Autor: Paulo Henrique Pichini
Fabricantes e provedores de serviços de cloud estão inundando o mercado de conceitos e pseudo ideias sobre cloud híbrida. Note que, entre os discursos e a realidade, temos nos deparado com um enorme abismo, abismo que pode facilmente ser ultrapassado. Para isso, no entanto, é necessário planejamento e, principalmente, conhecimento deste mundo novo que é a nuvem híbrida.
É importante deixar claro que a nuvem híbrida veio para ficar. O Gartner afirma que até o final de 2017 cerca de metade das maiores corporações do mundo estarão utilizando nuvens híbridas em seus ambientes de TI. Para o IDC, a migração para a nuvem híbrida é ainda mais premente: até o início de 2016 65% das grandes empresas utilizarão esse modelo. A edição de 2014 do relatório do instituto de pesquisa ScienceReport, por outro lado, anuncia: 81% das empresas já contam com implementações em nuvem pública e estão iniciando experimentos em nuvem híbrida.
O outro lado deste quadro é o tema deste artigo e é corroborado pela mesma pesquisa da ScienceReport.
Os 1200 CIOs norte-americanos entrevistados para este levantamento afirmam que 1 entre cada 3 pessoas gerenciando ambientes híbridos não foram suficientemente treinados para isso. 62% estão realizando um voo às cegas, com pouquíssima visibilidade sobre seu ambiente híbrido. 52% não sabem como identificar, na conta de serviços, o que foi contratado e o que está sendo entregue. E, finalmente, 75% dos entrevistados simplesmente não têm como controlar este ambiente em expansão constante.
Fica claro, portanto, que estão acontecendo confusões e imprecisões não só sobre o conceito da nuvem híbrida, mas, também, sobre sua correta implementação.
Talvez seja por isso que, neste exato momento, empresas estudam e avaliam de forma cautelosa e conservadora ambientes de cloud. Isto está sendo feito com o objetivo de colocar as empresas em um ritmo de crescimento de soluções de TI. Trata-se, na verdade, de uma atitude ainda retrógrada, especialmente quando comparada com a estratégia de empresas do Primeiro Mundo. A distância é maior quando a comparação é feita em relação às novas empresas que já nasceram digitais, sempre mais arrojadas.
Nem sempre o que parece nuvem híbrida é nuvem híbrida
Um ponto importante é que alguns movimentos que estão sendo anunciados como uma iniciação ao mundo das nuvens híbridas não são exatamente isso. Pode acontecer de uma empresa anunciar que tem soluções em nuvem híbrida e, para provar isso, listar vários fatos: que conta com um conjunto de máquinas virtuais em cloud pública, que usa aplicativos de produtividade pessoal/profissional como Google ou Microsoft Office365; outra possibilidade é afirmar que mantém laboratórios de desenvolvimento em conceito de nuvem privada. Ainda assim, não se trata de nuvem híbrida! Todos os casos acima dizem respeito ao uso de serviços de cloud pública e privada configurados de forma independente, sem compor um serviço hibrido.
A verdade é que as soluções de nuvem híbrida exigem profundo planejamento e, especialmente, a realização de alguns passos anteriores, decisivos para o sucesso da empreitada.
Já estressamos o tema de cloud, conceituando nuvens públicas e privadas, a elasticidade do modelo e, principalmente, o principio do resgate do usuário final, que com seus dispositivos móveis foi às compras de aplicativos, plataforma e até infraestrutura. Esse movimento de compra de serviços digitalizados está sendo feito a partir dos provedores de cloud pública existentes no Brasil e no mundo – afinal, é importante lembrar que o conceito de nuvem rompe fronteiras.
O primeiro passo na direção às nuvens híbridas é oferecer ao nosso usuário/cliente um ambiente controlado e seguro onde ele possa adquirir suas soluções e recursos de TI em modelo de autoatendimento. Estes portais são implementados em camadas de software e têm capacidade de orquestrar recursos e ainda controlar volume de compras, atribuir direitos e proibições a cada uma das áreas de negócios e, principalmente, fazer o billing, já considerando cada um dos centros de custos.
A presença do Marketplace é essencial
Esta sincronia baseada em mecanismos de software causa uma revolução no consumo de recursos de TI das empresas. Um dos frutos desta revolução é que cada usuário ganhe responsabilidades e passe a realizar processos em harmonia com seu perfil de negócios. Neste modelo, é absolutamente transparente para o usuário onde estão hospedados estes recursos. Mais do que isto, é transparente para o usuário onde estarão armazenadas suas informações de dados, voz ou vídeo. É este Marketplace (nome dado pelo mercado aos grandes portais de ofertas de recursos na nuvem) o ponto principal de interação do usuário e das áreas de TI. Nesta nova era a área de TI desenhou, provisionou e avaliou o perfil de cada colaborador e suas características de negócios antes de disponibilizar o “vending machine” de serviços de TI.
Desenhado este cenário e disseminada a cultura pelo uso do portal aos usuários, as estruturas de TI são sim as responsáveis por determinar que recursos serão disponibilizados e implementados internamente (os recursos em nuvem privada) e os recursos que ficarão em nuvem pública, ou de terceiros. Este mesmo grupo é o responsável por, juntamente com os provedores, determinar as politicas de segurança, os volumes, os SLA´s e os métodos de transição que serão fundamentais na definição do que é publico e o que é privado.
Alguns índices e padrões já se desenham no mercado – é o caso dos volumes de workloads (tráfego). Ora, se uma aplicação opera 24 horas por dia e 7 dias por semana, os cálculos de ROI e TCO sempre recomendam que ela esteja dentro de casa, com custos controlados. Muitas outras aplicações com características de criticidade, sensibilidade a critérios de transmissão, segurança e diversos outros aspectos passarão por uma sabatina de testes e análises que indicarão nitidamente onde devem estar em cada momento da evolução dos negócios da empresa.
Somente quando se ultrapassar todas essas fases e trabalhos será possível à empresa dizer que seus serviços estão em um ambiente de cloud hibrida.
Importância de discutir o conceito “cloud das clouds”
Neste quadro, parte dos recursos estará em rede privada e parte em pública e, o mais importante, esses “mundos” serão integrados por um ambiente comum e transparente ao usuário – o Marketplace. A evolução destes ambientes e o momento atual de mercado esta exatamente nas movimentações de aplicações ou soluções da nuvem privada para a pública. Dentro deste contexto, o maior desafio é a movimentação de um provedor de nuvem pública a outro, seja em minutos ou horas. Lembre-se que, a cada movimentação, todos os recursos que compõe a solução (roteamento, segurança, balanceamento, switching) devem se movimentar de forma homogênea. É por esta razão que tanto se discute a cloud das clouds ou mesmo a integração entre os provedores de nuvem publica.
Embora este assunto ainda esteja em aberto, grandes corporações que atuam simultaneamente em várias verticais de mercado têm planos e testes de ambientes híbridos, mas ainda com baixo volume de implementações reais, principalmente no mercado brasileiro. Do outro lado desta equação, os fabricantes investem em grandes merges e confederações para ganhar maior fatia de mercado e serem fortes candidatos a provedor da cloud das clouds.
O mundo digital, baseado em big data, redes sociais e mobilidade, já certificou e consolidou que nada existirá sem infraestrutura baseada em cloud. Com isso, as empresas que estavam fazendo pequenas experiências e testes de viabilidade devem acelerar seus investimentos e entendimentos ou correrão risco de desacelerar seu crescimento. Não há o risco de ficar de fora deste movimento – se a empresa ficar de fora da revolução que acontece agora, deixará de existir.
Paulo Henrique Pichini é CEO e president da Go2neXt Cloud Computing Builder & Integrator.