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Pedro Fagundes e Fernando Aguirre

Desafios e oportunidades do maior mercado consumidor brasileiro

Já há uma série de fatores que favorecem a prospecção e incremento do mercado de consumo do interior de São Paulo

Autores: Fernando Aguirre e Pedro Fagundes

O consumo menor das famílias – decorrente dos efeitos remanescentes da pandemia, risco de inflação acima da meta de 5%, juros altos, desemprego e cenário eleitoral de elevada polarização – é um dos fatores responsáveis pela estimativa do Banco Central, de baixo crescimento do PIB em 2022, de 1%. As projeções do mercado, expressas no Boletim Focus, são ainda menores, de apenas 0,5%.

Nesse cenário, o fomento do varejo, numa visão mais ampla, é um desafio a ser entendido como oportunidades. Prospectá-las implica, necessariamente, focar e investir no interior paulista, que detém o maior PIB regionalizado e é o maior mercado consumidor do Brasil. No ano passado, representou cerca de 15% do total nacional e 53% do estadual, segundo o estudo IPC Maps 2021, baseado em fontes de instituições oficiais. O e-commerce também merece atenção. Segundo projeções da Pesquisa Conjuntural do Comércio Eletrônico (PCCE), elaborada pela FecomercioSP, seu faturamento no Estado de São Paulo deverá crescer 7% em 2022, atingindo R$ 46,2 bilhões. Pelo menos metade desse valor refere-se às 606 cidades não localizadas na Região Metropolitana.

Para avaliar o potencial do mercado consumidor do interior paulista é importante entender o significado do agronegócio de São Paulo, que responde por aproximadamente 20% do nacional e influencia de modo significativo o desempenho do varejo, desde alimentos, passando por eletrônicos e moda, até bens de alto valor agregado, como veículos. Por isso, um dado específico deve ser observado com especial atenção: a safra brasileira de cereais, leguminosas e oleaginosas deve fechar 2022 com o recorde de 278 milhões de toneladas, uma alta de 10% em relação a 2021, de acordo com prognóstico do IBGE.

Além de seu peso na produção nacional, o agronegócio paulista, concentrado no interior, pois na Região Metropolitana há culturas basicamente de hortigranjeiros, apresenta números relevantes no comércio exterior. Os dados mais recentes do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo mostram que, no resultado do acumulado de janeiro a novembro de 2021, na comparação com o mesmo período do ano anterior, as exportações cresceram 9,0%, alcançando US$ 17,34 bilhões. As importações aumentaram 11,2%, totalizando US$ 4,16 bilhões. O superávit foi de US$ 13,18 bilhões, 8,3% superior ao mesmo período de 2020. A participação das exportações setoriais no total do Estado é de 35,8% e nas importações, 6,8%. 

Outra informação importante é que, segundo o CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP, o agronegócio paulista cresceu 8,27% em 2020. Trata-se da alta mais intensa desde 2010, quando sua expansão atingiu 12,17%. O segmento representa 14% do PIB do Estado, maior participação da série histórica, iniciada em 2008.

Um aspecto chama bastante atenção: segundo pesquisadores do CEPEA, as atividades pós-porteira da pecuária e da agricultura, constituídas pela agroindústria e agrosserviços, mantiveram as maiores participações no PIB do setor em 2020. O dado evidencia, por exemplo, a existência de muitas empresas que cultivam alimentos, os customizam, embalam e comercializam. O interior é um forte protagonista dessa cadeia verticalizada de abastecimento e consumo.

É exatamente no contexto dessa agroindústria paulista que alguns fatores tributários deverão contribuir para atenuar os obstáculos presentes na conjuntura nacional e ajudar no aproveitamento de oportunidades do comércio como um todo. Medida adotada no final de 2021 pelo Governo de São Paulo, com reflexos em 2022, reduziu de 13,3% para 3% a alíquota do ICMS de sucos e bebidas naturais, incluindo o de laranja. Além disso, foi antecipada a desoneração do imposto de 2023 para 2022 para diversos setores, como medicamentos, que terão isenção, e veículos usados, com alíquota de 1,8%, além de alimentos e bebidas, agronegócio, reprodução animal e embarcações.

Também passou a funcionar o E-credRural, que melhora e agiliza o processo de gerenciamento de créditos de ICMS de produtores rurais. A escrituração, homologação e autorização de uso do recurso ficaram mais fáceis, ágeis e transparentes. O acesso mais rápido a esses recursos ajuda bastante no presente cenário de juros altos. Isso evidencia a importância do aporte tecnológico das empresas para a gestão dos tributos.

Se, por um lado, a conjuntura nacional segue permeada de incertezas, há uma série de fatores que favorecem a prospecção e incremento do mercado de consumo do interior de São Paulo. Para isso, além do que já abordamos aqui, será fundamental atender às experiências dos clientes, respeitar e garantir sua segurança cibernética em todas as transações, adotar práticas eficazes de responsabilidade socioambiental, investir no e-commerce e na logística de distribuição, manter distintos canais de venda e, principalmente, entender o consumidor como o centro de todos os negócios.

Quem já está preparado para cumprir tais requisitos sai na frente, em 2022, na disputa pela preferência dos habitantes dos municípios paulistas. Estamos falando de um contingente populacional cada vez mais antenado com as mais avançadas tendências globais.

Fernando Aguirre é sócio de Mercados Regionais da KPMG no Brasil.

Pedro Fagundes é sócio-diretor da prática de Tributos e colíder de Tributos para o setor de Consumo e Varejo da KPMG no Brasil.

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