Autor: José Augusto Figueiredo
Todos no mercado já estão cansados de ouvir a expressão “apagão de talentos”. Em verdade, ela já virou uma panacéia tão batida que sua potência letal já perdeu força e em algumas conversas, ficou chata. Isso não significa que sua letalidade tenha enfraquecido. Ledo engano. Ela ainda é real e sua capacidade pode ser devastadora num contexto de crescimento sustentado do Brasil.
O fato curioso é que o problema é ouvido em alto e bom som em todas as esferas do mundo empresarial, alardeado principalmente pela área de recursos humanos e analistas de plantão. Deixando de lado a antropológica crença brasileira de que “no final tudo dá certo”, muito pouco tem sido feito de concreto para equacionar esse mega problema.
Se olharmos para um país que tem deficiências estruturais em portos, aeroportos, estradas, ferrovias, prédios comerciais e etc., podemos ingenuamente constatar que precisamos de engenheiros nesse país. Isso é lógico e fácil de perceber, certo? Sim, todos unidos em uni sono, alardeando o problema e nenhuma solução ou ação sistêmica concreta.
Por uma perspectiva, estamos diante de uma baita oportunidade do RH abraçar essa causa e finalmente conquistar o almejado status estratégico em suas organizações. Voltando ao tão batido caso de engenheiros e técnicos, podemos chegar a um déficit na casa de 150 mil profissionais em seis anos. Empresas dependentes dessa mão de obra e que pensam no longo prazo, já dormem a base de calmantes frente ao problema. Será que alguém surgirá com solução? O governo? Uma mega empresa?
Tudo indica que não… É um problema complexo, sistêmico que exige a união de empresas, escolas e universidades, MEC, governo e comunidades. Quem costura isso tudo? Quem poderá mobilizar as partes, aglutinar idéias, encaminhar representações, cobrar as lideranças políticas e etc. Por que não o RH? Os grupos de RH? RHs de empresas mais impactadas? Entidades de classe dos RHs? Ou o RH deixará o barco ir para o “Oceano vermelho de sangue”, no qual as empresas se canibalizarão por profissionais e os custos com talentos atingirão a estratosfera?
A percepção de oportunidade evidencia que esse contexto pode elevar o RH ao mais alto nível estratégico nas organizações. O que durante muito tempo parecia ser uma utopia fantasiosa. Será que conseguimos? Ou mais uma vez outras áreas funcionais ou o próprio CEO, em conjunto com consultorias irá assumir essa responsabilidade? Essa é a hora da verdade para os profissionais da cadeia de valor do RH.
José Augusto Figueiredo é vice-presidente, coach e consultor da LHH|DBM na América Latina.