Autora: Carla Virmond Mello
Minha mãe tem 80 anos e joga voleibol, na realidade sempre jogou, desde os 8 anos. Isso por si só já seria incrível, mas ela ocupa ainda a posição de levantadora no time. Termos como: abrir a rede e acelerar na ponta fazem parte do vocabulário da minha mãe e aos 80 anos ainda em quadra quando entram na bola que seria dela, não com espanto escuto ela gritar: “Sai que a bola é minha”!
Confesso que quando adolescente achava isso “um mico”, hoje tenho muito orgulho deste grito. Entendo o que este brado significa além de garra, compromisso, comprometimento com a sua posição e com o que seu time espera dela, não se esquivar do seu papel e da sua responsabilidade. Afinal, ela escolheu estar ali!
Ela poderia ter sido modelo, mas se formou em jornalismo e trabalhou em uma das maiores empresas de comunicação do país. No auge da sua carreira pediu demissão e decidiu fazer trabalhos humanitários pelo Brasil. Atualmente dirige o programa de refugiados venezuelanos no estado de Roraima juntamente com a ONU, que por sinal nosso país é referência. Ela já perdeu a conta de quantas vezes foi questionada por esta escolha, mas sempre responde que decidiu fazer algo que a faça sentir absolutamente viva e cita o escritor Joseph Cambpell: “Dizem que o que procuramos é um sentido para a vida. Penso que o que procuramos são experiências que nos façam sentir que estamos vivos”. Enfim, ela escolheu estar ali!
O que essas duas histórias têm em comum fica muito evidente, o famoso propósito. E esse propósito também está presente no mundo das organizações e no papel do líder. Afinal, toda liderança começa com uma decisão que envolve compromisso. Sem falar que todo líder tem que estar consciente da sua responsabilidade, dessa sua “luta” que não tem nada de glamour. O exemplo que hoje é dado pelo líder só é válido se for genuíno, se ele for absolutamente responsável pela liderança que manifesta, pelo exemplo que transmite e pela paixão que faz o que faz.
Um desafio nos dias de hoje, já que os ambientes empresariais se tornaram muito próximos e transparentes, colocando o comportamento do líder sempre em cheque. Ou ele ama o que faz, coloca paixão no time e no negócio, anima (coloca alma literalmente) ou a falácia o levará ao fracasso iminente. Resumindo, não é algo inventado ou uma fórmula a ser aplicada. É uma missão pessoal a ser descoberta, é o tom da liderança.
Quando esse sentimento é verdadeiro, falar em propósito pessoal alinhado ao propósito da empresa torna-se desnecessário, já que ele ou ela como líder, é percebido como o “dono da bola”, ou seja, ninguém duvida que um jogo assim não dará certo, pois também ele escolheu estar ali!
Carla Virmond Mello é diretora Regional Sul da consultoria LHH e consultora de Carreira.