Um telefonema por dia



Parecer da Secretaria Geral Administrativa (SGA) da Assembleia Legislativa, obtido pelo Jornal da Tarde, revelou que cada ligação recebida pelo serviço de call center 0800, criado pela Casa para atender à população do Estado, custou R$ 553,07 para os cofres do Legislativo. O cálculo foi apresentado ao presidente da Assembleia, Barros Munhoz (PSDB), em novembro do ano passado, como argumento para rescindir o contrato no valor de R$ 6,6 milhões com a Teleparticipação Assessoria, após 11 meses de serviço. Ratificada pela Mesa Diretora no dia 11 daquele mês, a rescisão virou alvo de inquérito civil no Ministério Público Estadual, que investiga acusação de “calote” do Legislativo apresentada pela empresa de call center.

 

O custo elevado do serviço é resultado de uma estimativa feita pela Assembleia no edital de licitação, em 2006, que não se confirmou. Em seu parecer, o secretário-geral administrativo, Celso Pinhata Júnior, relata que a Assembleia esperava receber 3,7 mil ligações por dia, mas registrou apenas 908 chamadas entre 18 de dezembro de 2008 e 7 de abril de 2009, ou seja, 13 ligações por dia, considerando apenas os dias úteis do período.

 

A Central de Atendimento ao Cidadão (CAC), como é chamado o serviço, foi ideia do ex-presidente da Assembleia, o atual secretário municipal de Gestão e Desburocratização, Rodrigo Garcia (DEM). A licitação foi feita por Garcia em junho de 2006, mas o serviço só foi inaugurado na gestão do ex-presidente Vaz de Lima (PSDB), em 17 de dezembro de 2008. O contrato foi julgado regular pelo Tribunal de Contas do Estado.

 

Durante quatro meses, a CAC funcionou com 12 pontos de atendimento (24 operadores divididos em dois turnos) entre 9h e 20h. Isso significa que os funcionários atendiam, em média, uma ligação por dia. Alegando baixa demanda, a Mesa Diretora reduziu a partir de maio de 2009 o número de postos para dois e o valor do total do serviço para R$ 2,7 milhões. Em novembro veio a rescisão, “por ausência de interesse público na sua continuidade”.

 

Abordado, o 1º secretário da Casa, Carlinhos Almeida (PT), afirmou que a atual Mesa Diretora chegou a divulgar o serviço de call center pela TV Assembleia, mas que, nem assim, o número de ligações aumentou. “Reduzimos os pontos de atendimento e vimos que ainda assim não havia demanda que justificasse o valor do contrato. É um serviço necessário e interessante para se aproximar do cidadão, mas o resultado era desproporcional”, disse. Segundo ele, a Casa pagou à Teleparticipação R$ 680 mil.

 

Embora a CAC tenha funcionado por 11 meses, o site da Assembleia informa que o serviço de call center está em “período experimental”. A reportagem chegou a ligar para o 0800-77-25377, há cerca de duas semanas, e ouviu de um atendente que se identificou como funcionário da Assembleia temporariamente deslocado para a função que realmente quase não há ligações para a CAC, mas que, mesmo assim, o serviço seria terceirizado novamente. A informação não foi confirmada pela Assembleia.

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