Endividamento das famílias paulistanas

Apesar do esforço das famílias paulistanas para ajustar o orçamento em decorrência da crise, a inflação elevada e o aumento do desemprego as levaram a voltar a se endividar e, em março, 51,6% delas tinham alguma dívida, sendo que, em fevereiro, a proporção era de 51,1%. Em relação ao mesmo período do ano anterior, quando o valor estava em 42,3%, houve aumento expressivo de 9,3 pontos percentuais. Em termos absolutos, o número de famílias endividadas passou de 1,959 milhão em fevereiro para 1,979 milhão em março. Na comparação com o mesmo mês de 2015, houve alta de 461 mil famílias com dívidas.
 
Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). A entidade reforça que o retorno do endividamento para a casa dos 50% em um ano sinaliza que a renda disponível já não é suficiente para honrar os compromissos financeiros das famílias. Se esse comprometimento de renda continuar crescendo, haverá maior inadimplência nos próximos meses. Ainda, segundo a federação, o efeito da inflação, principalmente nos bens não duráveis, como alimentos, diminui a renda do consumidor, que se endivida mais a cada dia para tentar manter seu padrão de vida.
 
A proporção de endividados é maior entre as famílias com renda inferior a dez salários mínimos (54,2%), com queda de um ponto percentual em relação a fevereiro e alta de 10,4 p.p. na comparação com março de 2015. Nas famílias que recebem mais de dez salários, a parcela de endividados foi de 44,2%, 4,8 p.p. acima do registrado em fevereiro e 6 p.p. superior ao valor de março do ano passado. Com relação aos prazos das dívidas, a pesquisa revelou ainda que 35,2% das famílias comprometeram sua renda por mais de um ano; 24,1% possuem débitos com prazos de até três meses; 19,2% entre seis meses e um ano; e 18,7% das pessoas com dívidas de três a seis meses.
 
Inadimplência
Em março, 18,4% das famílias paulistanas disseram estar com as contas em atraso (o maior valor desde outubro de 2013), alta de 1,3 p.p. em relação ao mês anterior. No comparativo com o mesmo mês do ano passado, o indicador apresentou alta de 7,7 p.p., a maior alta da série histórica nessa base de comparação – em março de 2015, a proporção era de 10,7%. Em números absolutos, o total de famílias com contas atrasadas atingiu 705 mil.
 
Entre as famílias com contas em atraso, 49,8% delas afirmaram ter débitos vencidos a mais de 90 dias; 24% têm contas atrasadas entre 30 e 90 dias; e 25,2% do total de famílias estavam com dívidas atrasadas por até 30 dias. A inadimplência é maior nas famílias com menor renda. Entre as que ganham até dez salários mínimos, 22,7% estão com contas atrasadas – alta de 9,9 p.p. na comparação com os 12,8% registrados em março de 2015. Segundo a assessoria econômica da FecomercioSP, as famílias com menor renda sentem mais os efeitos da inflação e da alta de juros. Para essa faixa da população, onde qualquer imprevisto pode desequilibrar suas finanças, o crédito representa um importante meio de inclusão aos padrões de consumo e é a única forma de acessá-los.
 
Nas famílias que recebem mais de dez salários, apenas 7,8% delas têm dívidas atrasadas – elevação de 2,4 p.p. em relação ao mesmo mês do ano passado. Em março 6,7% das famílias acreditavam que não teriam condições de pagar total ou parcialmente suas contas no mês seguinte. Esse percentual era de 3,7% no mesmo período de 2015. Em números absolutos, existem 255 mil famílias que estão nessa situação.
 
Tipos de dívida
O cartão de crédito permanece o principal meio de endividamento das famílias em março e foi utilizado por 70,9% dos endividados. Na sequência, estão financiamento de carro (15,9%), carnês (15,7%), crédito pessoal (12,3%), financiamento de casa (11,9%) e cheque especial (10,1%). Na comparação com fevereiro, houve aumento de 0,8 p.p. na proporção de famílias endividadas no cartão e na análise anual foi registrada alta de 11,6 p.p.
 
Segundo a assessoria econômica da federação, diante de preços mais altos e queda da renda, muitas famílias estão recorrendo ao parcelamento da fatura ou ao rotativo do cartão de crédito na tentativa de ganhar um fôlego no orçamento. Os economistas da entidade alertam, porém, para os elevados juros da modalidade (que estavam em 15,2% ao mês em fevereiro, segundo dados do Banco Central), que podem levar à desorganização das finanças pessoais e aumentar o risco de inadimplência.

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