Medo da automação

As pessoas com menos oportunidades de aprender novas habilidades digitais e com menores níveis de escolaridade têm mais medo do impacto da automação em seus empregos. Esses dados fazem parte de nova pesquisa da PwC, realizada entre 22 mil pessoas em 11 países, baseando-se na análise da firma sobre o impacto da automação nos empregos.
Enquanto 53% dos trabalhadores entrevistados acreditam que a automação irá mudar ou tornar seu trabalho obsoleto nos próximos dez anos (apenas 28% consideram isso improvável), a maioria (61%) enxerga o impacto da tecnologia no seu dia a dia de maneira positiva e 77% das pessoas se mostraram dispostas a aprender novas habilidades ou passar por uma reciclagem completa no intuito de melhorar sua empregabilidade.
No entanto, as atitudes – e a oferta de oportunidades de capacitação – variam de acordo com o nível de escolaridade e localização dos entrevistados. Há também disparidades de gênero e idade.
“A aquisição de novas habilidades para enfrentar os atuais desafios do mercado de trabalho será algo cada vez mais relevante na vida das pessoas. Todos terão que se preocupar com isso em algum momento de suas trajetórias profissionais. E as empresas, estando cada vez mais cientes dessa realidade, terão que buscar os caminhos necessários para ajudar seus colaboradores na medida do possível, de modo que estejam plenamente capacitados para os novos tempos”, explica o líder de Clientes e Mercados da PwC Brasil, Fábio Cajazeira.
O impacto da educação
As pessoas com maior grau de escolaridade são as mais otimistas em relação à tecnologia e suas perspectivas de emprego – embora acreditem que seu trabalho atual provavelmente passará por mudanças. Por outro lado, mais de um terço (34%) dos adultos sem escolaridade ou formação pós-secundária dizem que não estão aprendendo nenhuma habilidade na área digital se comparados a 17% dos formandos. Esses trabalhadores são menos propensos a receber qualquer tipo de capacitação por parte de seus empregadores (38% não têm essas oportunidades, comparando com 20% dos trabalhadores pós-graduados). Eles também estão mais preocupados com o impacto da tecnologia em seus empregos, com 17% se dizendo nervosos ou com medo.
“O descompasso entre as capacitações que as pessoas já possuem e aquelas necessárias ao ambiente digital está se tornando um dos principais problemas no mundo. Embora a tecnologia crie muitos empregos, as pessoas precisam adquirir tais habilidades e desenvolver um mindset que facilite sua adaptação a esse cenário. Existe uma grande vontade de aprendizado entre as pessoas, mas as oportunidades não são distribuídas de maneira uniforme e essa é uma questão que vai se tornar extrema caso não receba a devida atenção de governos, ONGs e empresas”, diz o líder global de Clientes e Mercados da PwC, Richard Oldfield.
Diferenças demográficas
Não é apenas a educação que exerce influência nas oportunidades e nas atitudes. Em grupos demográficos distintos, os dados mostram que pessoas com mais oportunidades de aprendizado têm maior probabilidade de enxergar o impacto da tecnologia de maneira positiva. Os homens são os mais propensos a isso e também são mais abertos a aprender novas habilidades (80% dos homens contra 74% das mulheres). Da mesma forma, jovens de 18 a 34 anos são mais otimistas sobre o futuro digital do que qualquer outro grupo etário.
Eles também estão recebendo mais oportunidades de treinamento. Por exemplo, 69% dos jovens entre 18 e 34 anos sentem-se favoráveis sobre o impacto da tecnologia em seu trabalho, na comparação com 59% dos indivíduos entre 35 e 54 anos e 50% dos que têm mais de 55 anos. Apenas 18% dos jovens entre 18 e 34 anos afirmam não ter oportunidades de aprender novas habilidades no universo digital. Para aqueles entre 35 e 54 anos e os que têm mais de 55 anos, os números variam entre 29% e 38%, respectivamente.
As pessoas estão divididas quanto às habilidades que querem aprender. As proporções são semelhantes entre os que querem se especializar em uma tecnologia específica e aqueles que querem aprender e se adaptar a diferentes tecnologias.
“Nem todos precisam ser capazes de escrever códigos de programação, mas precisam entender como a tecnologia irá mudar o ambiente de trabalho e pode beneficiá-las. O conceito de Upskilling remete a uma cultura contínua de aprendizado e curiosidade e isso é algo que muitas empresas estão enfrentando. Muitas vezes, são feitas suposições sobre o perfil de profissional a ser treinado e então surge um ciclo vicioso em que pessoas são deixadas para trás. Enfrentar o desafio da qualificação pode ajudar a melhorar a produtividade, que permanece baixa apesar dos trilhões de dólares investidos em tecnologia todos os anos”, explica a head de People e Organisation da PwC, Carol Stubbings.
Comparações entre países
A China e a Índia são, de longe, os países onde os profissionais são mais otimistas em relação ao impacto da tecnologia, embora sejam os mais propensos a acreditar que seus empregos passarão por mudanças. Os trabalhadores dessas regiões estão obtendo mais oportunidades de qualificação: 97% e 95%, respectivamente. Por outro lado, os do Reino Unido e da Austrália dizem ter menos oportunidades e tendem a enxergar o impacto da tecnologia de forma menos positiva.
Se as pessoas vivem em áreas rurais ou urbanas, isso também influencia suas atitudes. Nas áreas urbanas, 67% dos habitantes acreditam que suas perspectivas de trabalho vão melhorar com a tecnologia (48% são das áreas rurais) e 80% estão recebendo oportunidades de qualificação de seus empregadores, em comparação com 60% dos trabalhadores residentes nas comunidades rurais.
“A pesquisa dá uma ideia da lacuna de oportunidades para se adaptar ao mundo digital. Assumindo-se que as pessoas que responderam nossa pesquisa estão digitalmente mais conscientes, este cenário tende a ser mais radical se considerarmos toda a população”, diz Richard Oldfield.
A pesquisa foi feita a partir de um estudo da PwC que mostra que 30% dos empregos estarão em risco por causa da automação por volta de 2030, com base em análises feitas em 29 países. Enquanto isso, a edição 2019 da pesquisa CEO Survey da PwC mostra que a disponibilidade de habilidades é uma das principais preocupações entre 79% dos CEOs consultados.

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