O número de consumidores com contas atrasadas no mês de março aumentou 3,76% em relação a março do ano passado, de acordo com o banco de dados ao qual o SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) têm acesso. Este resultado representa uma aceleração, quando comparado com a sondagem de fevereiro deste ano (2,33%), mas fica muito próximo da alta registrada em março de 2014, quando o aumento fora de 3,46%. Em números absolutos, o SPC Brasil estima que em março deste ano havia 54,7 milhões de consumidores negativados, número equivalente 37,50% da população entre 18 e 95 anos.
Existem dois fatores que atuam de forma contrária sobre os números de inadimplência, que mantêm as variações positivas em relação aos dados do ano passado, mas sem fazer com que haja uma tendência declarada de aceleração. O primeiro deles diz respeito aos efeitos da atual conjuntura macroeconômica desfavorável, que têm dificultado o pagamento das contas de um modo geral ― por conta da inflação elevada, do alto custo das taxas de juros e da piora dos dados de emprego e de renda ―, o que naturalmente tende a elevar os índices de inadimplência. Por outro lado, houve a partir de 2013 e com mais intensidade em 2014, um recuo na demanda e na oferta de crédito na economia brasileira, o que tende a frear o consumo de bens dependentes do crédito e, consequentemente, reduzir a inadimplência do consumidor.
“Os varejistas brasileiros já notam uma queda na demanda dos consumidores por produtos de maior valor agregado e dependentes de financiamento como eletrodomésticos da linha branca, automóveis, móveis e materiais de construção”, afirma o presidente da CNDL, Honório Pinheiro. Já pelo lado dos bancos, a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, explica que as instituições financeiras passaram a ser bem mais rigorosas e criteriosas na hora de conceder financiamentos, fato que colaborou a reduzir a oferta de crédito na economia.
Bancos é o setor credor que concentra a maior fatia do total de dívidas em atraso no banco de dados do SPC Brasil, com 47,71% ― representando quase a metade das pendências da base. O comércio vem em segundo lugar, com 20,42% do total. A maior contribuição para a alta anual de 3,46% veio justamente do setor de bancos, que além de concentrar boa parte das dívidas, apresentou variação acima da média, de 4,55%, em relação a março do ano passado. “Isso significa uma contribuição de 2,15 pontos percentuais”, afirma Kawauti.