Encontro na entidade analisou tendências para concessão de créditos, formalização de lojas de revendas e ineficiências junto ao setor automotivo
Apesar dos grandes avanços tecnológicos direcionados para o setor financeiro, ainda existem alguns fatores acerca do financiamento de veículos que precisam de respostas. Por exemplo, como tornar a contratação do financiamento de carro descomplicada e segura para o cliente? Ou como diminuir a hipótese de perda da instituição financeira? Essas foram algumas questões debatidas no “Panorama do Mercado de Veículos 2023”, evento realizado pela Acrefi – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento, com o intuito de entender mais sobre esse cenário e sobre as tendências e transformações da concessão de crédito no setor automotivo.
Reunindo especialistas do setor, o evento abordou a importância da tecnologia na jornada e experiência do cliente durante a concessão de crédito para veículos. Os debatedores também analisaram os desafios acerca da recuperação do bem por causa da inadimplência e a importância do registro nacional de veículos para a formalização do setor de revendas e para evitar fraudes e golpes. João Carita Junior, vice-presidente da Acrefi e sócio-diretor da SF3 Financeira, fez a abertura do encontro, seguido de Jamil Ganan, superintendente executivo de negócios e produtos de varejo do banco BV, comentou sobre a importância e os desafios das instituições financeiras de inovar tecnologicamente para manter a agilidade e segurança no financiamento de crédito para veículos.
Experiência e ecossistema tecnológico
“É cada vez mais o nosso entendimento estar presentes desde o momento de pesquisa do cliente para comprar um carro e ao longo da vida e de possíveis compras de outro carro. Então isso envolve o uso e a manutenção de todo um ecossistema tecnológico que permeia todo esse histórico, o open finance, ferramenta fundamental para uma organização e curadoria dos dados no momento de concessão de crédito”, afirmou Ganan.
Ele ainda abordou os testes de psicometria como uma alternativa de mensurar o risco de financiamento. “Basicamente a psicometria é uma tentativa de fazer uma qualificação e de colocar, em modelos numéricos, as respostas ligadas à psicologia para questionar sobre as preferências e capacidade de pagamento do cliente. Toda essa inteligência, que é essencial, vem cada vez mais nos capacitando a conceder crédito com qualidade, porque a gente quer conceder crédito, mas conceder tendo portfólio saudável, porque isso que move o mercado. O desafio para nós e para todos os bancos, é entender aquilo que está acontecendo no mercado”.
Por sua vez, Mayara Arci Rezeck, Commercial Strategy Superintendente do Itaú Unibanco, ressaltou que a barreira inicial da fase 3 do open finance é a falta de conhecimento e entendimento, porque é um dado muito sensível. “Porém, apesar dos desafios existem três pilares principais que ajudam na expansão e na comparação de propostas de crédito, e relação de cliente e instituição financeira. Esse sistema traz benefícios claros em três pilares. Primeiro para o mercado de crédito, que é um mercado de margens apertadas e com altos custos de retomada, mas quanto mais certeira foi essa proposta há um potencial de barateamento natural e de expansão de concessão de crédito. O segundo benefício é a hiperpersonalização, dando ao cliente o poder de comparabilidade entre as propostas. E o terceiro trata da questão dos novos canais de comunicação, pois a tendência é que a interação seja muito mais fluida e digital entre cliente e instituição. O desafio está em se preparar em relação à experiência do cliente, porque ele vai ficar mais exigente e ter mais poder de comparação”.
Enquanto para Enilson Sales, presidente da Fenauto – Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores, a dificuldade e a importância de regularizar a obrigatoriedade do Registro Nacional de Veículos em Estoque (Renave) para o mercado de seminovos e usados no Brasil. Para ele, essa prática ajudará a padronizar o trabalho das revendas, além de expandir o portfólio de compras de clientes. “O mercado, principalmente o mercado de multimarcas, depende fundamentalmente do crédito, e quando o crédito fica restrito, por qualquer problema seja inadimplência ou não recuperar o bem, ou ficar restritos só aos veículos novos, afeta ainda mais o setor de revendas. É importante frisar que o Renave surgiu de uma necessidade de trazer mais crédito para as lojas de seminovos e usados. Contudo, no cenário atual, a gente encontra dificuldades em regularizá-lo nos estados”.
Sales lembrou que, atualmente, o registro de veículos novos está em todos os estados do Brasil, mas o Renave de seminovos e usados está restrito a apenas sete estados por causa das normas regionais. “O seminovo deve girar do mesmo jeito que o novo, por isso tem que fazer o registro. Entre todos os benefícios, o principal é o da formalização na categoria, além de trazer mais segurança para oferecer crédito, porque diminui o risco de fraudes e golpes”.
Já pensando no pós-compra, Cezar Janikian, head de Financeiras e Coligadas Auto do Santander, comentou sobre o projeto de lei PL 4.188/21, do Marco Legal das Garantias, que prevê a possibilidade de busca e apreensão extrajudicial em caso de inadimplência. E também, ressaltou sobre a ineficiência do processo de apreensão de crédito. Para Janikian, a melhor forma de melhorar esse processo é definindo um arcabouço judicial e a instalação de um rastreador no veículo. “Regular a questão do rastreador no veículo é uma ferramenta super importante para agilizar a questão da retomada. Essa ainda é uma prática piloto, mas nos poucos rastreadores que testamos já se nota que com um equipamento instalado o processo de retomada performa muito bem. Mas eu acho que a questão é um pouco mais ampla, não é só no rastreador, mas desde provocar as instituições a olhar mais a questão do ecossistema como um todo, de como a gente regula melhor e para facilitar esse processo”.
Apreensão do bem
Wilson Diniz, Superintendente Executivo de Veículos do Banco Pan, abordou sobre os cenários de perda, seja por motivos de inadimplência ou de fraude, pela ótica de uma instituição financeira. “Na tomada de decisões para redução de perda dentro de qualquer instituição é necessário analisar e refinar os dados, é um processo bem demorado, mas fundamental. Em relação a fraude, é importante se blindar com práticas e dispositivos para evitar golpes, e claro, sempre conscientizar o cliente de que não existe duende, no caso de um carro vendido mais barato do que previsto pelo mercado”, ressalta o superintendente executivo.
Já sobre o tema da apreensão do bem, para ele essa é uma pauta que precisa de evolução. “A tecnologia trouxe velocidade, trouxe uma jornada mais fácil, simples e rápida, mas em relação à recuperação e a retomada, isso não evoluiu e continua do mesmo jeito. E isso precisa evoluir para que de fato consiga dar um crédito mais seguro e um serviço completo. Ainda assim, até lá, tem que ser criativo, e se cercar de dispositivos tecnológicos no mercado para tentar ser o mais assertivo possível”.