David Politanski, fundador do Sweet Secrets e head de vendas Latam do Google

Como manter o mistério em tempos de exposição: desafios de um speakeasy na era digital

O segredo não é uma necessidade, mas é parte do jogo para atrair um público que procura por um clube de membros, um espaço único, mas que não abre mão de um lugar mais intimista

Autor: David Politanski

O mundo moderno vive em uma era de superexposição. Redes sociais ditam o ritmo das novidades comerciais e despertam nos seres humanos um desejo insaciável de compartilhar detalhes, o que transforma simples ações cotidianas em espetáculo para seus seguidores. Isso representa um desafio muito grande para speakeasies, ou bares secretos. 

O momento atual cria um paradoxo interessante no ramo: como preservar toda a mística peculiar de um speakeasy e, ao mesmo tempo, usar as redes sociais para atrair e engajar? Ou ainda, como evitar que toda a exposição exacerbada quebre o encanto de um estabelecimento que tem no mistério e na exclusividade dois de seus principais pilares? Equilibrar esses dois lados é uma dura missão que só pode ser vencida com criatividade, autenticidade e, principalmente, ações muito bem arquitetadas e desenvolvidas.

O conceito de um speakeasy nasceu nos EUA na década de 20, na era da Lei Seca, quando os bares, proibidos por lei, precisavam “se esconder” em estabelecimentos comerciais de outras naturezas. Hoje em dia, o segredo não é uma necessidade, mas é parte do jogo para atrair um público que procura por um clube de membros, um espaço único, mas que não abre mão de um lugar mais intimista, preservado, e que funciona também como uma poderosa ferramenta de branding. Quando se insinua algo escondido, atiça um senso de exclusividade e curiosidade. Por isso, é essencial cuidar dos detalhes: entrada discreta, acesso restrito, e explorar a ideia tão fascinante de que só quem esteve presente sabe do que se trata.

O mistério não significa a ausência de divulgação. É possível a presença em redes sociais sem divulgar imagens e detalhes do local, mas trabalhando a curiosidade do público; provocando-o.  Para esse fim, é importante investir nos conteúdos certos: sugestivos, que instiguem e despertem a curiosidade com produtos (bebidas e comidas) ou partes específicas do local.  As redes sociais também podem ser utilizadas para contar sobre eventos, da filosofia e inspiração do speakeasy. 

No mundo on-line, onde informações costumam ser rápidas e frequentes, brincar com a expectativa, é uma estratégia ousada. Ao publicar e propositalmente não revelar todo o segredo, atiça o desejo do público de vivenciar a experiência. E, se essa for a linha de comunicação oficial do estabelecimento – não postar nada diretamente – é importante manter o seu público informado para que eles não alimentem informações na internet que possam atravessá-la. Exemplo: informar a todos que a geração de conteúdo dentro da casa é proibida. 

No fim do dia, é benéfico a ambas as partes, estabelecimento e frequentadores, pois é uma chance de quem visita se desconectar do mundo virtual e desfrutar da experiência singular que este tipo de espaço pode proporcionar. 

Não é um trabalho que perseguirá volume, seja de seguidores ou curtidas, nas redes sociais; o crescimento é muito mais direcionado para impactar um público específico. Cada postagem deve ser bem pensada para conversar profundamente com os seguidores atuais e em potencial. O segredo está em, justamente, não se desvirtuar da principal premissa de um speakeasy: manter-se anônimo para o público geral e conhecido para um público seleto.

David Politanski é fundador do Sweet Secrets e head de vendas Latam do Google.

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