Independe do porte da empresa ou do segmento, tão importante quanto a estratégia comercial, a prestação do serviço ou a excelência no pré e pós-venda, é a bússola que afere o alinhamento entre a pessoa física e jurídica. Ou seja, se a empresa e os colaboradores estão caminhando na mesma direção. Contratar, por exemplo, uma pessoa de objetivos conservadores para atuar em um negócio dinâmico e diariamente mutável é como investir na poupança e esperar um ótimo rendimento. No entanto, ao olhar para o mercado, Edilson Menezes, treinador comportamental e consultor literário, conta que ainda estamos engatinhando nesse ponto. “Foi necessária a deflagração de uma crise para que finalmente os empresários começassem a escutar os treinadores comportamentais que há muito já defendiam a necessidade de preocupação corporativa sobre este tema”, afirma.
O especialista vê, hoje, três cenários no mercado. No primeiro, estão as empresas multinacionais com a cultura de resultados estruturada. Liderança e liderados são treinados desde a contratação para absorverem as metas e os objetivos corporativos. “Em seu primeiro dia, já se tornam cientes dos caminhos que a empresa almeja. Ali, eles têm a oportunidade de discordar, caso os objetivos pessoais estejam em outra rota. Se aceitam, é porque sentem que podem ser mutuamente úteis.” No segundo cenário, estão as grandes empresas 100% brasileiras. De acordo com o treinador, essas ainda são mais incipientes na cultura preventiva do alinhamento. “Contratam visando apenas o custo inicial. Escolhem profissionais inexperientes para transferir aos novatos essa importante questão e muitas vezes, formam equipes cujas metas e objetivos pessoais não têm nenhuma relação com os da empresa”, explica. O resultado se reflete em números pouco promissores e aumento de turnover.
O terceiro cenário é composto por pequenas e médias empresas. “Evidentemente, há uma pequena fatia de exceções, mas a maioria desse perfil ainda procura meios de inserir metas e objetivos na marra, inclusive com ações punitivas para pessoas e equipes descumpridoras do estabelecido.” Frustrados por não conseguirem, pequenos e médios empresários procuram transferir a responsabilidade para a liderança e, não raro, o turnover entre líderes dá-se por essa inversão de papeis, segundo Menezes. “O líder deve acompanhar e deixar o ambiente prazeroso para que as metas e objetivos sejam factíveis, mas o primeiro e principal passo deve ser da empresa”, completa.
MUDANÇA DE CENÁRIO
O primeiro passo para trabalhar o alinhamento entre colaboradores e empresa é treinar os profissionais que cuidam da contratação, não apenas sob a ótica acadêmica, mas a inteligência emocional. De acordo com o especialista, é preciso feeling para enxergar o candidato ideal e o profissional de RH que o tem custa caro. Logo, empresários devem lançar mão da estratégia que funcionava na década de 1980 e hoje é inútil: nomear pessoas próximas, assim ditas “de confiança” para contratar. “Investir e profissionalizar a área de contratação dá retorno. Na entrevista de admissão, profissionais de RH estão preparadas para avaliar se os objetivos e metas da pessoa encontram alinhamento com aqueles definidos pela empresa. Já as pessoas de confiança estão preparadas apenas para ‘farejar’ se o candidato é honesto”, informa.
Porém, tão importante quando selecionar os profissionais com o perfil certo é manter o alinhamento. “Uma vez contratada e direcionada ao setor, a pessoa precisa de aproximação diária da liderança. Toda semana, os líderes devem lembrar a equipe dos objetivos e metas e mais que isso; devem lembrar que cada pessoa ali presente afirma que possui metas e objetivos semelhantes, o que gera unicidade entre empresa e funcionário.” Um segredo nesse ponto é contratar um líder capaz de fazer cada pessoa da equipe sonhar, perseguir e alcançar. “Por gratidão e fidelidade, estes darão tudo de si para que a empresa também alcance suas metas e objetivos. Este é o real alinhamento de alto impacto entre pessoa física e pessoa jurídica”, reforça.
Menezes pontua que poucas ações deixam os funcionários tão felizes quanto a preocupação verdadeira com os seus objetivos e suas metas de vida. Quando eles sentem que a empresa genuinamente quer saber dos seus anseios, se tornam desejosos de realizar os anseios da empresa. “O ser humano não pode ser tratado somente como número, mas a empresa depende de números para sobreviver e estes somente serão alcançados se o alinhamento de metas e objetivos for pauta constante nas discussões do cotidiano.” Quando o alinhamento ocorre, funcionários se sentem também proprietários da empresa. “Ofereço, pois, um desafio. Faça o antes e depois: tire uma foto da pessoa trabalhando sem alinhamento desta importante bússola. Alinhe as metas e objetivos da empresa com os pessoais. Um mês depois, tire outra foto da mesma pessoa. Você verá que parece outra”, acrescenta o especialista.