Autor: Miguel Fernandes
Inovação sistemática. Parece um paradoxo à primeira vista. Porque a inovação não costuma se desenvolver facilmente com abordagens sistemáticas, e essas abordagens raramente produzem inovação. Resolver esta aparente contradição é o grande desafio produtivo do nosso tempo.
Na era da agilidade, uma organização de sucesso precisa criar ambientes, redes, equipes, metodologias e práticas que tornem o pensamento criativo sistemático, afinal, ele é o fator chave da inovação.
O conceito baseia-se em uma longa história de mudanças na gestão dos negócios, começando e evoluindo nos Estados Unidos ao longo dos últimos cem anos, abrangendo várias épocas. Kevin Fann, no livro Growing Up Fast: How New Agile Practices Can Move Marketing And Innovation Past The Old Business Stalemates, enumera as seguintes eras predecessoras da que vivemos hoje: a Era da Eficiência, a Era do Social e a Era do Acionista. Assim, chegando à Era da Agilidade.
A Era da Eficiência focava na engenharia dos processos, linhas de produção, mecanização industrial pesada. Já a Era do Social foi de grande prosperidade e esperança, em um mecanismo coletivo que consolida reformas sociais. A Era do Acionista começou com a desregulação econômica na década de 1980, na qual os negócios americanos passaram por um período de aumento de grandes disparidades de renda entre os profissionais.
Por fim, a Era da Agilidade representa então uma espécie de combinação de todas as anteriores. Ela é marcada por uma crescente necessidade de inovação sistemática e promove redes sobre hierarquias e criatividade sobre padronização.
À medida que chegamos ao fim da Era do Acionista, duas palavras começam a ganhar destaque: liderança e inovação. Os entusiastas ainda se apegam ao preço das ações. É ele que orienta suas decisões. Sabem se estão certos ou errados de acordo com a oscilação das cotações. É um número objetivo, diretamente mensurável. É difícil mudar essa cultura.
No entanto, não param de aparecer publicações e estudos falando sobre a importância da liderança e da inovação para o sucesso das empresas. Esses valores estão, segundo esses estudos, acima do preço das ações. O valor de uma empresa está subordinado à sua capacidade de inovar e formar lideranças fortes. Alguns têm a visão de que a gestão “ágil” já se tornou um mero clichê: algo que todo mundo diz que usa, só para parecer moderno. Não é bem assim.
Por definição, o gerenciamento ágil mantém um espaço seguro para que a inovação aconteça. Ele promove a criatividade e a intuição humana para além do cálculo analítico, embora de alguma forma conduzido por este. “Ágil” é um processo, não um slogan.
Ao longo dos últimos cem anos, vimos como a gestão profissional de negócios contribuiu para a redução das taxas de pobreza, para o aumento da produção de alimentos e da qualidade de vida média. No entanto, como Walter Kiechel III escreve em The Management Century, há grandes desafios à frente, desafios que as descobertas da Era do Acionista não são capazes de resolver.
Como vamos criar empregos qualificados para todos? Como vamos nos adaptar às mudanças ambientais? Como lidaremos com a mudança constante? Como maximizar retornos em um mundo no qual não há “uma melhor maneira” de fazer as coisas? Como conciliar a satisfação dos trabalhadores, o lucro e a responsabilidade social das empresas?
Essas são perguntas que assolam a Era Ágil e que cada vez mais precisaremos discutir e buscar soluções.
Miguel Fernandes é co-fundador e diretor de produtos da Witseed.