Cofundadora da Sororitê detalha o ecossistema voltado à capitalizar recursos para iniciativas femininas
Pesquisas internacionais indicam que, em empreendimentos fundados por mulheres, cada centavo aplicado retorna triplicado, na comparação com os investidos em startups de homens. Muito disso se deve pelo fato de serem mais cuidadosas no estudo de tudo aquilo que possa minimizar os riscos na abertura do negócio. Foi verificando justamente o quanto essa realidade contrasta com a dificuldade de captar investimentos pelas empreendedoras que Flávia Mello e Erica Fridman Stul criaram o Sororitê. Trata-se de um ecossistema que reúne investidoras anjo focadas em impulsionar startups em estágio inicial (pre-seed) fundadas por mulheres. Em menos de um ano e meio, esse negócio – que nasceu de uma comunidade informal de Whatsapp – já levou mais de R$ 3 milhões a jovens iniciativas. Casos reais e características dos desafios dessa rede impulsionadora foram compartilhados por Flávia, hoje (13), ao longo da 501ª edição da Série Lives – Entrevista ClienteSA.
Iniciando pela história da criação da Sororitê, a executiva explicou que se trata de um grupo de investidoras anjo, mulheres dispostas a aportar recursos em empreendedoras iniciantes. Ou seja, em empresas que estejam dentro dos seus três primeiros anos de existência. Segundo ela, esse universo de aplicadores de recursos que apostam nos novos negócios é formado por apenas 10% das pessoas do sexo feminino. Sendo que, aponta sondagem da Harvard, estas são três vezes mais dispostas a investirem em outras mulheres. Contrastando com isso, hoje, não mais do que 0,4% do dinheiro que impulsiona as startups vem delas, segundo Flávia.
“Quando olhamos para a realidade, somente 9% dessas novas empresas são fundadas por sócios de ambos os gêneros e 4% exclusivamente por fundadoras mulheres, que, ainda por cima, encontram muita dificuldade para captar recursos. É para amenizar esse problema que nosso fundo existe.”
Criado há um ano e dois meses pelas investidoras Flávia Mello e Erica Fridman Stul, recentemente associadas a Mariana Figueira e Jaana Goeggel, o Sororitê possui uma rede que soma 70 investidoras e já captou, nesse período, cerca de 3 R$ milhões. Na concepção da executiva, trata-se de um ecossistema inovador, se não em matéria de tecnologia, muito significativo em termos conceituais. “Uma forma de reunir pessoas e construir uma comunidade que irá capitalizar mulheres empreendedoras em estágio inicial.”
Como ex-executiva de startups que se tornaram big techs globais, como Facebook e Uber, Flávia disse que isso influenciou em sua decisão, sabendo como filtrar o que funciona e o que não se torna recomendável nesse tipo de iniciativa. Ao mesmo tempo, chamava a atenção esse gap existente entre as oportunidades e as iniciativas femininas. Uma das descobertas foi a de que se perde muito tempo explicando, aos investidores do sexo masculino, detalhes de empreendimentos voltados para as aspectos muito peculiares da saúde, hábitos e gostos do universo feminino. Desde as primeiras reuniões entre empreendedoras e investidoras, segundo ela, o entendimento é muito mais fluido e produtivo. A despeito disso, a executiva salienta que a destinação de recursos não se concentrará unicamente em startups especializadas em assuntos específicos do quesito gênero. Basta dizer que a maior injeção de recursos proporcionada até hoje pelo fundo foi na área da agricultura.
Indagada se houve dificuldade para reunir esse grupo de investidoras, Flávia fez questão de frisar que essa foi a parte menos difícil, porque, em suas palavras, “havia um grande desejo das mulheres se conectarem nesse sentido. Abrimos uma comunidade de Whatsapp que se comunicava visando achar soluções e, de repente, já éramos um CNPJ com faturamento”. E, respondendo sobre um dado do FMI, segundo o qual ainda levará 136 anos para que haja igualdade nos salários e oportunidades entre homens e mulheres, se isso seria diferente em termos de empreendedorismo, Flávia disse que não há como “romantizar” também sob esse aspecto. Para a cofundadora do Sororitê, a maioria das mulheres que empreendem o faz por causa das limitações sofridas no mercado de trabalho. Principalmente em função de questões ligadas à maternidade e à maior carga doméstica. O que não representa a realidade das fundadoras de startups, estas sim as que se arriscam em iniciativas por opção consciente. “Mas, a realidade é que, enquanto estas enfrentam a resistência masculina de injeção de capital, aquelas esbarram na dificuldade de acessar o crédito no mercado financeiro”.
Na sequência, ela mostrou a inadequação desse cenário, uma vez que, de acordo com pesquisas, o retorno do capital investido em empresas fundadas por mulheres é três vezes maior que nas estabelecidas por pessoas do gênero masculino. “Como são em menor número e estão conscientes das barreiras, elas estudam mais antes de se jogarem arriscando bem menos.” A executiva pôde ainda descrever os perfis de investidoras anjo, com exemplos dentro do ecossistema criado, sempre havendo afinidade, propondo-se até a incrementar conhecimento e network nas iniciativas apoiadas. “Acaba acontecendo uma sinergia e um alinhamento para o bem do negócio”, concluiu.
O vídeo, na íntegra, está disponível em nosso canal no Youtube, o ClienteSA Play, junto com as outras 500 lives realizadas desde março de 2020. Aproveite para também para se inscrever. A Série Lives – Entrevista ClienteSA terá sequência amanhã (14), com a presença de Wilson Rodrigues, diretor geral da FAC-SP, que falará do ensino de CX para formar cultura cliente no varejo; e, na quarta, será a vez de Renato Camargo, vice-presidente de customer experience da Pague Menos, que abordará a aceleração de cultura CX com base em inovação.