Leonardo Afonso, Guilherme Sortino, Saulo Marti e David Fiss

O novo panorama do consumo alimentar no Brasil

Executivos de Diferente, Kantar, Papapá e Typcal debatem o quadro atual e as perspectivas do mercado a partir dos novos hábitos dos consumidores

O consumidor brasileiro está cada vez mais apto a trocar de marcas, notadamente no universo do consumo alimentar, principalmente por terem acesso maior à informações que vão ao encontro de suas expectativas de produtos mais saudáveis e condutores de bem-estar. Esse é o panorama que se descortina no setor, em uma realidade pós-pandêmica, em que cresceram, de um lado, os canais digitais de informação e, de outro, tecnologias que proporcionam o surgimento de empresas com novas propostas de alimentação. E, enquanto se eleva o grau de conscientização sobre a importância dos produtos saudáveis na mesa dos brasileiros, vão surgindo projetos que buscam permitir o acesso das classes de menor rend  a esses produtos. Este é parte do quadro descrito por David Fiss, diretor de serviços ao cliente e novos negócios da Kantar Worldpanel, Saulo Marti, co-fundador e CMO da Diferente, Leonardo Afonso, CEO da Papapá, e Guilherme Sortino, co-fundador e CFO da Typcal, ao debaterem as mudanças no consumo alimentar no Brasil, hoje (21), durante a 741ª edição da Série Lives – Entrevista ClienteSA.

Iniciando as análises do tema, David chamou a atenção à tomada de uma maior consciência dos consumidores a respeito da alimentação durante a pandemia. Com o hábito de fazer as refeições com muito mais frequência dentro do lar em todo aquele período, teria, então, crescido o nível de atenção sobre o que se estaria consumindo à mesa nos momentos das refeições. Na sequência, o pesquisador aproveitou para dar um esboço das diferenças registradas no pós-pandemia, tanto em termos geracionais quanto de poder aquisitivo. A tendência dos consumidores das classes C, D e E, já muito endividados, é se concentrar mais na compra dos produtos básicos da alimentação, principalmente visitando com frequência os chamados atacarejos, enquanto os mais jovens e de maior renda pendem para a maior utilização dos diversos canais de compra.

Além disso, na concepção do executivo, o consumo alimentar fora de casa se mantém ainda aquém do período anterior não em função de um eventual fortalecimento dos sistemas de delivery – os quais, segundo as pesquisas da Kantar, até recuaram na atual conjuntura -, mas sim em função dos custos considerados acima do que o bolso permite no consumo em bares e restaurantes. Em relação às marcas, os dados registram uma maior procura do consumidor por aquelas que ofereçam produtos mais saudáveis, maior bem-estar e mais propensos a considerarem na prática as recomendações de especialistas e opiniões de pessoas mais próximas. “Nossas sondagens apontam que 30% dos clientes irão experimentar e trocar de marcas ao longo do ano, Por isso, principalmente na área de alimentação, vemos players líderes tradicionais perdendo clientes para as ágeis e novas empresas e startups ganhando adeptos, notadamente em função da maior destreza do consumidor em pesquisar e realizar experiências sugeridas pelos algoritmos.”

Considerando-se plenamente inserido nesse conjunto de reflexões, uma vez que a Typcal nasceu justamente com uma nova proposta de alimentação plant-based, Guilherme fez um resumo da proposta de valor da marca. Iniciando com molhos e condimentos desprovidos de conservantes e se utilizando de produtos naturais, partindo em seguida para proteínas à base de plantas, a preocupação da empresa agora é refletir sobre a questão dos preços cobrados dentro do segmento plant-based. “Para tornar essas novidades mais acessíveis a todas as classes sociais, muitos sacrificam a qualidade em prol de preços mais baixos, mas esse caminho fatalmente leva a uma crescente percepção do consumidor sobre as mudanças negativas.” Dessa forma, ele assegurou que a Typcal, fazendo uso de tecnologia, vai chegar à proteína vegetal por meio de um sistema de fermentação que diminui para apenas três os ingredientes que muitas vezes chegam a um número de 15 nos similares existentes hoje no mercado. Para ele, esse é o caminho para poder concorrer, em preços, com a indústria da proteína animal, sem perder o diferencial da qualidade.

Enquanto Leonardo, cuja empresa, criada em 2021, se especializou na alimentação para bebês à base de produtos orgânicos, considera muito relevante o dado exposto pelo diretor da Kantar no aspecto da velocidade imposta hoje na competição de mercado em função do acesso dos consumidores à informação. Para ele, acompanhando números de um levantamento feito no setor de orgânicos, segundo os quais mais de 80% das consultas feitas pelos consumidores para decisões de compra são por canais digitais, o cenário atual favorece a democratização das oportunidades oferecidas ao mercado. “É dessa forma que os consumidores podem ter acesso às novas propostas mais alinhadas às suas expectativas, hoje bem mais voltadas às questões de saúde e de bem-estar, fatores nos quais se inserem, de forma preponderante, os hábitos alimentares. Foi justamente respondendo a essa nova realidade que vislumbramos a oportunidade para o surgimento da Papapá, verificando a preocupação dos pais em busca de alimentos mais saudáveis para seus recém-nascidos.”

Conclusões essas plenamente endossadas por Saulo que, salientou haver nascido nele mesmo o maior interesse por alimentos orgânicos depois do nascimento de sua filha e de um período de moradia na Alemanha, onde, garantiu, todo o comércio de frutas e vegetais funciona respeitando completamente a sazonalidade dos mesmos. Exemplificando com números o baixíssimo nível na oferta de produtos orgânicos em quaisquer tipos de mercados no Brasil – “um País com imensa variedade de frutas, verduras e mais de cinco mil plantas comestíveis” -, ele explicou que a Diferente nasceu por meio da descoberta de uma forma criativa de corrigir parte dessa distorção. A empresa entrega semanalmente uma cesta contendo ampla variedade de orgânicos, parte deles adquiridos, a custos reduzidos, no varejo em momentos próximos ao descarte, mas em totais condições de consumo ainda. Ou seja, o que permite, segundo Saulo, eliminar uma das principais barreiras do consumo massivo de orgânicos que são os preços. “Além de diminuir o desperdício de alimentos e, ao mesmo tempo, favorecer o pequeno produtor agrícola.”

A conversa seguiu respondendo a diversas questões levantadas pela audiência, principalmente sobre as perspectivas desses novos hábitos de consumo alimentar e as condições de concorrência no universo da indústria no segmento. O vídeo, na íntegra, está disponível em nosso canal no Youtube, o ClienteSA Play, junto com as outras 740 lives realizadas desde março de 2020. Aproveite para também se inscrever. A Série Lives – Entrevista ClienteSA retorna na segunda-feira (24), trazendo Adriano Almeida, COO e co-fundador da Alura, que abordará a construção de uma comunidade de aprendizado em tech; na terça, será a vez de Gustavo Petry Custódio, gerente nacional de marketing Fort Atacadista; na quarta, Sarita Besada, diretora de experiência do cliente do QuintoAndar; e, na quinta, Jordan Rizetto, vice-presidente e diretor geral da Herbalife Nutrition.

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