Muitos de nós estamos habituados a fazer check-up de saúde pelo menos uma vez por ano. Muitas empresas até obrigam seus executivos a fazer exames anuais. Mas nunca é cobrado deles um check-up profissional. Nem mesmo os próprios executivos têm essa preocupação.
Não há uma consciência de que uma carreira doente poderá resultar em sérios problemas de saúde para o profissional. O estresse causado pela carreira mal direcionada poderá reverter em problemas sérios, levando muitos profissionais à morte precoce. Por este motivo é que se faz amplamente recomendável que, pelo menos uma vez na vida, o profissional faça um check-up profissional para conhecer melhor suas características de personalidade, seus pontos fortes e fracos. Conhecendo-se melhor o profissional poderá entender os porquês de uma série de coisas que acontecem com ele, enquanto pessoa e enquanto profissional, podendo evitar problemas com sua empregabildade, e com sua saúde física e mental.
Nascemos predestinados para o trabalho, só que uma modalidade diferente daquela desenvolvida pela sociedade, a partir da revolução industrial. O homem nasceu para ser livre e ter a liberdade de ação. Contrariando o que vinha ocorrendo há milhares de anos, a revolução industrial impôs ao homem tarefas e horários, coordenados e controlados, sujeitos à punição. A partir de então o prazer pelo trabalho começa a decair e o ato de trabalhar passa a ser encarado como obrigação e não mais como prazer e auto-realização.
Conseqüentemente, a partir desta mesma época, surgem as doenças ocasionadas pelas somatizações das angústias ocasionadas pela pressão e pelo estresse originado pelo trabalho. Sem contar as doenças profissionais ocasionadas pelas péssimas condições de trabalho às quais os empregados eram expostos.
Apesar de toda evolução que a tecnologia traz para os processos de trabalho, pouca preocupação houve, no decorrer deste último século, com o principal ativo das organizações, o ativo humano, aquele que empresta vida aos demais ativos de uma empresa. Muitas teorias foram escritas e difundidas, entretanto, pouco se viu na prática de gestão das organizações que seja relacionado ao bem-estar humano no trabalho. Vamos entender como bem-estar humano o fato de deixar que as pessoas sejam elas mesmas, não a concessão de benefícios materiais. Aliás, os benefícios concedidos por uma empresa, servem quase sempre, como uma espécie de “algema dourada” para os funcionários, pois os vincula emocionalmente à empresa.
Não precisamos raciocinar com muita profundidade para percebermos que sem as pessoas as empresas não existem. No entanto, pessoas estressadas e doentes tornam as empresas também doentes. Há, contudo, muito pouca consciência por parte dos dirigentes empresariais sobre este fenômeno que, quando não tratado com o devido cuidado, poderá levar a empresa ao insucesso. O mesmo ocorre com os profissionais que se deixam levar pelo salário e pelo pacote de benefícios que são oferecidos a ele, em detrimento de sua própria saúde física de mental.
Ainda como produto da revolução industrial, e a partir da segunda metade do século XX, foram amplamente divulgados no planeta os programas de qualidade total. Criados por norte americanos, mas desenvolvidos no Japão, os programas de qualidade total foram e continuam sendo utilizados pelas mais variadas modalidades de empresas. Comprovando o pouco interesse pelo ser humano, somente a partir da década de 80, portanto após aproximadamente 50 anos de sua invenção, é que foi percebido que existiam pessoas envolvidas nos processos produtivos. Foi a partir de experiências bem sucedidas, desenvolvidas com empresas de serviços, que se passou a falar de pessoas no processo de qualidade, ou melhor, passou a ser observado o lado humano da qualidade dos produtos e dos serviços.
A era da globalização, que traz como componente básico a informação e, como conseqüência, a necessidade do conhecimento, pede que as pessoas trabalhem com a mente, e não com o coração. Quando falamos em equilíbrio emocional como sendo um dos requisitos básicos e indispensáveis ao profissional desta nova era, falamos automaticamente sobre o uso equilibrado da mente racional e da mente emocional. Neste momento vem a pergunta, primeiro para as empresas que fazem questão deste requisito e, na seqüência aos profissionais que estão expostos a essa exigência: Como ter equilíbrio emocional em ambiente de trabalho emocionalmente desequilibrado? Mesmo que as empresas consigam atrair no mercado de trabalho profissionais emocionalmente equilibrados para atuar em seus quadros funcionais, eles estarão desequilibrados em curto período de tempo. Primeiro há de se proporcionar ambiente de trabalho emocionalmente equilibrado e sadio, que proporcione qualidade de vida, e depois atrair profissionais para atuarem na mesma sintonia.
Existem hoje no mercado inúmeras consultorias especializadas em aconselhamento, as quais estão plenamente capacitadas para procederem ao check-up profissional como ferramenta essencial de definição ou redefinição de carreira. Normalmente elas utilizam ferramentas disponíveis pela psicologia empresarial para procederem ao levantamento das características de personalidade, pontos fortes e fracos, orientando os profissionais assessorados a melhorá-los. Há, no entanto, que se ter muito critério na hora da escolha da consultoria de aconselhamento profissional, visto existir entre elas muitas que pioram ainda mais a situação do assessorado. Antes da escolha final devem ser obtidas informações de alguns profissionais que tenham sido assessorados por estas empresas, para então tomar a decisão de contratação de seus serviços.
O check-up profissional não é somente recomendado aos profissionais mas também para as empresas. Da mesma forma que os seres humanos têm sua personalidade própria as empresas também têm. A personalidade da empresa é definida pela sua cultura, sua forma de ser e de agir com seus clientes internos e externos, com sua forma de atuar no mercado. Como ela é percebida pela opinião pública, define claramente seu estilo de personalidade.
Há somente uma diferença entre o check-up profissional recomendado ao profissional e o recomendado à empresa. Quando se trata de empresa o check-up deve ser feito com maior freqüência. A empresa deverá desenvolver ferramentas de marketing que mapeiem constantemente como ela está sendo percebida pelos seus públicos interno e externo. Os dirigentes da empresa devem ter sempre em mente que, quando eles não conseguem “vendê-la” para seus clientes internos, dificilmente eles a “venderão” aos clientes externos.
Sem perda de tempo, as empresas que pretendem se manter competitivas nesta nova era têm de adotar a prática do marketing de relacionamento como indicador de sua personalidade vigente, desenvolvendo o conceito de clientes internos – como sendo os protagonistas do ato de produzir e vender produtos e serviços – àqueles que compram seus produtos e serviços. Não só os clientes internos, mas também os externos poderão contribuir em muito por meio de suas sugestões e opiniões para o aprimoramento dos produtos e serviços, basta dar a eles a oportunidade de externarem suas idéias e sentimentos.
Na mesma linha de raciocínio os profissionais que pretenderem continuar empregáveis devem sem perda de tempo fazer seu Check-up e procurar rapidamente se adequar às exigência impostas pelos novos tempos. E principalmente continuar vivo e emocionalmente equilibrado para atuar neste novo espetáculo chamado globalização.
José Carlos Figueiredo é autor dos livros “O Cliente tem Mais do que Razão” e “O Ativo Humano da Era da Globalização”