Estudo do Itaú Unibanco aponta alta de consumo com produtos relacionados à saúde íntima feminina e gastos com ferramentas de inteligência artificial como alguns dos insights dentro do varejo brasileiro
Os procedimentos médicos que permitem o prolongamento da idade fértil da mulher, como congelamento de óvulos e fertilização in vitro, tiveram alta de 89% no valor transacionado no primeiro trimestre de 2023, materializando um tema que vem sendo debatido pela sociedade, segundo estudo do Itaú Unibanco. O material ainda aponta que temas relacionados a cuidados pessoais sustentáveis, como calcinhas e biquinis absorventes, também estão em alta e cada vez mais acessíveis, e que cresceram também os investimentos em tratamentos capilares, como implantes. E no universo corporativo, outro tema do momento, as ferramentas de inteligência artificial, já aparecem com suas versões pagas.
Estes são alguns dos insights da “Análise do Comportamento de Consumo”, relatório da instituição financeira que, trimestralmente, traz um panorama dos gastos no Brasil — uma análise feita com base nas compras realizadas com cartões do Itaú Unibanco, nas vendas realizadas nos sistemas da Rede, empresa de meios de pagamentos do banco, e que inclui também as compras feitas com Pix na visão geral do estudo (considerando transações na modalidade feitas de CPF para CNPJ). Os dados compreendem as transações realizadas no 1º trimestre de 2023, na comparação com igual período de 2022 e, nesta edição, o estudo traz como novidades análises por faixa de renda, profissão e estado civil, além de uma ampliação das categorias observadas.
Tendências e novos comportamentos
Nos primeiros meses do ano, a alta de alguns setores indica tendências importantes no comportamento dos brasileiros. Entre eles, se sobressaem os investimentos na reprodução assistida, indicando que mais mulheres têm decidido adiar a maternidade — por diversas questões. No período analisado, os gastos com congelamento de óvulos e fertilização in vitro subiram 89%, com aumento de 52% na quantidade de transações, em ambos os casos, considerando as transações via Pix. O ticket médio é de R$ 4.480 (com queda de 20% em relação a 2022), o que se reflete na classe social que mais o utiliza: pessoas que ganham acima de 10 salários-mínimos mensais. Fazendo o recorte por estado civil, os solteiros representam 63%, enquanto os casados são 37%. Entre os estados com as maiores procuras pelos procedimentos estão São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Paraná.
Outro mercado que se destaca é o de menstrual care, relacionado à saúde íntima feminina e que abrange produtos como calcinhas e biquínis absorventes, coletores menstruais, discos e tampões. Como forma de pagamento, o Pix foi destaque no 1º tri de 2023, com incremento de 58% na quantidade transacionada no segmento, enquanto o valor transacionado caiu 40% – a queda do ticket médio desses produtos (atualmente em R$ 167, enquanto em igual ciclo do ano anterior chegava a R$ 436), favoreceu uma democratização de seu acesso. Entre as profissões que mais consomem produtos do segmento estão estudantes, advogadas, professoras, analistas de sistemas e médicas. A geração Y tem a maior parcela de consumidoras (54% do share); entre a população desta geração, houve uma alta de 48% na quantidade transacionada e de 27% no valor transacionado nestes itens no período analisado.
A aposta em tratamentos capilares também teve uma escalada, principalmente os relacionados a transplante e implante de cabelos. Neste segmento, o pagamento no crédito foi a principal escolha, com alta de 60% no valor transacionado e de 30% na quantidade de operações no período visado pelo estudo — e ticket médio de R$ 3.930. Pessoas que ganham acima de 10 salários representam 53% do share, mas o público que está na faixa entre 2 e 4 salários também têm investido nessas soluções de forma significativa, com crescimento de 82% na quantidade de operações no trimestre. Os homens representam 63% dos gastos com estes procedimentos; considerando apenas o gênero masculino, a alta na quantidade de transações foi de 56%. Ao se observar o recorte por idade, a geração Y se destaca, com 45% do share e 65% de alta nas transações.
Propensões corporativas
No ambiente corporativo, o uso de inteligência artificial ganha espaço com suas ferramentas pagas. O valor total gasto em ferramentas do tipo no cartão de crédito cresceu 196% no 1º trimestre de 2023, na comparação com o mesmo período do ano passado. A tendência mostra que ainda há muito espaço para crescer — atualmente, o ticket médio do setor é de R$ 127.
Entre as profissões que mais têm utilizado o recurso estão os analistas de sistemas (18%), seguidos por publicitários (9%), profissionais administrativos (8%), médicos (4%), professores (2%) e jornalistas (2%). A geração Y representa 53% do público que mais utiliza as ferramentas, enquanto a X vem na sequência, com 28% do share. O estudo ainda aponta que, por enquanto, os homens têm se engajado mais no tema — 81% dos consumidores são do gênero masculino. As empresas que mais se destacam na busca dos consumidores para o uso da tecnologia são ChatGPT (60% dos gastos) e Midjourney (38%).
Comportamento geral do varejo
No 1º trimestre de 2023, o valor total transacionado no varejo teve crescimento de 21% na comparação com o mesmo período de 2022, enquanto a quantidade de transações no intervalo analisado subiu 17%. Os números consideram as compras realizadas com cartões de crédito e débito do Itaú, aquelas transacionadas nas maquininhas da Rede e os Pix feitos por clientes Itaú pessoa física para pessoa jurídica.
Entre as modalidades de pagamento mais utilizadas no 1º trimestre, considerando o valor transacionado, o Pix segue com crescimento acelerado, com alta de 76%. No mesmo período, o cartão de crédito teve aumento de 17% e o débito, de 10%. Já quando se observa o share, o crédito ainda lidera como a forma de pagamento mais utilizada, com 58% do total; o Pix tem 25% e o débito, 17%.
As compras no varejo físico representaram 76% do volume em faturamento no 1º trimestre de 2023, enquanto o online ficou com uma fatia de 24%. Mesmo representando menor parcela, o consumo online segue avançando de forma relevante. Enquanto no ambiente físico os gastos no período aumentaram 13% em comparação ao 1º tri de 2022, no online esta alta foi de 21%.
Performance dos setores
O Turismo voltou à liderança entre os segmentos com maiores altas em valores transacionados, subindo 51% no trimestre, seguido por Cultura, Esporte e Lazer, com aumento de 45%. Observando especificamente este segundo setor, a geração Y (23 a 41 anos) é a que mais consome, e fica em evidência a busca por entretenimento em comedy clubs, com ampliação de 75% na quantidade transacionada. O ticket médio é de R$ 91, e o público que mais gasta nestes estabelecimentos tem renda entre 2 e 4 salários-mínimos mensais.
Os teatros seguem a tendência de alta no consumo e registram expansão na quantidade de operações, de 37%. Com ticket médio mais elevado, de R$ 364, a audiência que mais usufrui destes espaços tem renda entre 8 e 10 salários. Os cinemas também seguem entre as principais escolhas de lazer dos brasileiros, com alta de 35% no número de transações no período. Com ticket médio de R$ 91, quem mais consumiu nestes espaços foram pessoas de até 1 salário.
Fazendo um recorte no setor de Mercados, dois subsegmentos se destacam: os atacarejos e os micromercados. Quando se analisa o comportamento de consumo nos atacarejos — grandes supermercados que vendem tanto no atacado, quanto no varejo, oferecendo em geral preços mais baixos — observa-se um aumento de 21% no valor total transacionado no cartão de crédito e de 22% na quantidade de transações no período analisado (considerando apenas os supermercados, a alta foi de 12% e 10%, respectivamente). O valor médio gasto nestes estabelecimentos por pessoas físicas (que representam 96% do share) é de R$ 348, enquanto no caso das pessoas jurídicas (4% das compras) é de R$ 950.
A renda média de quem mais consome nestes estabelecimentos é de quem recebe entre 2 e 4 salários-mínimos mensais (25% do share), e 59% das compras são realizadas fora das capitais, especialmente nas cidades de regiões metropolitanas ou interior. Três cidades paulistas ficam nas primeiras colocações: Guarulhos, seguida por Campinas e Santo André.
Já quando se investiga os hábitos de compra em micro markets, – espaços de autoatendimento que têm despontado especialmente em condomínios – a quantidade de transações teve alta de 77%, enquanto o valor transacionado subiu 64% no período contemplado pelo estudo, com ticket médio de R$ 37. Traçando o perfil de quem mais consome, 62% são solteiros, com renda entre 4 e 8 salários. A grande maioria das compras é realizada em capitais (72%), com São Paulo liderando, seguida por Brasília e Curitiba. A análise identificou ainda que os dias em que este público mais consome nos micromercados são aos finais de semana, no período da noite.
Meios de pagamento
Os pagamentos com o Pix seguem com crescimentos expressivos entre os clientes do Itaú. No 1º trimestre de 2023, a alta foi de 136% na quantidade de operações (ante o mesmo período de 2022), e de 76% no valor transacionado, com ticket médio de R$ 323 — considerando os Pix realizados por clientes pessoa física (CPF) para contas de pessoa jurídica (CNPJ). As regiões do país que se sobressaem com os maiores crescimentos em quantidade de transações foram Norte (+149,6%), Nordeste (+149,4%) e Centro Oeste (+117%). Nestas localidades, os estabelecimentos nos quais o recurso foi mais utilizado foram, respectivamente, produções teatrais (+164%), distribuição de água (+136%), e estética e massagem (+209%).
Com relação ao uso do cartão virtual, que oferece mais proteção nas transações feitas pela internet, também há um incremento importante: considerando o valor transacionado, ele já representa 22% das compras com cartões Itaú realizadas online — em 2020, esse número era de 3%, e no ano passado, de 14%. No primeiro trimestre de 2023, a modalidade de pagamento teve elevação de 103% na quantidade de operações e de 73% no valor transacionado (na comparação com mesmo período de 2022). As gerações Y (28 a 42 anos), e X (43 a 57 anos) se mantêm entre as que mais utilizam a funcionalidade, com share de 50% e 27%, respectivamente. Os zennials (13 a 27 anos), correspondem a 14% das transações, e os babyboomers (acima de 58 anos), a 9%.
Analisando os pagamentos por aproximação, com cartões e carteiras digitais (que proporcionam mais segurança e praticidade), o avanço também é relevante: o volume de compras realizadas com a tecnologia Aproxime e Pague (ou NFC, do inglês Near Field Communication), teve alta de 77% na quantidade transacionada, e de 87% no valor transacionado. No momento do pagamento, as pessoas têm aderido cada vez mais às tecnologias, alcançando 44% de todas as transações realizadas nas maquininhas — no mesmo período de 2021, esse número era de 7%. Entre os estabelecimentos nos quais o recurso é mais utilizado estão os do setor de alimentação (representando 32% do share na quantidade de transações), seguidos por mercados (17%), postos de gasolina (8%), drogarias e cosméticos (7%) e cultura, esporte e lazer (6%).
No 1º trimestre de 2023, 51% dos brasileiros optaram em pagar as compras à vista, enquanto 49% parcelaram as compras realizadas com cartões de crédito. Nas aquisições em uma única vez, o valor transacionado teve aumento de 17%, e de 15% na quantidade de operações, com ticket médio de R$ 82. Já em parcelas, a ampliação do valor transacionado foi de 16%, enquanto o número de operações subiu 5%, com ticket médio de R$ 517.