheiros, substituindo as ferramentas pela ponteira.
É muito bom ver a Educação Corporativa na pauta das importantes decisões dos gestores, mas queremos chamar a atenção para um ponto: partindo do princípio de que o conhecimento é indelével, ou seja, tudo o que captamos fica guardado para sempre em algum arquivo em nosso cérebro e tem um papel determinante na formação do nosso Ser, a responsabilidade com o conhecimento adquirido e, logo, com o conhecimento compartilhado é muito grande.
Nas escolas, nas universidades, nas entidades educacionais, enfim, temos (pelo menos, em tese) pessoas habilitadas no processo de transmitir o conhecimento. O professor é um profissional ciente do papel na formação do Ser e consciente dessa responsabilidade.
Agora, será que os profissionais que estão assumindo o papel de “educadores” nas empresas também têm desenvolvida essa consciência?
Em sala de aula, sabemos que, mesmo na transmissão de conceitos e habilidades puramente técnicos, sempre há lições implícitas que repercutem, em maior ou menor grau, na atitude dos treinandos – no âmbito comportamental. A pessoa que está no comando de uma sala de aula sempre é um líder a ser seguido, a ser modelado. Não raro, uma palavra que ele diz aciona algo na pessoa que pode desperta-lhe para uma revisão de atitude muito favorável. Só que o contrário, também é verdadeiro!
E isso fica evidente quando, numa avaliação de reação do treinamento ministrado, o participante escreve: “O que aprendi será válido não só para o meu profissional, quanto para a minha vida pessoal”.
Quando falamos em educação de adultos (e a Andragogia, a ciência que orienta adultos a aprender – aborda bem isso), temos que considerar – na escolha do conteúdo, da metodologia, da linguagem – aspectos muito peculiares, como a sintonia ao nível motivacional da pessoa, o respeito às experiências que carrega e inúmeros outros.
O profissional-instrutor muitas vezes desconhece que o seu papel ali, longe de ser o de “fonte que jorra informações”, é o de facilitador do aprendizado que deve levar os treinandos ao acesso à informação, ao debate, à reflexão, para que ele se torne um ser com maior senso crítico, com mais recursos internos, que possa se desenvolver mais rapidamente e atingir os resultados desejados para si e para a empresa.
Às vezes, assistimos a atuações desastrosas de instrutores totalmente “desconectados” com esse propósito. Resultado: aprendizagem comprometida, objetivos não cumpridos, imagem do profissional instrutor “queimada”, investimentos perdidos, treinandos desmotivados a participar de outros programas…
Daí a importância das empresas, no planejamento da Educação Corporativa, relevarem essa questão da responsabilidade da formação do ser, designando para o papel, profissionais mais conscientes e preparados. A “empresa que aprende” bem é a “empresa que ensina” bem.
Sueli Rodrigues é consultora em educação corporativa da SR Consultoria. ([email protected])