Em meio a deterioração da economia brasileira vista no primeiro semestre do ano, o mercado de crédito imobiliário parece fugir à regra. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança, Abecip, nos seis primeiros meses do ano foram desembolsados R$49,6 bilhões em empréstimos com recursos da poupança. Em entrevista exclusiva ao Portal, o economista da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo, explica como cenário pode ser melhor aproveitado pelas empresas de crédito e cobrança.
ClienteSA – Como você avalia o mercado de crédito imobiliário neste primeiro semestre? Quais são as perspectivas em longo prazo?
O crédito imobiliário vem apresentando maior taxa de crescimento do que as demais modalidades e esta deve ser a tendência para o próximo ano. Além de ser um crédito com garantia há um grande empenho do governo na expansão da habitação, que se reflete na atuação agressiva dos bancos públicos e nos estímulos fiscais concedidos ao setor.
Como a conjuntura econômica atual está se refletindo neste cenário?
Como a economia é um sistema de vasos comunicantes, a evolução da conjuntura influencia o crédito imobiliário, assim como as demais modalidades de financiamento. A baixa taxa de crescimento esperado do PIB se reflete no mercado de trabalho, com menor expansão do emprego e da renda. Também o grau de endividamento do consumidor tem influência na oferta de crédito, embora, no caso do imobiliário, isso ainda não venha influenciando.
Quais são os desafios das empresas frente a este mercado?
O mercado de crédito imobiliário, devido aos prazos mais longos do financiamento, depende muito da confiança do consumidor, sua segurança na manutenção do emprego e da renda e sua perspectiva em relação ao futuro. Um dos maiores riscos para esse mercado é o de um eventual aumento expressivo da inflação, porque não apenas afeta a confiança do consumidor, como dificulta o cálculo econômico e a fixação das taxas de juros. Não se vislumbra, no momento, risco de perda de controle da inflação, mas sua persistência em patamar elevado, superando o centro da meta ( 4,5% que já é elevado) já provoca distorções.
O senhor acredita que o mercado de crédito imobiliário é a grande aposta das empresas recuperadoras de crédito?
Apesar de alguns riscos mencionados, o mercado de crédito imobiliário ainda deve continuar a se expandir a taxas elevadas. Sua inadimplência tem sido, e deve continuar sendo, menor do que a das demais modalidades. Embora se trate de um crédito com garantia real, o que, em tese, facilita a recuperação, como a grande expansão vem se dando nas faixas de renda mais baixas da população, é um segmento bastante sensível na defesa do devedor, o que exige políticas de recuperação de crédito muito bem elaboradas. É um mercado em expansão, mas com características específicas que não podem ser ignoradas.