Autor: Edilson Menezes
Ele é violonista e aprendeu sozinho. Aos 76 nos, mesmo sem ter frequentado escola de idiomas, o Sr. Waldecio, ou Decio para os amigos, fala um pouco de francês, italiano, alemão e russo. Assim foi a conversa entre o experiente Decio e seu filho, Wilson, um grande amigo deste articulista. Decio disse:
– Filho, a palavra da moda tem sido foco. Sabe porque as coisas são rápidas, por que a tecnologia e o foco são igualmente rápidos?
– Não. – Respondeu Wilson para o pai, com franqueza.
– Foco não vem da luz?A velocidade da luz não é 300.000km/s? Então, por isso o foco é rápido!
Decio assim concluiu seu sábio raciocínio, deixando Wilson perplexo. Quando eu soube deste diálogo, pedi autorização para dividi-lo com os leitores de minha coluna.
Talvez seja razoável considerar que cada pessoa imprime a própria velocidade diante de seus maiores desejos. Decio foi feliz em sua colocação e deixou para os labirintos de nossos caminhos um bom fio de novelo como guia.
A velocidade tecnológica acompanha a velocidade da luz e inadvertidamente muitas pessoas tentam acompanhá-la, direcionam energia, foco e disposição para alcançar resultados em semelhante velocidade. Isso é quase uma receita de bolo para desenvolver quadros depressivos.
A tecnologia pode alcançar resultados rápidos, mas o ser humano precisa entender que todo processo requer amadurecimento. Até mesmo o exercício de prosperar exige o curso de etapas.
Constato a velocidade e o foco que os mais jovens estão direcionando para ganhar dinheiro. Eles não sabem o alto preço a ser pago para quem deseja viver uma carreira executiva antes do amadurecimento. Sem equilíbrio emocional e comportamental, executivos sucumbem fadigados, estressados e frustrados, antes mesmo de alcançarem o ápice da carreira.
Estes mesmos jovens mais apressadinhos ainda não descobriram que investir em foco e pagar um preço superior ao que se deve pode ser nocivo.
Um jogador de futebol precisa se dispor a sofrer lesões aqui e acolá e enquanto se ausenta para tratamento, deve manter a boa forma física. O seu foco está na possibilidade de melhorar e voltar o mais brevemente possível.
Já o jogador de futebol lesionado que se permite entristecer diante do afastamento, querendo ou não, investe foco na piora de sua condição.
A velocidade de ambos, para melhorar ou piorar, será a mesma.
Preocupo-me como articulista, amigo, cidadão e pai, com os jovens que têm deixado a faculdade e carregam o sonho empreendedor, porém estão indispostos à pesquisa, leitura e ao treino do próprio comportamento. Eles querem ganhar mais e têm pressa, mas desconhecem que dinheiro se ganha através de conhecimento técnico e domínio da inteligência emocional.
Sem saber como funciona por dentro, resta ao ser humano apenas o que ele consegue ver por fora. O espelho informa se o corpo precisa ou não de cuidados extras, mas caprichosamente não revela como anda o seu estado de espírito e a sua disposição.
Com o coração dolorido e para o arrepio de meus pares articulistas que assim o defendem, foco não ajuda a vencer. É a velocidade que você emprega no foco que fará diferença.
Carlos, personagem que acaba de entrar neste argumento, investiu em foco. Queria ser engenheiro. Passou noites em claro, estudando sem parar. Sua namorada cobrava atenção. Decidiu terminar o namoro. Seus familiares sugeriam que fosse mais devagar e cuidasse um pouco mais de si, mas eram ignorados. De tão focado, raramente se lembrava de comer ou até mesmo de beber água. Alguns anos depois, tornou-se engenheiro e foi o primeiro da turma. Ora, o cérebro de Carlos aprendeu um padrão de doloroso esforço, registrando que vencer com rapidez é possível, desde que tenha foco, que se abra mão de muitas coisas e pessoas.
Vamos imaginar duas possibilidades para o seu futuro:
1. Agora engenheiro, Carlos repete na empresa o padrão de disciplina que imprimiu nos estudos. Ele não dá a menor bola para questões lúdicas. Seu negócio é retidão e tudo na vida se resolve através dos números. Será reconhecido em curtíssimo prazo porque é de conhecimento comum que as pessoas esforçadas e focadas se destacam. Em 5 anos será diretor e antes de completar 35 anos, talvez enfartará. Se sobreviver, aos 40 pode estar deprimido, sem amigos e sem namorada. Não pensem, meus amigos, que estou sendo profeta do caos. É apenas uma possível constatação, uma infeliz tragédia anunciada.
O desgaste físico e emocional de quem vive refém do foco e ignora a beleza da vida é tão certo quanto o resultado de 2+2.
2. Agora engenheiro, Carlos decide tirar um pouco o pé do acelerador. Continua focado na ascensão da carreira, mas estabeleceu a meta de 10 anos para chegar à diretoria. Enquanto isso, zelou pela saúde, encontrou um grande amor, está sempre acompanhado de amigos, buscou treinamento de atualização para manter-se competitivo como engenheiro e constantemente participa de treinamentos comportamentais para conhecer-se além da fronteira técnica.
A velocidade do foco fez a diferença e não o foco em si.
Pare, estude-se e recomece antes de adoecer o corpo e a mente. Afinal, o foco deve ser como uma luz que nos guia, mas com a velocidade errada, pode tornar-se sombra e só depende de uma pessoa para isso acontecer…
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])