Autor: Simon Wajntraub
É comum as pessoas com vocação de liderança apresentarem dificuldades de comunicação oral, tais como: voz fina, voz rouca, fala acelerada, fala lenta, troca de letras, vícios de fala e até gagueira. No que concerne à oratória, pode-se encontrar os tímidos constantes, os inibidos temporários, os prolixos, os objetivos em excesso, os descontrolados que só vivem exaltados e os passivos que não conseguem reagir sob pressão.
Quando iniciei a minha pesquisa, em 1968, no campo da fonoaudiologia e oratória, trabalhei no diretório do candidato a governador do Rio de Janeiro, Flexa Ribeiro, que seria o sucessor de Carlos Lacerda. Quando fui convidado para assistir a um discurso desse candidato, achei que o governador Carlos Lacerda havia escolhido mal o seu substituto. Flexa Ribeiro era um homem culto, mas pecava na sua comunicação oral, que era sem energia, sem vibração, lenta e até um pouco travada.
Seu concorrente, Negrão de Lima, no entanto, era bem melhor articulado e acabou ganhando a eleição pela sua segurança, simpatia e boa comunicação oral.
Esse exemplo demonstra como a força da fala pode ser decisiva na escolha de um candidato num posto de liderança. É de praxe executivos recorrerem às técnicas de oratória e aos próprios fonoaudiólogos para ter um poder de verbalização mais vivo e eficaz. Um dos métodos aplicados nessas circunstâncias é o treino “sob pressão”, quando se dá ênfase a voz, a fala e também a boa língua portuguesa.
Geralmente, submete-se o líder a uma sabatina de perguntas, para que ele se habitue àquela situação extrema. Faz-se a filmagem de discursos, debates, reportagens, falas de improviso para que ele possa ver o seu desempenho e realizar a sua própria avaliação. A partir daí, nota-se a evolução e construção de uma boa oratória.
Recordo-me de quando fui convidado para realizar um curso de oratória no Maranhão. Fiquei perplexo com a quantidade de executivos e empresários que se deslocaram de vários municípios do Estado. Havia um prefeito que possuía a voz fina, e, quando engrossei a sua voz, ele ficou com medo porque ele era, justamente, conhecido como o “prefeito da voz fina”. Então, seu medo passou a ser de que ele não seria mais reconhecido por seus eleitores? Dei uma sugestão de marketing: colocar o sufixo ´ão´ no seu nome e adotar um novo slogan: “o prefeito da voz grossa”. Deu tão certo que ele venceu mais uma eleição.
Só de políticos devo ter atendido em torno de três mil. Muitos do nordeste, Rio Grande do Sul, Paraná, Pará, Manaus, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Cuiabá.
A comunicação é a porta de entrada. É por ela que alguns domínios podem, e devem, ser alcançados, como a integração em um novo ambiente, a troca de experiências e o desenvolvimento de diálogos.
Aos que querem ter um poder de liderança mais decisivo é imprescindível investir na oratória, por se tratar de instrumento eficiente na transmissão de mensagens, além de que uma boa articulação é sinônimo de empatia – um dos substantivos mais utilizados hoje em dia para definir bons líderes.
Simon Wajntraub é fonoaudiólogo e fundador do Instituto de Oratória e Fonoaudiologia Simon Wajntraub.