Valéria Barbosa e Ricardo Oliveira Neves

É possível liderar com sucesso e respeito em um quadro de alta complexidade?

Especialistas debatem o cenário atual repleto de desafios para os líderes envoltos na missão de propósito e resultados

Um dos principais fatores de ainda existirem os chamados ambientes tóxicos nas organizações – afetando clima, produtividade, atração e retenção de talentos – está na ausência de uma cultura verdadeiramente colaborativa. Notadamente pela falta de compreensão dos líderes sobre a subjetividade envolvida nas pessoas que formam as equipes. Algo em que se adiciona hoje um ingrediente de alta complexidade que é a existência de quatro gerações convivendo nas empresas, todas com valores e perspectivas completamente distintas. Isso tudo impõe um grande desafio para as lideranças, cuja responsabilidade sobre o propósito da organização demanda significativa capacidade de estudo e comunicação estratégica. A forma como é possível enfrentar esse cenário e se criar quadros construtivos que se tornam diferenciais competitivos foram debatidos, hoje (03), por Valéria Barbosa, gerente de gente e gestão do Digio, e Ricardo Oliveira Neves, consultor de estratégia, comunicação e marketing social, no Sextou que marcou a 655ª edição da Série Lives – Entrevista ClienteSA.

Coautor do livro O Fim da liderança tóxica nas organizações (Editora Neo21, 2022), o consultor iniciou o bate-papo explicando que sua aproximação com os profissionais de RH foi em função da trilogia que escreveu envolvendo assuntos de desenvolvimento organizacional, tais como atração e retenção de talentos e outros. Falando de Berlim, ele afirmou que o líder tem de ser, hoje, um facilitador da mudança de mentalidade nas empresas. Fora disso, não há saída, em função da dinâmica imposta pela globalização, vetando o mindset estático e fechado. “Essas aparentes crises simultâneas são, na realidade, transformações que precisam ser feitas e que requerem muita proatividade em busca da nova mentalidade.” Para isso, frisou o especialista, a comunicação estratégica é crucial.

O livro, escrito a quatro mãos com Rosângela Angonese, foi pensado nesse tipo de parceria para ampliar as possibilidades, somando a visão feminina, de analisar as organizações presas ao espírito de comando e controle, explicou Ricardo. Uma cultura que diz ser herdada das históricas formações militares e religiosas em um contexto patriarcal, do “macho alfa”, o “super-herói” e do proverbial “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Dessa forma, o consultor disse que a discussão da liderança tóxica em sua obra mais recente pretende colocar em pauta uma metodologia para desenvolver organizações baseando-se em times e motivação com propósito, em uma cultura colaborativa. Uma nova mentalidade que, na sua opinião, tem que extrapolar as paredes das empresas e alcançar também as lideranças das nações, evitando-se os dramas que causam com sua toxidade. E deu exemplo do que ocorre na guerra duradoura da Rússia contra a Ucrânia.

Depois de explicar a problemática de atração de talentos verdadeiros em um ambiente não colaborativo e em uma realidade onde a inteligência artificial substitui os trabalhos mais simples, Ricardo passou a palavra para Valéria, que transpôs as temáticas para a realidade do Digio, onde, assegurou ela, há toda atenção de efetuar essa comunicação estratégica, incluindo colaboradores próprios e terceirizados. “Outro fator que merece nosso foco é manter a inteligência artificial construindo com seus algoritmos, mas tendo a consciência de que quem trará as dores e anseios dos clientes são aqueles colaboradores que estão na linha de frente do relacionamento. Cabe a nós, os líderes, valorizarmos isso com as equipes que permitirão o cumprimento do propósito da organização de oferecer uma jornada de sucesso em toda a base.”

Ampliando essa visão, a executiva colocou em relevo o olhar das lideranças do bantech também para a experiência das pessoas que compõem a organização. Em se tratando de um banco digital, ela entende que já nasceu em um ambiente que favorece as lideranças ágeis, avessas ao comando e controle e que evitam também a construção de “heróis”, a partir de uma cultura bem mais colaborativa. “Temos equipes multidisciplinares que demandam muita preparação e muitos motivadores, formas de engajar, que alcançam os 430 colaboradores da empresa. Desenvolvemos um grupo de propósito que dissemina internamente os valores do banco, formado por voluntários justamente por acreditarem muito nos mesmos. E tanto os contratados quanto os terceiros foram incorporados à organização porque são talentos que creem nesse mesmo propósito.”

Quando indagados sobre os desafios das lideranças em relação aos aspectos geracionais da atualidade, Ricardo foi enfático em destacar que se trata realmente de algo complexo, pois existem quatro gerações trabalhando juntas, todas com mentalidades distintas: baby boomers, geração X, millennials e geração Z. “Cada uma delas é dotada de valores que são, para si, mais importantes que os da empresa. Portanto, diante de tanta subjetividade, a forma como as lideranças têm de trabalhar para motivar todos esses jovens para construir em uma mesma direção é realmente desafiador.” Depois de esmiuçar as visões diferentes que impõem a alta complexidade do problema, o especialista abordou uma das saídas que é a capacidade conversacional do líder, embasada nos aspectos subjetivos do interlocutor. Enquanto Valéria não apenas concordou como deu exemplos práticos dentro do Digio, em que até simples comunicações são feitas por meio da linguagem de pessoas de gerações distintas a fim de se obter abrangência no resultado. Houve tempo, ainda, para os especialistas falarem de questões como liderança e saúde mental, produtividade, flexibilidade no trabalho, tolerância, respeito, automação, entre muitas outros temas.

O vídeo, na íntegra, está disponível em nosso canal no Youtube, o ClienteSA Play, junto com as outras 654 lives realizadas desde março de 2020. Aproveite para também se inscrever. A Série Lives – Entrevista ClienteSA retorna na segunda-feira (06), com a presença de Cynthia Kitasato, superintendente de estratégia de experiência do cliente da Alelo, que falará do programa de CX na orquestração da cultura cliente; na terça, será a vez de Heloisa Pinho, country manager do Waze no Brasil; na quarta, Rogerio Guandalini, diretor comercial e marketing da Europ Assistance Brasil; e, na quinta, Guilherme Perondi, vice-presidente da Swiss Re Corporate Solutons.

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