Mais uma vez, a tecnologia deverá fazer a diferença, mas em um cenário que, neste ano, é mais nebuloso
Autor: Eneas Zamboni
Desde que começou a ganhar força no Brasil, em 2012, a Black Friday ganhou o status de data mais importante do varejo. Dez anos depois, o calendário parece ter pregado uma peça nos lojistas: a Copa do Mundo e os feriados seguidos em novembro devem trazer, no mínimo, muitas surpresas para o dia D de compras na internet.
Pela primeira vez, teremos o principal evento de futebol sendo realizado em novembro, com estreia da seleção brasileira agendada para às quatro da tarde do dia 24 – véspera da Black Friday. Aliás, todos os jogos do Brasil na Copa serão realizados em horário comercial, o que historicamente ocasiona trânsito intenso em horários não convencionais, por conta da dispensa dos colaboradores antes do término do expediente.
E o que a Black Friday tem a ver com isso?
Como especialistas em logística inteligente, precisamos prever que os carros de entrega estarão em meio a esse trânsito, o que possivelmente altera os prazos de recebimento. Além disso, existe a possibilidade de muitas pessoas não estarem em casa para receber suas encomendas, afinal há uma parcela grande de torcedores que programam assistir os jogos no restaurante ou no bar de sua preferência.
Mas essa não é uma verdade absoluta, contando que a cultura do home office é realidade em muitas empresas. Talvez, a maioria delas opte por manter o colaborador trabalhando de casa em vez de dispensá-lo duas horas ou mais antes dos jogos. Mas é fato que grande parte das empresas retornaram ao trabalho presencial. Uma pesquisa divulgada em dezembro do ano passado, realizada pela startup de recrutamento chamada Revelo, com mais de 24 mil companhias, indicou que 61,8% das empresas de tecnologia planejavam na época retomar o trabalho no escritório. Certamente, em setores mais conservadores, esse número é bem maior.
Nunca vivemos isso. A última Copa do Mundo ocorreu antes da pandemia, em um cenário mais previsível e em meio a uma cultura muito menos digital. As pessoas compravam muito menos online e não tinham tanta expectativa quanto à rapidez das entregas. Só o acúmulo de vendas por si só, ano a ano, já faz de cada Black Friday um evento único, imaginem com tantos desafios a serem mapeados.
Outro deles é a concorrência entre first e last mile, que vem aumentando significativamente com a entrada de players orientais no setor. Há muitos pequenos lojistas comercializando itens de valores menores e os entregadores começam a se ocupar dessas entregas. Sabemos que os recursos para entregas fracionadas são um gargalo para o crescimento do e-commerce, e nesta Black Friday isso deve ficar mais evidente. Infelizmente, não é possível aumentar o número de entregadores na mesma velocidade em que o segmento cresce. Se há um pico de volume, são necessários mais carros – o que não é tão simples de se conseguir.
Em todas as outras etapas da logística, é possível escalar de maneira tranquila. Podemos ampliar CDs, inaugurar novos, fazer transferências com mais carretas. Porém, a entrega é muito mais complexa de ser escalada.
Por fim, temos o desafio da tecnologia, que em breve entrará em período de freezing. A maioria dos players faz isso em setembro e já estamos quase lá. Até meados de outubro, eles já finalizam os testes de estresse em toda cadeia de sistemas para testar sua performance e a casa parece arrumada para atender os consumidores ansiosos por promoções. Com a diferença que, este ano, o cenário é mais nebuloso.
Sem dúvidas, este será um novembro de muitas surpresas para o varejo. E mais uma vez, a tecnologia vai fazer diferença em um cenário tão peculiar.
Eneas Zamboni é CEO da UX Group.